quarta-feira, março 23

Há azul ou vermelho que cheguem para uma tela tão negra?

Confesso que pensei antes de escrever um post sobre um assunto que, para mim, se resolve exactamente ao contrário do que tem sido feito. E o que tem sido feito? dar demasiado destaque e demasiada conotação a um problema cultural português. O da inveja e o da negatividade que se sobrepõe a qualquer tentativa de bom senso.

Foi com o Jorge Borges que, primeiramente, discuti a violência que se verifica entre 'adeptos' do Porto e do Benfica, que por vezes, demasiadas, se alastra para os seus representantes oficiais. Parece-me claro, bem claro até, que não será com o tratamento dado pelos dois clubes às situações que este 'flagelo' se resolverá. Disse eu, e torno a não demarcar-me disso, que nem Porto nem Benfica têm de tomar posições - sem ser a de condenar qualquer acto violento - acerca de qualquer agressão a outrem.

Isto porque ao tomarem essas posições, a conotação, juntamente com o crescimento em número desses actos, torna-se demasiado perigosa. Todo o tratamento dado, seja a azul com linhas pequenas ou a vermelho com letras garrafais, só serve para que mais disto haja e é isso que ninguém parece perceber.

Ninguém, seja de um lado seja de outro, me parece impoluto até porque nenhum se demarca da constante tentativa de conotar o rival com os casos. De nenhum lado alguma vez se fomentou qualquer respeito pelo rival. Haverá algum dia uma maioria portista a admirar o historial e grandeza do clube da Luz? Haverá algum dia alguma maioria benfiquista a reconhecer os feitos de um clube que tem um crescimento prodigioso? Não haverá, porque a negatividade e conotação dos dois se sobreporá sempre à positividade. Aliás, qualquer positividade de um será sempre a negatividade do outro.

E terá mesmo de ser assim? onde se beliscam estas duas esferas, ao ponto de alguém querer ferir fisicamente o rival? eu digo onde se beliscam: nos problemas culturais e psicológicos dos 'atacantes' e das 'vítimas'. E isso será resolvido com capas de jornais a dar um qualquer (seja imenso ou reduzido) destaque? Será resolvido com comunicados feitos através de acusações anteriores? É um problema de Portugal não haver nenhuma rivalidade salutar. Onde ela está, há disto. Seja com clubes, localidades, ou qualquer coisa que provoque disputa.

Não me parece é que alguém veja que ao alargar-se a discussão para mais do que condenar o acto é meio caminho para mais disto haver. Percebam de uma vez por todas que isto não tem que ver com cores, com pontos cardeais ou com culpas. É um problema cultural e quem não perceber isso não se surpreenderá ao perceber que em Portugal um 'par de lostras' e umas 'pedradas' é uma situação bem normal e até, por muitos, considerada 'bem empregue'.

Continuem a apontar e culpas no cartório terão também. Cenário demasiado português, aquele que sempre se preocupa com a pena do outro para branquear a sua. É o que o menos interessa aqui, continuarei a dizer. A integridade física é sagrada! E isto deveria ser repetido até à exaustão. Mas não me parece que seja isso que as manchetes, posts e comentários queiram desenvolver. Leiam-nas nas entrelinhas. São a estupidez, das segundas intenções, completa.

E esse limite não existe em Portugal - país onde quem bate não é uma pobre alma, é um cowboy, muitas das vezes um herói. No futebol, então, há muito que as marcas foram ultrapassadas. Teremos alguma coisa de realmente sagrado e consensual neste país? Se não temos, a integridade e segurança física de cada um deveria sê-lo e antes de se comentar qualquer caso destes, pensemos se realmente vamos ajudar a isso ou não.

Pensem numa agressão feita à frente de gente séria. Pensei nos efeitos que semelhante acto teria nas mentes de tais pessoas. Pensem em algo sagrado a ser profanado e visualizem a reacção das mesmas. Parece-vos parecida com as que têm chegado até nós?

17 comentários:

Rebello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rebello disse...

Grande post. Certeiro.
Em vez de tentar evitar mais situações, passa-se a ideia de que o outro é que é o culpado.
Os adeptos do outro é que são maus.
Mesmo quando se repudia a violência acrescenta-se sempre uma provocação ao outro. Sempre. Triste.

Há que trabalhar em conjunto, Clubes, Liga, MAI e Polícia para tentar apanhar alguns culpados e aplicar castigos exemplares para inibir comportamentos semelhantes no futuro.

pedro m disse...

