segunda-feira, outubro 8

À identidade de Vítor não lhe basta parecer séria

Depois do clássico de domingo, continuam as incogruências e indefinições do futebol do FC Porto. Se a exibição de quarta-feira (frente ao Paris Saint-Germain) foi classificada de 'muito boa', a performance dos dragões frente ao Sporting esteve, reconhecidamente por todos, uns bons 'furos abaixo'. O que mudou? é a pergunta. A resposta tem sido dada em campo mas ao que parece fica difícil de entender para quem se ilude com os 'fogachos' deste dragão. A entrada, e os primeiros 15 minutos foram superiores, ficando guardada para depois toda a falta de ideias e soluções da equipa portista. O jogo acaba com uma diferença sobranceira de dois golos que em nada espelha a produção da equipa. A exibição fica até fácil de ser rotulada com a desculpa mais usada em rescaldos: a abitragem.

Começar pelo que mais interessa seria certamente um erro. Que o futebol foi fraco é assunto para outros parágrafos, mais a mais quando, segundo grande parte da opinião, houve influência directa do árbitro da partida no resultado final. Não querendo fugir ao assunto, tenho a noção que o Porto dificilmente chegaria a uma vantagem de dois golos não fosse um erro do árbitro. Analisando a prestação de Jorge Sousa fica-me na retina um erro, quando noutras retinas eles serão mais. Falo do segundo penálti assinalado, aquele que confere a tal vantagem que soa enganadora. Porém outros lances merecem atenção. Um deles (o outro penálti) é analisado segundo o critério da conveniência. Cédric toca a bola com o braço dentro da área e parece-me evidente que não tem como não ser marcado penálti. Outros critérios se basearão na intenção, que é algo (modo irónico ligado) fácil de medir, em segundos, para qualquer árbitro. A lei é dúbia e permite as queixas, ainda para mais quando durante o jogo não foram assinaladas duas 'mãos' (Lucho e Moutinho) a jogadores portistas. Outra das incidências que provoca dúvida é a expulsão de Rojo. O 'central' (será mesmo central?) parece-me bem expulso. Algum dos cartões provocar dúvida é normal (que o diga James). O que não é normal é o jogador já ter um cartão e cometer aquela barbaridade antes de ver o segundo.

Clássico decidido por Jorge Sousa? Não me parece. Outro resultado que não a vitória do FC Porto teria que estar sempre ligado a outra produção no último terço por parte do Sporting. A equipa de Vítor Pereira entrou de rompante e à procura do golo, criando ocasiões e domínio suficientes que culminaram numa obra-prima de Jackson Rodríguez. Foram 15 minutos de Porto com 'identidade', 'pressão' e 'controle', o que pareceu uma miragem nos restantes 75. Depois do golo o dragão foi-se abaixo e o Sporting reagiu sendo, de longe, a melhor equipa até ao intervalo. Não com um domínio avassalador, mas ainda assim competente para colocar em 'xeque' aquilo que Vítor Pereira se gaba de ter conseguido para a sua equipa.

Na sua reacção o Sporting quis. Quis repartir o domínio e trabalhou para isso, afundando a 'lengalenga' do controle, identidade e pressão ao nível da mentira dita muitas vezes. A equipa de Alvalade, não atravessa o melhor dos seus momentos e nunca se encontrou com o anterior técnico. O actual, tinha um (talvez dois) treinos com o conjunto e ainda assim conseguiu repartir em certas alturas, a meio-campo, o domínio do jogo. Ora, o Sporting quis. E é isso que me preocupa no FC Porto. Se o PSG nunca quis repartir domínio e deixou que se pensasse que a exibição foi gigante, bastou uma equipa em frangalhos (perdoem-me pela expressão) querer e essa tal 'identidade' afundou-se num marasmo de incompetência.

Quando o Sporting pressionou, a saída de bola dos portistas acabou inevitavelmente num 'pontapé para a frente' (Danilo fez isto imensas vezes). Incomodados os jogadores não conseguiam manter o 'controle', 'a posse', nem a 'identidade'. O que resultou num jogo estéril que não deixou brilhar ninguém. Jackson, a figura para os jornais, fez o golo e... nada mais. James, o puto maravilha, raramente cheirava a bola, assim como o trio de meio-campo, que foi vítima da falta de identidade de uma equipa que se gaba de a ter mas que quando ela é posta em causa não a consegue manter. Confuso? Pois, eu também. É que ponho as minhas dúvidas se essa identidade existe mesmo... e como pode ser mantido algo que não existe?

