quinta-feira, fevereiro 18

Perceber o Signal

Reus, Aubameyang, Mkhitaryan, Kagawa, Hummels, Gundogan... O Borussia Dortmund reinventa-se (poderiam contar com Götze, Lewandowski...) e não chora pelo passado. Um pouco à imagem de Benfica e, do seu adversário desta quinta-feira, FC Porto, o clube de Dortmund vê sair as suas pérolas mas, ao contrário dos lusos, vê algumas voltarem (Sahin, Gundogan e Kagawa), o que só por si já diz muito da diferença de poderio financeiro para os dois clubes portugueses referidos (no campo de vendas milionárias no qual o Sporting se incluirá a breve prazo). Isto porque para David Luiz, Otamendi, Di Maria, James, Witsel, Hulk... voltarem, os salários teriam de ser infinitamente superiores. Já o Borussia Dortmund pode perder os já referidos Götze e Lewandowski, mas pode recuperar aqueles que não se afirmaram noutras paragens e, ainda assim, manter o seu Marco (Reus). Pelo meio, vai segurando também o seu cobiçado patrão (Hummels) e arranjando maneira de lançar Aubameyang e Julian Weigl - uma interessante espécie de Rúben Neves que pontifica no meio-campo defensivo dos alemães. Mas o que realmente define este colosso, para além da espectacular relação com os adeptos e do vibrante ambiente do Westfallenstadion (Signal-Iduna Park), é a aposta, muito germânica, no modelo de jogo. Foi-se Klopp, mas agora há Tuchel. A mudança trouxe diferenças, óbvias, mas o perigo mantém-se para quem visita Dortmund. 

Então porquê fazer as malas e seguir viagem? Com um só central de equipa A, sem o lateral mais experiente da equipa e sem o equilíbrio de Peseiro no 'miolo' (Danilo), o FC Porto não verá muitas apostas feitas em seu nome. Na mente segue o fantasma de Munique (onde Danilo, Alex Sandro e o próprio FC Porto cumpriram castigo) e longe dela está já a esmagadora vitória em Bremen (0-5, 30 de março, 1994). Jogos que não contam porque o futebol continua, e continuará, a dar oportunidades para mudar o rumo das histórias. Ou, pelo menos, não deveriam contar. No entanto, olhando para a maioria das deslocações dos portistas às mansões dos colossos, a mente volta a fazer das suas. Será da intensidade do Allianz? do carrossel do Emirates? Resta aos dragões o Teatro dos Sonhos, onde, ainda assim, se ganham empates de quando em vez.

Isto para lembrar que qualquer resultado positivo na casa de um colosso é épico. Sobe o patamar dos jogos comuns e torna-se daqueles onde os jornais, simbolicamente, atribuem nota 10 a todos os jogadores. É incrível, é fantástico, é maravilhoso, mas não deixa de ser futebol. Porém, para além dos golos que entram (a mais do que os do adversário), é a preparação, a todos os níveis, de uma equipa que joga fim-de-semana a fim-de-semana com margens de erro muito mais elevadas (ninguém compare a Liga NOS à Bundesliga), que conta. Essa [preparação] e o estudo aprofundado do adversário. É esse que debela os mitos e é esse que, juntamente com a crença nas próprias capacidades, que eleva a probabilidade de se fazer história. E, olhando para este Borussia, há um paralelo curioso com o passado (bem) recente dos dragões.


Olhando para o Borussia, dizia, vêem-se os germânicos estendidos no relvado. Hummels vai conduzindo, Subotic abre e Weigl ou Gundogan baixam. Fazem-no junto da linha que marca o  meio-campo, ou até mais à frente, se o adversário o permitir. Esse remete-se, normalmente, aos últimos 40 metros. Os laterais aproveitam então para subir. Gundogan sobe e estabelece-se mas, enquanto vamos buscar salgados ou coisa que o valha para apreciar um dos futebóis mais trendy da Europa, reparamos que, apesar de os extremos pedirem por dentro e de Kagawa se posicionar entre-linhas, começa a faltar qualquer coisa. Qualquer coisa que, na Bundesliga, define quem fica em primeiro e quem fica em segundo. É aqui, que depois de algumas dezenas de minutos a seguir a equipa de Tuchel, o paralelismo com o FC Porto de... Lopetegui fica evidente.


