Não, não estou a fazer confusão. Bem sei que o dérbi dos dérbis ainda está longe de acontecer, dentro do campo, mas na realidade ele joga-se todos os dias.
Seja em picardias escusadas, inócuas e infantis, lançadas em comunicados oficiais, que descredibilizam por completo as instituições, ou aqui no
SectorB32, nos cafés, nos transportes públicos, nos táxis, nos hospitais, nos funerais, nas bancadas de campos pelados, nos baloiços de um jardim infantil, num talho, numa ourivesaria, num mercado e em tantos outros locais.
E, apesar das evidentes diferenças, neste momento, tudo parece unir os dois arqui-rivais: os passivos, a desconfiança sobre treinador, os comunicados imbecis, a fraca qualidade futebolística.
O
Benfica está, futebolisticamente falando, uns degraus acima do
Sporting. Parece-me consensual. Contudo, neste momento, a distância para o descalabro tem a mesma medida que tem para o
Sporting. Todos sabemos que um empate ontem (ou uma derrota) frente ao
Gil Vicente, iria tornar o ambiente em Alvalade explosivo. Para
Sá Pinto, para os jogadores e para a Direcção.
No
Benfica, já no próximo fim de semana, as coisas não serão muito diferentes.
Carlos Xistra deu um forte empurrão numa equipa descrente e pouco confiante e agora, pasme-se, uma visita à capital do móvel tem um peso dramático. Imaginam o que vai acontecer se o
Benfica perde ou empata o jogo? Adeus ao campeonato à 5ª jornada? O drama. O horror. A tragédia. Com toda a certeza. Até porque uns dias depois, há Barcelona e, muito provavelmente, uma derrota e uma
Liga dos Campeões muito complicada (neste cenário o empate em Glasgow surgirá como um prenúncio de morte que adensará ainda mais o pesadelo).
Neste momento, equiparo as duas equipas. Do lado sportinguista, vejo uma equipa sem grande qualidade, pouco eficaz, pouco sólida na defesa e com um padrão de exigência extremamente baixo para um “grande” de Portugal. A emoção, a comoção, a “garra” no jogo de ontem são apenas sintomas de que, em Alvalade, a bitola é muito baixa.
Vencer o
Gil Vicente, à rasca, e onde se destaca quase exclusivamente a “raça” do leão, é muito pouco porque, simplesmente, a mesma receita não resolverá metade dos jogos. E depois disso, o que tem o
Sporting mais para mostrar? Muito pouco, convenhamos.
Este
Sporting faz-me lembrar, já o disse, o
Benfica de
Mário Wilson. Muita paixão. Amor incondicional. Palavras. Muitas. Mas depois vai sempre faltar qualquer coisa.
Se o objectivo é aproximarem-se “lá da frente”, talvez sirva. Mas atenção, estou em crer que, se isso acontecer, se deverá muito mais ao abaixamento de
Benfica e
Braga. E continuarão a depender mais dos outros do que propriamente de si próprios.
O
Benfica, agora. Depois de um ano fantástico, em 2009, é inegável que a qualidade tem vindo a decrescer, e muito, pese embora os investimentos milionários.
Jesus não consegue dar a volta, porque não sabe, e a imagem daquele olhar perdido no relvado molhado de Coimbra, diz tudo. Ou quase tudo.
O treinador do Benfica não sabe o que fazer. Não sabe em quem apostar. Mete
Gaitán, tira
Gaitán. Mete
César, tira
César. Mete o brasileiro outra vez. Tira-o ao intervalo. Entra o espanhol, que vem de cinco minutos na Escócia. E
Martins? E
Aimar? Joga
Rodrigo. Duas e três vezes, em sub-rendimento, num 442 desesperante.
Vê em campo uma equipa desconexa (apesar da razoável prestação em Coimbra), que não corresponde àquilo que diz ver (desde há dois anos que assim é) e vai-se valendo, quase exclusivamente, da enorme valia dos jogadores que tem à disposição.
Neste momento, benfiquistas e sportinguistas vivem o mesmo dilema: as equipas pouco jogam e a confiança no sucesso é reduzida (mas alguém acredita em vitória no campeonato?).
A conversa do “ir à LC já não era mau” é demasiado pequena para Clubes da dimensão dos “grandes” de Lisboa. E demasiado triste, digo eu. Mas, para já, é uma realidade que os abraça sem pudor.