O melhor Porto desta época viu-se na passada sexta-feira frente ao Marítimo. Sem tirar o pé, os dragões cilindraram um jogo cheio de contratempos. A conexão colombiana voltou a dar frutos alicerçada por uma máquina rotativa chamada João Moutinho. Foi também um dos melhores jogos da era 'Pereira' com uma resposta bem clara aos detractores. O técnico havia dito, dias antes do jogo, que os adeptos ainda não tinham visto o que ele é capaz de fazer. Um ano e meio depois da sua chegada ao comando da equipa, dou-lhe toda a razão. Até agora foi tudo muito esporádico, mas nem tudo foi mau. Dias depois de uma vitória de mão-cheia, aqui ficará registado o 'lado bom' do técnico de Espinho.
Em Julho de 2011, avizinhava-se tudo menos fácil a missão de Vítor Pereira. A equipa havia ganho tudo e, na história do FC Porto, a época a seguir aos maiores êxitos trouxe sempre desilusões. Técnicos e jogadores importantes abandonam o clube e o processo de renovação nasce com muita aresta para limar, o que torna muito difícil manter o nível que trouxe os anteriores triunfos. A chegada do adjunto de Villas-Boas ao comando da equipa não trouxe desafios diferentes. Vítor Pereira precisava, sobretudo, de ganhar um grupo que não viu partir o seu líder a gosto, pois nas 'cabeças' do núcleo duro estava também a pretensão de seguir viagem para outros destinos. Falcao, o garante dos golos, partiu, Hulk e João Moutinho viram-se, certamente, numa indefinição e Álvaro e Guarín permaneceram na Invicta mas nada contentes com isso.
Foi notório que grande parte do grupo foi abalado pelo defeso e o técnico acabou por lidar bem com isso. Sabia que com o tempo as mágoas haviam de ser ultrapassadas e que os jogadores haveriam de se concentrar no FC Porto. Talvez nunca como quando ainda não haviam ganho o direito de querer partir, mas, ainda assim, haveriam de arranjar motivação suficiente para perseguir outros êxitos. Com João Moutinho e Hulk assim foi. Mas não com Álvaro e Guarín. O colombiano saiu em Janeiro. O uruguaio manteve-se mas nunca mais foi brilhante, assim como o futebol da equipa, que precisava de golos e de organização. Nessa altura a estrutura portista não abanou. Protegeu-se um técnico que estava com dúvidas de personalidade (ainda hoje as mantém) e foi-se buscar organização argentina com golos austríacos. Se a primeira já se sabia que era boa (e continua a ser) a segunda desenrascou e ofereceu alguma estabilidade a um ataque orfão de El Tigre.
Com os desaires do Benfica e com a vitória na Luz o campeonato foi conquistado, assim como o direito de permanecer mais uma época. Uma época que já tem muito que se lhe diga. Os resultados vão dando razão a um técnico que se acha capaz de fazer história no clube. Agora tem tudo a seu gosto. Tem o avançado que queria, tem líderes que pensam em posse, organização e colectivo primeiro e só em si depois e tem cada vez mais adeptos a acreditar no seu trabalho e nas suas palavras. Vítor Pereira está agora mais confiante e afirma que os adeptos ainda 'não viram nada' do que ele pode fazer, o que, um ano e meio depois da sua subida de posto, me pareceu algo estranho de ouvir. Afinal ele também sabe que ainda não está ao nível que lhe pode ser exigido. A questão-chave será mesmo: qual o nível que se lhe exige?
O 5-0 ao Marítimo talvez dê metade da resposta. É que só exibindo-se assim no campeonato, o Porto pode augurar a evolução na Europa. Para já, na Champions, o calendário ajudou e a qualificação está quase garantida. Mas a exigência não baixa e os testes não cessam. Agora Kiev, depois, em ritmo mais descontraído, Paris, para de seguida se enfrentar o grande teste de qualquer treinador do Porto: as eliminatórias e toda a pressão que elas trazem. Alguém dúvida que é disso que fala Vítor Pereira quando diz que 'estamos talhados para grandes coisas'? E alguém dúvida que é por essa linha que eu me guio quando o critico?
1 comentário:
A organização, o rigor e a eficiência é uma das grandes armas do FCPorto...claramente a melhor equipa em Portugal desde alguns anos para cá. Sem discussão!
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