O Dragão quer acordar e, claramente por isso, o mote da festa azul e
branca que serviu para apresentar o plantel aos adeptos foi esse mesmo.
Julen Lopetegui é o escolhido e, até este domingo, conseguiu criar a
'ilusión' num Tribunal que, antes da bola rolar, estava demasiado
optimista enquanto assistia a uma coreografia estilo oriental que também
contou com a presença do novo timoneiro
do FC Porto. Mas, no entanto, o jogo encarregou-se de trazer ao de cima
um 'cheiro a novo' que os (perto de) 46.000 que encheram o Estádio do
Dragão não conseguiram suportar. E se a primeira-parte - que iniciou com
algumas caras que não se afiguram no 'onze-ideal' - ainda teve
desculpa, a segunda chegou mesmo a enervar um público que esperava
pressão, trocas de bola fluídas e, claro, golos. Mas... nada disso. O
'tiki-taka' de Julen ainda tem 'trankas' e emperrou claramente na
saída-de-bola (constante - o FC Porto nunca bateu um pontapé-de-baliza
para o 'ar'), nas tímidas laterais e num meio-campo sem recuperação de
bola, acabando por ver Fabiano a salvar a equipa de um resultado bem
mais negativo.
Porém, costuma dizer-se, para todos os males há
remédio, e, desde logo e também por isso, argumentos não faltarão para
quem não quiser entrar já a pés juntos ao novo dragão. Desde logo, a
falta de tempo será um deles. É que pedir um mini-Barça que trucide
'Saint-Étiennes' é fácil, mas trazê-lo à realidade pode empancar na
falta de lucidez que os portistas entregaram ao jogo e na falta de
entrosamento num momento defensivo que... ainda não existe. Fossem eles
os 'antigos' (Ricardo, Quaresma, Maicon, Reyes, Danilo, Alex Sandro e
Herrera, jogaram na primeira-parte, sendo que a defesa se manteve até ao
fim) ou os 'novos' (Tello, Adrián, Brahimi e Casemiro jogaram na
segunda), pouco se viram no meio de um adversário bem organizado e
aguerrido mas que não tem o potencial do FC Porto. Daí pedir-se mais a
um 'colectivo' que consegue juntar, por exemplo, Óliver e Quintero ou
Tello e Brahimi. Interessante será reparar que o técnico espanhol quer
que o prodígio colombiano parta de uma ala, encerrando assim a discussão
sobre quem será o patrão no 'miolo'. Óliver será o homem, num desafio
que não se lhe adivinha fácil.
Mas enquanto se debatem as
contingências temporais e físicas, o FC Porto-St. Étienne deu já para
ver que os laterais portistas não terão muita liberdade e que na
saída-de-bola não passarão do meio-campo. Mais ainda, nunca o trinco
portista (fosse ele Rúben Neves ou Casemiro) foi buscar a bola aos
centrais. Já os alas (fossem eles Quaresma e Ricardo, ou Tello e
Quintero) raramente terão a liberdade para sair da linha em busca de
jogo no centro do terreno. Uma escolha algo 'vulgar' e que ainda poderá
sofrer evolução mas que, para já, condicionou Danilo e Alex Sandro à
pressão adversária, assim como encurtou as linhas de passe a meio do
campo. Sami (jogou os primeiros 45' na posição 9) foi, assim, uma 'ilha'
e Adrián López (jogou toda a segunda metade) nunca conseguiu formar,
pelo menos, uma península. Mas também aqui, é certo, se invocará o
tempo. Resta saber se ele servirá para os adeptos portistas pedirem uma
torre maior para Lopetegui (o espanhol grava os treinos em vídeo com o
auxílio da altura) ou se esta chega bem. É que a 'meia-altura' no
Estádio do Dragão, deu bem para ver que os seus 4x3x3 e 3x4x3 apesar de
bons teoricamente ainda precisam de imensa afinação. Use-se então à
vontade o 'lugar-comum' que reza que as pré-épocas servem mesmo para
isso...
FC Porto-St. Étienne, 0-0
14 comentários:
no próximo fds temos mais e espero ver mais equipa e uma ideia de jogo mais consolidada. uma coisa é certa, não me lembro de ver um treinador com tanta liberdade e autonomia desde Mourinho. é preciso continuar a preparar esta equipa longe dos adeptos porque no dragão não há paciencia e é preciso dar tempo a treinador e jogadores. o ruben neves é muito muito muito interessante. espero que o saibam aproveitar.
Gostei do discurso do Lopetegui, Gonçalo. Aliás este treinador cai-me fácil no goto por ser corajoso. No entanto, para a proposta, o Porto precisa também de mais soluções tácticas do que as que mostrou. Tentei focar o post nisso mas, obviamente, os novos jogos trarão mais novidades.