É um indicador para o qual não me vou cansar de apontar. Identidades são fortes quando colocadas em questão. E se foi assim no Dragão, contra um Sporting psicológicamente destroçado, como será em Alvalade? na Luz? no Parque dos Príncipes? nos oitavos-de-final da Champions? É que é muito fácil manter posse quando a outra equipa não quer posse. É muito fácil conseguir domínio quando a outra equipa só quer controle. Mas todos os grandes 'Portos' me ensinaram que a identidade é criada na adversidade, e que a adversidade gera mais vontade e não sonolência ou recurso a outras identidades de 'olhos fechados' e de 'pontapé para a frente'.

8 comentários:

  1. Desta vez estamos em sintonia total, até na identificação do(s) erro(s) de Jorge Sousa.
    Tenho a mesma opinião que tu em todos os lances polémicos. E a mão do Cedric é mesmo intencional, há um movimento do braço que demonstra isso.

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  2. De facto custam-me a perceber estas oscilações de rendimento ao longo dos 90 minutos.
    Bem sei que nenhum equipa mantêm o mesmo ritmo durante 90 minutos mas deviam durar mais que 15 minutos.

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  3. Óptima análise. O VP continua a viver num mundo dele onde vai conseguindo ganhar.

    Até pode voltar a ser campeão este ano, mas este sim, quando sair do porto afunda-se completamente.

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  4. Pois eu continuo a dizer que o 1º penalti não devia ser marcado pois não havia perigo nenhum para o Patricio.

    Já o segundo penalti é bem diferente...ontem consegui ver uma nova repetição em que se nota não um puxão do "Bolodearroz" mas sim um toque por trás do joelho esquerdo do jackson que o faz cair. Reparem nesse pormenor. Aquele desculpa de dizer que o Jackson atirou-se para cima dele é de rir mesmo. Foi penalti indicutivel.

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  5. Marco deixe-me dizer-lhe que o considero o Cavaco Silva do comentário desportivo: afirma uma coisa e o seu oposto. Assim, quando acontecer algum azar lá mais para a frente, está sempre na posição "eu bem avisei".

    Ora a conclusão que tiro daqui é que se o Porto perder é porque não tem identidade bem definida, se ganhar é porque a sua identidade (antes inexistente) é a de lutar na adversidade. Tá bom!

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  6. Olá Arlindo.

    Não tenho nenhum gosto em dizer 'eu bem avisei'. Não me recordo, até, de o ter dito desde que aqui escrevo. Aliás, como portista, será sempre bom para mim que as coisas corram bem ao meu clube. Aí sim é uma 'win win situation'.

    É me também difícil perceber a ideia que o seu comentário pretende transmitir. O Porto não tem a identidade que o seu treinador diz que tem. Já disse isso quando perdeu, já disse isso quando empatou e já o disse quando ganhou, em vez de alinhar pelo diapasão constante quando há vitória.

    Tento explicar o porquê de não achar que Vítor Pereira é coerente nas suas declarações. Não espero que toda as pessoas tenham de concordar ou perceber o que tento dizer. Mas a ler o seu segundo parágrafo fica-me a quase certeza que interpretou mal o que tentei dizer.

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  7. Marco, fazes a pergunta, "Clássico decidido por Jorge Sousa?", também me parece que não. O clássico foi morto por Jorge Sousa? Aqui já respondo que sim.

    Há dois jogadores ligados à decisão do clássico, Rojo e Jackson, o primeiro na asneira, pela forma infantil como permitiu a Jackson ficar em jogo no primeiro golo e depois na forma como foi expulso. Jackson pela arte da finalização.

    O jogo foi muito fraco ou foi nulo pela forma como ambas as equipas anularam a construção de jogo. Incapazes de sair em futebol apoiado ambas procuraram o futebol directo e ao contrário de outras ocasiões até gostei da capacidade do Sporting de conseguir conquistar e conservar a bola em terreno adverso após um bico vindo da sua defesa.

    Carrillo foi uma carta fora do baralho e não entendi a sua manutenção após o intervalo, foi sempre um jogador a menos é um excelente jogador de bola mas falta-lhe muito para ser futebolista.

    O Sporting melhorou no final, com Jeffren, com espaço o que a expulsão e a lesão criaram e até com o desiquilibrio táctico. Nos últimos jogos temos treinado muito esta coisa de jogar com três defesas e uma resma de avançados.

    Mas o jogo que estava decidido, por Rojo e Jackson, foi morto por Jorge Sousa, já não bastava o primeiro penalty absurdo, onde só a vergonha lhe guardou o cartão no bolso (ele que foi tão incisivo a dar cartão a Lucho em lance de mão), renasce das cinzas com novo penalty imaginário, 2-0, ponto final.

    É irónico como um arbitro que distribuiu cartões em tudo o que mexia de verde poupa os dois jogadores que, teoricamente, fazem as faltas mais graves, Cédric e Boularouz.

    Felizmente, os teus jogadores nunca fizeram faltas similares aos meus, ou se calhar não...

    Abraço

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  8. P.S.- O relvado estava uma merda.

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