
Estive no Mundial da Alemanha em 2006 e, apesar de haver muita festa na rua, gente de todos os países, houve também violência e faltava ali algum romantismo. Coisa que houve de sobra no nosso Euro.
A carreira de Portugal foi fantástica e nesta altura, a exigência era já enorme, apesar de ser apenas o terceiro Europeu consecutivo da Selecção Nacional. Scolari uniu os portugueses e a equipa respondia em campo.
Contudo, começámos mal. A Grécia, essa besta, estragou a festa no jogo inaugural, vencendo-nos por 2-1 e complicando logo ali a nossa passagem aos quartos-de-final. De seguida veio uma vitória fácil sobre a Rússia, por 2-0 e o jogo decisivo contra a poderosa Espanha. Com alguma sorte, mas muito trabalho, o golo de Nuno Gomes bastou para continuarmos em prova. E que prova.
Frente à Inglaterra, um dos jogos mais fantásticos de sempre desta competição. O empate de Postiga, numa jogada fabricada por dois suplentes (Simão e Postiga), a poucos minutos do fim. Aquela cavalgada mosntruosa do Rui Costa, a bomba desferida à entrada da área, depois de deixar no chão dois ou três ingleses. A bola a bater na trave e a entrar sem pedir licença. O relato do saudoso Jorge Perestrelo, que ouvi vezes sem conta. Impossível um gajo não se emocionar, ainda hoje.
Lampard no último minuto empata, após um canto. Vai tudo para penáltis. Beckham manda para as nuvens e o estádio cai pela primeira vez. Simão e Ronaldo marcam. Rui Costa manda por cima, como é possível depois de ter feito o que fez? Deco e Maniche não vacilam. Postiga, parece contrariado e dá um toquezinho na bola. Impressionante a calma do rapaz. Muita classe tem este gajo. Ricardo tira as luvas! E defende, caralho! Defende sem luvas! Épico? Não. Ainda falta. Ricardo pega na bola e quer chutá-la com os pés. Perdeu a cabeça definitivamente, embalado pela defesa com as mãos nuas. O estádio está em silêncio, tal é o barulho. Foda-se, se o gajo marca, morro aqui.
A Holanda veio depois e já qualquer equipa nos parecia fraca e acessível. Ninguém punha em causa a vitória. Maniche marca o 2-0 num lance brilhante e o golo holandês foi sofrido apenas por compaixão.
Finalmente a final. Pela primeira vez na nossa história. Em casa. Acabou-se o sonho num instante. Embrulha a bandeira e guarda o cachecol. Ganhámos tudo e não ganhámos nada. A Grécia, como é possível? Foi. Deixou para trás a Espanha e a Rússia, a França (detentora do título) e a República Checa, que praticou o melhor futebol da competição.
Contudo, penso que todos os portugueses se orgulharam como nunca da nossa Selecção e da organização exemplar de toda a competição. Foi um mês em cheio.