É que por agora o tempo pode ser desculpa para tudo e assim sendo nada de conclusivo se dirá. No entanto eu estou atento e não assobiei nem uma vez (nem o vou fazer), nem achei o ambiente do Dragão nefasto para a equipa. É claro que se aquilo se repetir, vai ser impossível controlar a malta.
Como disse, sobram-me as ideias nas saídas de bola ou nas transições defensivas - até agora vulgares para aquilo que a equipa promete. Mas até aí se pode dizer que Lopetegui não se quer já mostrar tendo em conta o playoff e as possíveis observações adversárias. Como vês neste momento há desculpa para tudo, daí eu não estar nem optimista, nem pessimista.
Abraço!
Se uma coisa eu aprendi com o reinado de Quique Flores no Benfica, é que o diabo está na operacionalização.
O Lopetegui parece-me um tipo com uma ideia de jogo interessante, agora é preciso perceber se a ocnsegue colocar no campo e se tem jogadores para isso.
Sim, mas o Porto começa a ter um pequeno problema de abundância...
do meio campo para a frente então.
E ainda vem o Angel, o Marcano, o Andrés e o treinador diz q não vao ficar por aqui.
Não acham que este Porto está a correr o risco de se descaracterizar?
Descaracterizar como? trocar argentinos, ou brasileiros, por espanhóis?!
Zorg, o Quique Flores? Que raio de ideia era a dele?! ;)
Marco, eu também estou optimista e estou preparado para esperar mais uns jogos antes de começar a malhar no homem. gosto dos conceitos e da ideia de jogo e a personagem também colhe simpatia. no entanto, já não falta quase nada para começar a doer e continuamos com o plantel desequilibrado e não vejo a coisa a melhorar. esta semana vai ser fundamental e os jogos com os bifes vão deixar antever uma ideia mais clara do que vai ser esta nova versão do porto.
Marco, no discurso não andava muito longe do Lopetegui. O problema foi depois o conseguir colocar o discurso em práctica.
Mas não me entendas mal, eu acho que numa equipa onde há tantas mudanças em relação ao ano passado, é natural que as coisas demorem algum tempo a engrenar. O Lopetegui tem um discurso com ideias e o porto fez algumas contratações interessantes (e outras, nem por isso). Parece-me é que também se criou um entusiasmo em relação a este Porto que me parece um pouco precipitado e que pode jogar contra o próprio Porto, se as coisas não começarem logo a ser entusiasmastes desde o primeiro minuto.
Eu compreendi Zorg ;) a parte da descaracterização era para o João. Foi um fim de ciclo, considero normal. Assim como é normal os treinadores apostarem em mercados da sua confiança. Mourinho fá-lo, Benítez também o fez no Liverpool e Guardiola não anda longe de o fazer - assim ele pudesse ter Busi, Iniesta, Messi... ficou com o Thiago e fala-se no Valdés.
Já em relação ao Quique... bem-falante mas pouco mais. ideias futebolísticas poucas. Lopetegui é diferente, diz que acredita na pressão-alta, no toque e na circulação mas depois vais ao estádio e apanhas com uma saída-de-bola do século XX e com passes básicos falhados em catadupa. Defende ao homem as bolas paradas também. É de desconfiar, ou então está a guardar-se para o playoff ;)
No entanto posso dizer que na primeira-parte houve 5 minutos em que o Porto demonstrou que pode ser um quebra-cabeças para o adversário. Bola de um lado ao outro, toda a equipa no meio-campo adversário, passou por todos os jogadores a uma velocidade que deixou os franceses apardalados. Gostei! É disso que Lopetegui fala, mas não teve seguimento.
Venham os próximos jogos.
Ainda é muito cedo é preciso deixar a poeira assentar e depois logo se vê, mas uma coisa é certa, o espanhol já ficou a saber que o tribunal do dragão não perdoa e não vai aceitar as m*rdas que aconteceram o ano passado.
A descaracterização vai de encontro a um plantel que em 2 anos vai ser praticamente todo novo.
E acho que Mourinho, Guardiola ou Benitez náo fizeram nada parecido aquilo que Lopetegui vai fazer este ano com o Porto.
Danilo, Alex Sandro, Maicon, Reyes, Quaresma, Herrera, Jackson (para já), Fabiano, Carlos Eduardo... tudo gente que pode lutar para entrar no onze.
Lembras-te da primeira época de Mourinho no Chelsea? E até no Porto...
Não vou por aí, não acho grave. Tem é de haver qualidade - e não me estou a referir aos jogadores...
O Mourinho trouxe 15 jogadores na primeira época no Chelsea? ou até no Porto?
Não me parece...
Continuo a não querer hiperbolizar a importância da renovação do plantel. Não vai ser por aí.
Faz a comparação com o Sporting de há dois anos, com o do LJ e este. Foi renovado e fez melhor, porque houve mais competência. É só isso que se pede. Haja vitórias e nenhum balneário se divide. Mas para elas acontecerem...
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