terça-feira, dezembro 17

A moda de André requer nova aura

É mais que sabido. Se um treinador ganha, e convence, pode ir para o banco vestido como quiser, com a barba e penteado que quiser e ter, lá, a atitude que quiser, que isso tornar-se-á sempre moda. E essa é uma palavra que está directamente ligada com o treino, pelas sensações que o discurso, plano de jogo e, essencialmente, os resultados provocam. Ora, André Villas-Boas sabe-o bem. Ele que quando saiu do FC Porto - com Liga, Taça de Portugal e Liga Europa no bolso - se tornou o técnico da moda na Europa. A aura de quem ganha tudo suplanta a razão e mais não quis o Chelsea, quando o levou da sua 'cadeira de sonho' até Stamford Bridge, do que emular as conquistas que o jovem técnico havia conseguido em tão pouco espaço de tempo.

E tudo isso foi sempre uma questão de crença ou até, se quisermos, de fé. A experiência com Mourinho - um dos pioneiros da moda (ele que tornou em ícones o bloco de notas, o sobretudo, o discurso agressivo e confiante e a barba por fazer) - havia corrido bem e o jovem AVB era o sucessor ideal para voltar a fazer com que Stamford Bridge se tornasse de novo atraente para o Mundo do futebol. É que depois de Mourinho, nem com a Liga dos Campeões (conquistada com um futebol extremamente aborrecido) o tornou a ser. Mas André não vingou. E não vingou sobretudo porque foi traído. Foi-lhe prometida a renovação total de um plantel que seria, supostamente, escolhido por si, mas a manutenção dos 'eternos' colocou em causa a sua liderança no balneário dos blues. AVB começou por agir como se eles não estivessem lá mas as suas presenças foram reclamando lugares no 'onze', adiando a prometida renovação - que deveria ter acontecido no defeso.

E, claro, uma casa dividida entre si nunca, por nunca, subsiste. Villas-Boas acabou por sair do Chelsea numa altura em que o FC Porto ainda não tinha formado o líder Vítor Pereira. O técnico de Espinho não conseguia impor o seu jogo e os resultados, e futebol, apresentados nunca chegaram a convencer na primeira época aos comandos do Dragão. Mas AVB refutou sempre a hipótese de voltar à Invicta pois não lhe interessava regressar ao ponto de partida, e à zona de conforto, mas sim tentar provar que o seu talento chegava para a Premier. A sua aura chegava ainda para haver interesse britânico e foi o Tottenham a dar-lhe a mão e a oportunidade de mostrar se o seu futebol realmente se compadecia com o efeito criado na época 2009/10.

Uma experiência que conheceu, nesta segunda-feira, o seu fim. Um término que nunca terá que ver com uma primeira época em que os spurs lutaram, até à última jornada, pelo objectivo principal (quarto lugar) e em que chegaram aos quartos-de-final da Liga Europa. No entanto o futebol esteve sempre algo longe do rótulo que o próprio AVB criou. A aproximação às ideias de Pep Guardiola, e ao seu Barcelona, não encontraram paralelo numa ideia de jogo que subsistiu sempre mais pelos intérpretes do que pelo colectivo. A liberdade total dada a Gareth Bale fazia sentido, mas um meio-campo pouco criativo juntamente com o cariz vertical dos restantes jogadores fez cair a posse-de-bola no esquecimento.

Daí que tenha dado sempre a ideia de que AVB queria outras características no seu plantel. Algo que ficou provado nas compras feitas com o dinheiro realizado após a inevitável saída de Bale para o Real Madrid. Se na primeira época o técnico lutou pela permanência de Modric e acabou sem nenhum criativo no plantel (Van der Vaart saiu em janeiro), as compras de Eriksen e de Paulinho começavam a desenhar um Tottenham mais dono e senhor da bola. Juntamente com um avançado mais posicional e, muito menos, vertical que Defoe (Soldado), os spurs foram sempre senhores da bola quando o dinamarquês esteve em campo. As boas sensações haviam voltado a White Hart Lane, com períodos de futebol extremamente apetecível. O problema para o técnico é que o seu maestro é de cristal e as suas lesões não auguravam uma utilização regular. E sem ele, o jogo dos spurs tornou-se tão amorfo - em termos de oportunidades - criadas como se o futebol se tratasse de um jogo sem balizas.

E o problema de não criar não é só o de marcar pouco. Também a defesa fica demasiado exposta, e a dos spurs foi, sempre, reconhecidamente o calcanhar de aquiles da equipa. Se excluirmos o guardião Lloris, o único defesa de classe mundial que AVB teve à disposição foi Vertonghen. E se os laterais ainda escapam (Rose e Walker), os restantes centrais (Kaboul, Dawson e Chiriches) são de um nível que em nada tem a ver com a competitividade da Premier. O desastre que atirou AVB para fora de White Hart Lane (leia-se goleadas frente ao City e ao Liverpool) tem, então, muito que ver com a relação plantel-sistema de jogo-linha defensiva. Nunca teve um maestro que lhe potenciasse um sistema de jogo que lhe segurasse a linha defensiva. Mas dito assim, pode parecer que Villas-Boas não teve responsabilidade na formação do seu plantel. Teve tempo e dinheiro para formar uma linha defensiva e teve sempre Lamela (o único que podia chegar aos níveis de Eriksen) no banco ou na ala. E, por isso, foram também erros próprios a dar origem a dois resultados que não se compadecem com o que a aura e discurso do técnico prometeram. Os spurs não podem perder por 6-0 e por 0-5 num curto espaço de tempo e ao mesmo tempo quererem afirmar-se como uma das equipas mais fortes da Premier. Não o são, não o foram e ainda que o pudessem vir a ser não chegaram a tempo de salvar a aura de André.


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6 comentários:

  1. Em época de crise e ainda com 36 anos nao se poderá queixar muito.....

    http://www.jn.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=3591543

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  2. Sem saber ler nem escrever leva com duas indemnizações brutais...

    Há gajos com uma sorte incrível na vida.

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  3. LOl ao comentário do Pedro(SLB).

    Com 36 anos, com 1 campeonato e 1 Liga Europa é muito mau treinador.

    Que dizer do Jesus...em 4 anos 1 campeonato,3 titulos perdidos...4.2 milhões/ano....sem saber ler, escrever, nem fazer pinturas numa sebenta.

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