É cada vez mais desinteressante seguir quaisquer declarações no universo futebolístico nacional. As excepções, curiosamente, vêm de fora. De tal modo que ouvir Guardiola dizer que "o Benfica é isto, ou aquilo" gera imediatamente a desconfiança de todos. Deixou-se de medir a verdade e, há muitos anos também, que se espera que a nossa verdade se torne a verdade dominante, a verdade hegemónica. Tudo o que não corresponda à expectativa... é mentira, ponto. Foi assim que Pinto da Costa saiu mais uma vez a terreiro. Com a complacência de um subordinado que não pode recalcitrar contra o padrinho (- não me diga que também lê os blogs, foi lá que tirou as perguntas? - não, nã, não...) PC fez aquilo que a maioria dos portistas esperava: uma reedição do fim de outros tempos de crise, em que as frases fortes de recuperação se vieram a confirmar pela mão de Mourinho e André Villas-Boas, em épocas que se perderam por confiar o leme a quem não teve/tem unhas para segurar o barco.
André saiu sem derrotas para a Liga. Vítor Pereira perdeu um jogo em dois anos. Fonseca seguiu a linha do Braga (deixou a equipa na Europa e na Taça, mas sem campeonato) e Lopetegui teve permissão para brincar com um dos melhores plantéis de sempre do FC Porto, rodando-o até cair. Ficaram as desmedidas expectativas e as (outras) imagens mentais dos adeptos. É que sem o amén constante que as vitórias criaram, muita coisa que estava guardada - fossem as comissões, fosse o distanciamento na comunicação, fossem os contentores de jogadores - saiu cá para fora como forma de colocar o presidente em xeque. E isso pode estar tudo muito certo, mas sem massa crítica na hora da vitória (e foram tantas, que davam tantas oportunidades) Pinto da Costa foi, e quer ser, Paul Newman em A Cor do Dinheiro. Ultrapassado, tenta apanhar o barco num salão de jogos cheio de caras novas e com um acerto que não lhe permitiria ganhar o que já ganhou.
Louve-se então o futebol português pela qualidade que Jorge Jesus encabeçou, levantando o Benfica, deixando-lhe bases, fazendo depois o mesmo no Sporting, e tome-se consciência que um Porto normal, ou até um melhor do que isso (como o do primeiro ano de Lopetegui) não terá hipóteses de devolver aos portistas as alegrias a que estão habituados. Daí o reforço do carácter, da qualidade, e da alma do plantel, e o assumir de que o maior dos males desta época - a desmesurada pressão de ganhar sem ter competência para isso - acabou. Segue-se uma pré-época de seis jogos que levará a uma final onde os dragões encontrarão, de novo, a pressão de ter que vencer. Isto porque essa, juntamente com todas as questões mentais, emocionais e físicas que colocou, terá impedido o FC Porto de dar não uma boa, nem uma média, nem, sequer, uma medíocre resposta ao que se esperava dele. Falamos do novo treinador, que em três semanas arranjou plano para ganhar na casa do bicampeão, mas que nas restantes viu a equipa penar por entre o futebol sexy que prometeu - e que era a única coisa de realmente interessante que advinha da sua contratação.
José Peseiro está assim, também, em risco. Trabalha com Pinto da Costa porque é ele, obviamente, que está lá. Não poderia ser de outra maneira. Daí que os seis jogos que se seguem, sem pressão e dados como prenda, para o teste final de um só jogo, sirvam como teste ideal a quem faz desconfiar pelo historial nesse capítulo. Peseiro já havia cedido e, quer queiramos, quer não, cedeu de novo (ou de forma muito parecida) ao não conseguir aguentar algumas boas indicações deixadas na Amoreira e na Luz. Não pôde com o Dragão, não soube jogar com o estatuto de outsider (algo brilhantemente conseguido por Rui Vitória) e não se focou onde, reza a lenda, é mais forte: no modelo, no plano, na ideia. E assim sendo, o coruchense deixa imensa dúvidas para um desiderato que envolverá um playoff fulcral em Agosto.
PS: Guardiola sabe o que diz e como o diz. E o que o de Santpedor quis dizer sobre o Benfica teve um objectivo claro. Ora não quer isto dizer que os elogios, bem reais, que fez às virtudes do Benfica (que contrastam, sobretudo, defensivamente com a maioria das equipas que observa) e que a dificuldade em jogar entre-linhas que o seu Bayern teve contra o bicampeão nacional atesta, fossem feitos de forma cordial ou falsa. Os problemas, para os bávaros, estiveram lá. Mais a mais quando a equipa, desde que a Juventus a colocou em causa, passa um mau momento. Guardiola sabia das dificuldades e quis proteger a aura de favorito na Champions com um mau resultado frente ao Benfica. E o 1-0, aos olhos de toda uma Alemanha habituada às goleadas, nunca lhe garantiria isso sem o aviso prévio de que o Benfica tem, realmente, qualidades acima da média. Pep colocou-as no holofote enquanto escondeu o mau momento da sua equipa. Com isso galvanizou o Benfica, que conseguiu, por mérito próprio, um jogo de bom nível em Munique. E tão raros que são esses jogos, onde os grandes portugueses não se tornam pequeninos nos Allianz desta vida. E este coloca a 2.ª mão, e respectivas abordagens, como um dos jogos mais interessantes de seguir nesta Liga dos Campeões.