Clubes, Liga, MAI e Policia.
Os clubes que vergam a espinha aos cabecilhas do sistema corrupto? A Liga que correu com o Herminio, a Liga que não interdita estádios por arremesso reincidente de objectos aos jogadores? O MAI que o clube corrupto malhou do principio ao fim no seu comunicado? A policia que no ano passado declarou que não sabia que o autocarro do Benfica tinha sido apedrejado no Porto e que faz a revista aos adeptos nos estádios?

Claro que sim, vamos todos fazer uma mesa redonda...Quem é que trás as bolas de golfe?

Anónimo disse...

Ai que o mundo está todo contra o slb... E chamam calimeros aos outros...
Já agora escreve-se traz

Pedro disse...

Se existisse Justiça nada disto aconteceria.

Enquanto ficarem impunes nada disto mudará!!!

pedro m disse...

Anónimo, também não é traz, é atrás, que é onde devem enfiar as bolas de golfe para entrar com elas no estádio.

LMGM disse...

Muito bonito Marco e não só bonito como correcto.

Agora é só mudar os dirigentes que lá estão, porque com o histórico que eles têm é impossivel qualquer mudança de mentalidades.

Jorge Borges disse...

"discuti a violência que se verifica entre 'adeptos' do Porto e do Benfica, que por vezes, demasiadas, se alastra para os seus representantes oficiais"

acho que foi precisamente o oposto. São os dirigentes que com ataques desmesuradosque instigam o ódio entre os adeptos.

De resto concordo que enquanto se olhar para o fenómeno apenas de determinada perspectiva não se vai resolver coisa nenhuma. É preciso que alguém imponha um fim, um corte com o passado e que as acusações do tipo "tu és pior do que eu" acabem. Como dizes, e bem, Porto e Benfica (e só falo destes porque é a rivalidade mais latente actualmente) têm muitos telhados de vidro. Quantificar quem é que bateu mais ou menos é pura e simplesmente ridículo. E preciso olhar para o fenómeno da violência de outra perspectiva. Não se podem justificar os actos presentes com os actos passados, assim como os futuros com os presentes.

Enquanto virem como um sinal de medo o fraqueza, dar um passo no sentido de banir este tipo de comportamentos do fenómeno desportivo, não vale a pena.

Concordo que com Vieira e Pinto da Costa não vamos lá. A menos que haja uma entidade equidistante que preomova um pacto de não agressão. Acho que acoisa já ssumiu proporções que extravazam a esfera de influência de qualquer um dos dois.
São já casos de polícia, que parece também não ter mão.

Anónimo disse...

Isso é que era bom.
Não podes, enquanto adepto do fcp, querer branquear a relacção que existe entre a direcção do teu clube e uma das suas claques. Por mais do que uma vez a direcção do fcp usou esta claque (cujo líder até escreveu um livro que é um verdadeiro manual...) como guarda pretoriana e tem feito tudo menos promover o comportamento correcto das pessoas que a integram.
Para nem falar da linguagem que essa mesma direcção usa habitualmente: mouros, lisboa a arder, etc.
Se juntares a este quadro todo o historial de corrupção, provado apensa de não sancionado em tribunal, consegues perceber porque é que é tão complicado veres alguém a reconhecer mérito ao teu clube.

Jorge Borges disse...

1 - Condeno as cenas ocorridas na casa do FCP de Coimbra. De que vale acusá-los se vamos fazer o mesmo?

2 - O comunicado do Benfica não foi bem aceite, pelos vistos: http://www.fcporto.pt/Noticias/Clube/noticiaclube_clubecomunicado_230311_60076.asp

Os sinais de retoma da normalidade estão cada vez mais longe.
Tão cedo, não ponho os pés num campo de futebol.

E a vidinha continua... até haver uma fatalidade!

Marco Morais disse...

Concordando com o LMGM e com o Jorge, acho que 'burro velho' é mais difícil aprender e só muito dificilmente as cabecinhas que 'comandam' o nosso futebol mudaram de mentalidade.

E é essa, e só essa, a ideia essencial que pretendi transmitir. Se um acto de violência fosse realmente condenável em Portugal, não estaríamos certamente embrenhados nesta discussão.

Não me parece que estejamos no bom caminho, porque quando lemos os efeitos de um acto violento lemos também provocações, acusações, desvios e conotações e isso acaba por desvirtuar a 'conversa' que realmente se haveria de ter.

E assim condenando só o acto, puramente e duramente e não como tentativa de branquear NADA, estaremos certamente mais perto de os erradicar.