Não deixa de ser curioso que, depois de ter mostrado estofo para ganhar na Luz (discuta-se o resultado, as oportunidades adversárias e Casillas, mas não se discuta o facto de que o FC Porto não quis e fez para ganhar), José Peseiro tenha de fazer o primeiro jogo europeu pelos portistas contra um modelo extremamente semelhante ao do seu antecessor. É, o futebol tem destas coisas. Mas o Zé - aquele que os dragões querem que seja o novo Zé - não tem tempo para se perder em romantismos. Há que fazer com que essas semelhanças se tornem a favor da sua nova entidade patronal. Um pouco como, se quisermos, fez, quando encontrou uma equipa que não sabia o que era o corredor central. E a noção que fica do Borussia é, também, essa. Muita, muitíssima, posse pelas faixas - onde é mais segura mas menos perigosa para o adversário - mas pouca incursão dentro do bloco do opositor (apesar de várias unidades posicionadas aí). Pelo contrário, a [posse] que Peseiro defende, não é passiva, não tem tanta intenção de controlar por si só mas, incisiva, quer acabar dentro da baliza.


Estarão então, mais logo, lá para as 6 da tarde, dois estilos completamente diferentes em questão. De um lado o lateralismo controlador do Dortmund - que a espaços, tal como o anterior Porto, vai encontrando umas chegadas à área, e uns movimentos interiores bastante perigosos -, do outro um FC Porto que gosta de jogar no meio-campo adversário ferindo-o com tabelas e tabelas por dentro. Tudo isto faz com que se torne óbvia a melhor arma dos portistas para a 1.ª mão destes 16 avos-de-final: a pressão alta. Só impedindo a saída-de-bola germânica é que o FC Porto não acabará remetido ao seu meio-campo e poderá, sequer, sonhar em marcar fora nesta eliminatória. Por outro lado, sem dividir o jogo, o FC Porto evitaria as transições (quase suicidas) que tem mostrado o seu novo futebol. É José Peseiro quem o diz, lembro, em relação às suas equipas: em organização raramente temos problemas.

Contudo, assentar um jogo desta importância na organização defensiva, sem ter Maxi, Marcano e Danilo, tendo que confiar nos devaneios (e falta de qualidade de Indi), num qualquer júnior - que não aquele que já deu provas (Chidozie) - e na menor capacidade de Rúben Neves para ganhar, sozinho, o meio-campo defensivo (urge que o puto se inspire cada vez mais na capacidade de antecipação), dará que pensar. Depois, há o velocista Aubameyang para fazer tremer aqueles que se lembram das crateras mostradas na Luz enquanto o FC Porto se tentava estabelecer no meio-campo do Benfica. Dá muito que pensar, não dá? Seja então aquilo que Peseiro quiser. O Dragão está à espera de um Signal.

5 comentários:

  1. Boa cronica, sinceramente acho que o Porto não tem qqr hipóteses contra o Dortmund. A diferença de qualidade e de ritmo é enorme e só 1 jogo épico poderá trazer a eliminatória para o Dragão.

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  2. Com as ausências fica realmente (ainda) mais difícil. Talvez se superem, vamos aguardar =)

    Abraço!

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  3. Com tanto post de qualidade até me sinto tentado em terminar com a saga do "Sporting revisitado". Mas tenho aqui tanta coisa já para publicar que não vai dar :P

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  4. Sim, sim, não pares nunca. Tem sido um fartote! hehe

    Marco, até me dá alguma pena de ver estes post misturados com aquelas coisas.
    Mas por outro lado, já é assim há tanto tempo...

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  5. O que eu gosto no sector é a liberdade total. Não vou ser eu a dizer que isto, ou aquilo, não têm lugar aqui. É um blog, com adeptos dos três grandes, e a picardia é uma coisa certa.

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