Das declarações de Guardiola, tudo espremido, só se aproveitam os elogios ao Sporting. :)
ResponderEliminarO que interessa é que o Porto também vai ter um Otávio. Um 'Tabinho', melhor dizendo. Já no capítulo do auto-elogio, ninguém tira lugar ao vosso :P
ResponderEliminarEsse Otávio também é anão :) Bom jogador mas altamente irritante! Será que dará mais que o Quintero? Estava curioso para ver o colombiano no Brasileirão mas parece que a ida para o Internacional está complicada...
ResponderEliminarFicando de fora o Jonas, prevejo a vida muito complicada para o SLB.
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ResponderEliminarNão conheço bem o Otávio, e o Quintero, apesar do elevado potencial, não parece ter fibra (também nunca apanhou quem o colocasse onde deve - parece fraco psicologicamente, como a maioria do plantel deste Porto).
ResponderEliminarSem Jonas serão dificuldades acrescidas, certamente. Ainda assim vai ser interessante de seguir. O Benfica já demonstrou saber suprir ausências importantes - entrará Carcela, e Pizzi ou Gaitán ficarão atrás de Mitroglou.
O "problema" é o Bayern e não ausência deste ou daquele. Jonas limpa para as meias e descansa a meio da semana para o embate com o Setúbal. Esse, a par do jogo de amanhã, é o que realmente interessa. Do Bayern o que não for goleada é lucro.
ResponderEliminarEpá, a mim deu-me uma certa pena de ver PdC a fazer aquela entrevista.
ResponderEliminarParecia só, sem ideias, e desiludido.
Quem acompanha mais de perto o Porto, saberá as razões para isso.
Quanto a treinadores, acho que nunca como agora, o porto tem efectivamente de investir tambem num treinador.
Paulo Fonseca e Vitor Pereira, ja por la passaram. Leonardo Jardim parece confortavel a gozar a sua estadia no Monaco, Paulo Sousa ainda parece a dar os seus primeiros passos.
Marco Silva?
Exacto, acho que o Benfica vai jogar exactamente da mesma forma que jogou na Alemanha. Cá atrás, á espera do adversário, linhas juntas, bolas longas para o Mitroglou, segundas bolas, á espera das suas oportunidades.
ResponderEliminarO que o Jesus apelidou de jogar á equipa pequena quando jogaram contra o Sporting. Eu acho que é tudo uma questão de estratégia.
Reconhecendo a superioridade do adversario, joga com outro tipo de armas para tentar discutir o adversario.
O Benfica tem legítimas aspirações a passar. Por isso não vejo que não se possa comentar o jogo, e as ausências, como se ele, vá lá... existisse.
ResponderEliminarEssa conversa pode enganar muita gente, Pedro, mas eu sei que quarta lá estarás com muito mais 'nervo' do que contra a Académica ou contra o Setúbal.
Não vejo o Bayern com fibra para golear na Luz. A dualidade casa/fora deles é gritante e atravessam um momento penoso - até nas ideias. Agora, numa coisa estou contigo: sem menosprezar o Benfica - e o que já fez na prova - o problema será sempre o Bayern.
Prevejo um 1-2, mas pode ser outra coisa qualquer. Por isso é que é interessante.
Marco, estás tão mas tão enganado.
ResponderEliminarVi o SLB sofrer um golo aos 2 minutos e encolhi os ombros. Pensei: "olha, vamos mesmo levar uma tareia. Que não tenha consequências para Coimbra." . Obviamente que vibrei com o jogo e com a possibilidade de conseguir um bom resultado. Acima de tudo por sentir que o jogo de Coimbra não seria negativamente afectado por uma possivel goleada. Só penso em Coimbra e na quarta feira o meu pensamento estará na recepção ao Setúbal. Se o jogo proporcionar o sonho das meias então sim, vibrarei.
Ou o SLB lhes dá uma tareia (lol) ou então teremos que segurar o 0-0 até aos 85 minutos quando marcamos o golo que empata a eliminatória e depois, quando está tudo a pensar no prolongamento, Ederson despeja para Mitroglou que, aos 92 minutos, marca o segundo golo. Um golo demasiado cedo do SLB pode despertar o monstro alemão... :)
Tão fanfarrão que ele é em relação Benfica nacional e tão humilde em relação ao Benfica europeu. Vamos acreditar nisto? :)
ResponderEliminarO monstro alemão, a surgir, surgiria no Allianz. Isso do '0-0' dá derrota pela certa - até porque quase de certeza que eles marcarão um golo.
ResponderEliminarAcredito que estejas focado no campeonato, mas isto é bom demais para encarar assim. Eu pediria um Benfica atrevido, até para explorar a sua melhor característica: facilidade em marcar. Mas, epá, compreendo-te.
Fanfarrão na boca do Peyroteo é delicioso. :)
ResponderEliminarMarco, é bom para desfrutar. Nada mais. Sei bem o que será dito e escrito se o SLB levar uma tareia. Conheço tão bem isto. São muitos anos atentos ao fenómeno futebol em Portugal. O que quero é que o jogo na Luz contra o Bayern não tenha consequências negativas para o campeonato. O que não for uma tareia é lucro!!
Se quero passar? Claro. Se quero golear o Bayern? Era a loucura. Chegar às meias? Um sonho. Se exijo isso ao SLB ou perco tempo a passar nisso? Não. Estou nervoso para logo. E depois estarei nervoso para a recepção ao Setúbal.