terça-feira, janeiro 15

Ao título não se chega na diagonal

O 'clássico' ainda esperneia mas a parte que mais sumo daria começa a estar demasiado seca. Analisou-se um Benfica-Porto à maneira habitual e, à maneira habitual também, deixou-se de lado o que não interessa ou não se está habituado a comer. Toda a gente viu um Vítor Pereira furioso mas pouca gente se deu ao trabalho de perceber porquê. É que antes do jogo, tinha-se visto um Vítor Pereira ultra-confiante que muitos, inclusive eu, acusaram de dar vantagem ao adversário. Ora, errar e citar clichés é humano, mas no meio do ataque de nervos do treinador espinhense pode descobrir-se uma das chaves que tem levado ao conforto portista na Luz. 

Quem ligou minimamente à antevisão portista do clássico não pôde ficar indiferente às declarações de Vítor Pereira. O mesmo, abordou a qualidade futebolística, o factor casa, o habitual favoritismo e prenúncio de desgraça sempre presentes e, obviamente, as arbitragens. Em todos os ítens, o técnico portista foi especialmente incisivo. E quando assim é toda a crítica se torna incisiva também. Mas como vimos, demasiado vaga e pouco sabedora (e aqui me torno a incluir) do que estava a falar. É que, se alguém sabia do que estava a falar, esse, era Vítor Pereira. O mesmo que viveu os momentos de viragem depois do Benfica ter sido campeão com Jorge Jesus. André Villas-Boas traçou um caminho de sucesso para os confrontos fora de portas, e se alguém teve acesso privilegiado aos segredos do mesmo, esse é também, Vítor Pereira.

O segredo é algo simples. Não dará páginas suficientes para ser um best-seller, mas isso não o torna desinteressante. É que se abordarmos os pontos que desenharam a conferência de imprensa portista antes do jogo rapidamente percebemos que havia um entendimento superior em cada um deles. Muito superior ao de quem a comentou. Se revirmos todos os clássicos da Luz, desde a era 'AVB', reparamos que o início do jogo é fundamental. Quem andou meses a preparar o descalabro portista com goleadas a equipas rudimentares apresenta-se com uma sede de glória tão forte que lhe tolda sempre o cérebro quando enfrenta um adversário que é organizado (especialmente para esse jogo) e que sabe ao que vai. Não é à toa que na Luz (assim como foi em Aveiro para a Supertaça 10/11) os primeiros minutos são sempre portistas e com oportunidades de golo.

Vítor Pereira sabia-o como ninguém. Mais que nós todos que andamos por aqui distraídos. Somos 'peixe miúdo' nisto do futebol e o técnico sabia a importância dos primeiros minutos. Aqueles em que o Benfica se 'troca todo' contra o Porto. Nesses, a bola é azul mas a tão apregoada 'superioridade' benfiquista que se foi construindo nos outros jogos ainda está lá. E a desorganização torna-se grande. Na era 'AVB' a mesma teve aproveitamento máximo. Foi desde o primeiro segundo que os dragões controlaram as águias. Na era 'VP' a brecha ainda está lá para aproveitar mas os portistas não a conseguiram traduzir em (mais) golos e controlo absoluto.

E porquê? Vítor Pereira culpou a arbitragem e ninguém achou legítimo. Rapidamente todos se lembraram que a defesa do Porto foi demasiado permissiva e deixou escapar a vantagem duas vezes. O que é extremamente verdadeiro. Mas é alguém capaz de desculpar o homem, que todos acham ser demasiadamente mau para ganhar ao Benfica, para ganhar campeonatos, para ser competente? Eu não. Não o desculpo, mas compreendo-o. Compreendo a irritação de quem se levanta todas as manhãs para treinar o FC Porto, tem uma estratégia bem montada para ganhar ao maior adversário e no fim vê gorada a sua ambição de se superiorizar. Para Vítor Pereira, não fossem os erros compreensíveis do auxiliar, essas jogadas dariam a superioridade moral, em termos de possíveis golos ou possíveis oportunidades, que ele precisava para se impor a Jesus no pós-jogo.

Não foi assim, como sabemos, e o técnico sucumbiu à pressão. À birra do garoto que quer o doce à força. Não se pode achar que está bem, que está correcto, alguém que perde o controlo e as estribeiras para reduzir a cinzas, verbalmente, uma equipa que é o seu maior adversário e que lhe conseguiu marcar dois golos depois de estar, duas vezes, a perder. Não pode ser, Vítor, não pode! Quem se sabe superior, não deita fora a cartada de ter sido, outra vez, muito competente na Luz. Os primeiros minutos eram importantes para o controlo de um jogo que podia ser, como foi nos primeiros vinte minutos, de loucos. Principalmente quando se sabia que a equipa, mais cedo ou mais tarde, iria quebrar. Todos esses são factores de futebol, todos esses fazem parte. Não houve, nem há, uma superioridade evidente. Ou seja, aquela que foi apregoada durante toda a primeira-parte da época não existe. Não queira agora, Vítor Pereira, que toda aquela que pode vir a ser apregoada na segunda metade possa também não existir. É que no Dragão, o Benfica não se põe tão a jeito para... diagonais.