O fenómeno, por mais que o queiram relacionar, é geral em Portugal. Compreendo e acho legítimo que se peça justiça pelos actos de determinadas entidades, mas o caminho a tomar é mais 'profundo' que esse.

Não me querendo armar em filósofo, acho que muitas vezes nos esquecemos da simplicidade. É que neste Mundo tudo nos é possível fazer, sejam actos bons ou maus. A moralidade permite-nos fugir às coisas más e quando vemos tantas negatividades a acontecer o que será que faltará então? Moralidade, certamente.

E este é um problema que vai mais fundo. Ou alguém de bom senso acha uma vitória atirar um saco de pedras ao carro de um presidente de um clube? É que não é OUTRO clube. É um clube e um presidente, concorde-se ou não com a sua cor ou ideologia. Não há respeito, pura e simplesmente.

Os adeptos do Benfica sentem-se revoltados porque há fortes indícios que o FC Porto tenha actuado ilegalmente. Os adeptos do Porto revoltam-se porque pôr em causa os festejos das suas vitórias é, literalmente, chamá-los de burros. Mas com tudo isto muitos não vão para casa e não pensam mais no assunto. Muitos fazem aquilo que lhes ensinaram e que neste país não é condenável: violência.

E qual é o problema aqui afinal? Serão mesmo as cores? É que estes mesmos indivíduos num contexto desprovido de futebol também atacam e violam. E o que lhes permite isso? O que os leva a achar a violência mais certa que errada?

Chamem os indianos de estranhos por considerarem as vacas sagradas. Tomara uma pessoa em Portugal ter o mesmo estatuto de uma vaca na Índia.

P.S. E a ver se concordam comigo se não parto esta porcaria toda e prego-vos duas lambadas a cada um. :D

Marco Morais disse...

*mudarão

(No 1.º parágrafo)

Marco Morais disse...

Anónimo,

É a essa conversa que me refiro. É que tu falas muito bem, e eu concordo, mas só para um lado.

Depois lá vou eu pegar nos NN, no comportamento do Jesus, no Rui dos Túneis, nos apedrejamentos, no verylight, no Gabriel, no Gomes da Silva...

E pra quê? Para, dependendo do teu feitio, apetecer-te também a ti partir a cara ao Pinto da Costa?

Jorge Borges disse...

MarcO:
sem deixar de concordar contigo ponto por ponto no comentário anterior, e fugindo um pouco da temática do blogue acrescento mais isto:
- Se as pessoas direccionassem a sua fúria (não no sentido violento, obviamente) para o que verdadeiramente frustra Portugal (a acção de governantes e políticos em geral), talvez não tivessem tanta energia para entrar em batalhas anti-desporto.
Contra os verdeiros problemas, o "povo é sereno", e por causa da cor de uma camisola, que não dá dinheiro a ninguém, muito pelo contrário, batem-se se for preciso até à morte.

LMGM disse...

Só para dizer que também gostei do teu momento Mestre Yoda:

"Continuem a apontar e culpas no cartório terão também."

:)

Nunca conseguirei respeitar o teu clube enquanto mantiver aqueles dirigentes. Vivi demais o ódio por eles destilado, a destruição que promoveram, para não ter nojo da sua postura de senadores romanos. Mas a solução é simples e está na mão dos sócios de cada clube.

Por acção e omissão...

Glorioso11385 disse...

"Nunca conseguirei respeitar o teu clube enquanto mantiver aqueles dirigentes. Vivi demais o ódio por eles destilado, a destruição que promoveram, para não ter nojo da sua postura de senadores romanos. Mas a solução é simples e está na mão dos sócios de cada clube.

Por acção e omissão..."

Certeiro, LMGM.

Marco Morais disse...

Haja alguma coisa que une um sportinguista e um benfiquista. =)

Não me surpreende o cenário negro que traçam quando abordam o meu clube. É uma acção já deveras conhecida e que só encontra par nas omissões que fazem aos vossos.

Certamente todo o crescimento deles foi impoluto e totalmente ético. Aliás, como é apanágio em Portugal.

Discursos de ódio? Nunca praticados por mais clube nenhum. Pensava que o ódio era de todo injustificável mas sei que qualquer ódio expresso a verde ou a vermelho tem justificação porque é contra o azul.

Aí, assim como bem parece, há justificação para tudo. Talvez seja mesmo esse o papel do Porto. Tornar os vossos defeitos justificáveis.