"Houve três foras-de-jogos. Em todos eles ficaríamos com jogadores isolados. Mais vale não treinar diagonais." (Vítor Pereira)

15 comentários:

zorg disse...

Eh pá, mas qual controlo absoluto? O porto marcou dois golos numa bola parada e numa oferta monumental do GR. O benfica não marcou 3, porque a oferta do Helton não foi tão monumental como a do Artur, ou porque o Cardozo não foi tão lesto a aproveitar.

Agora, isto não resultou de nenhum "controlo do jogo desde o primeiro segundo", resultou de sorte pura e simples!

Depois do 2-2, o porto jogou a maior parte do jogo para não perder e foi eficaz e competente nessa missão - é uma boa equipa, bem orientada, que sabe o que faz dentro do campo - mas não criou absolutamente nenhum perigo. O Benfica tentou ganhar, mas esbarrou contra a organização defensiva do porto, com excepção do lance da bola no poste do Cardozo.

São duas boas equipas, que se bateram muito bem e que acabaram por empatar. Mas o porto acabou por ter a sorte do jogo, tanto no lance do Artur, como no do Helton e do Cardozo.

Aliás - contrariamente à generalidade das pessoas - penso que a determinação do vencedor do campeonato será a qualidade do plantel e não a qualidade do 11 que é, como já referi, muito equivalente.

Marco Morais disse...

Qual controlo absoluto? pergunto, eu!

Neste jogo, e sublinho neste jogo, não falei de controlo absoluto nenhum.

Falei, no post, de outros jogos...

Marco Morais disse...

Já agora:

"Na era 'VP' a brecha ainda está lá para aproveitar mas os portistas não a conseguiram traduzir em golos e controlo absoluto."

'Não a conseguiram...', diz-te algo?

Rui Coelho disse...

Pode ter-me escapado, mas não encontrei aqui qual é essa brecha de que falas, o texto é excelente à volta de algo mas não concretizas por que motivo o benfica se "troca todo". Imagino que te refiras a um suposto domínio psicológico do porto sobre o benfica - nos clássicos o porto torna-se melhor do que é e o benfica o inverso, treme, uma coisa assim à imagem do que acontece ao Federer com o Nadal.

Se é isso, assino por baixo.

Anónimo disse...

Marco, parabéns por mais dois "posts" muito bons.

Independentemente do jogo em si, que não vi, e o que vi foi apenas os lances principais, VP voltou a vencer JJ. Claro como a água.

Aliás, JJ, continua na senda de resultados pouco positivos nos jogos a doer.

Há uns tempos falei nisso aqui no Blogue, mas apenas relativamente à LC. Contudo, na nossa liga nacional, JJ não consegue arrasar o adversário, quando este é competente. Em jogos complicados (e actualmente esses jogos são apenas 4, contra Braga e FCP, em casa e fora) temos zero vitórias em dois jogos.

VP esteve mal no berreiro mas temos de compreender que aquilo é showoff, aquilo é tudo feito "em cena", faz parte da cultura do FCP, desde há pelo menos 30 anos.

VP não é aquilo que vimos na conferência, como treinador.

Como pessoa revela o que tu próprio referiste no post anterior. É igual a tantos outros, nem melhor, nem pior.

Como treinador, é o melhor. Melhor do que JJ. E os resultados estão à vista.

A única hipótese do Benfica ser campeão chama-se "o FCP ir bem longe na LC". E isso é muito triste para um benfiquista (não pelo facto do FCP ir longe).

Marco Morais disse...

Rui,

Parece-me claro que o filme é repetido e que o Benfica se sente pouco à vontade frente ao Porto, na Luz, porque tem a obrigação moral de ser o arrasador Benfica que é apregoado antes do jogo.

Antes, o Benfica é o melhor ataque, o melhor plantel, e tem de imediatamente traduzir isso em campo. O Porto parece-me mais perto da real verdade das coisas. Entra forte, tranquilo e competente e isso intranquiliza o Benfica.

Foi evidente a confusão da defesa do Benfica nos primeiros minutos. Demasiado subida (à espera que o jogo se passasse no meio-campo do Porto) e mal preparada para as entradas dos médios e do extremo Varela. Trouxe isto a post porque, desde AVB, em todos os clássicos na Luz (juntamente com a supertaça de Aveiro) isto se passou.

Marco Morais disse...

Luís,

JJ é aquilo que é, para o melhor e para o pior. Os aproveitamentos que o Porto tem nos clássicos (mais na Luz) são por uma confusão de ideias na cabeça dele.

Ele quer indiscutivelmente assumir as despesas, mas não de um forma equilibrada. Quer a área adversária mas salta etapas e deixa o meio-campo desprotegido.

O discurso é, obviamente, de vamos para cima deles, o que deixa a equipa mal preparada para quando é o adversário a ter mais bola.

Não é equilibrado, portanto, e não me parece que no confronto directo tenha alguma hipótese de roubar pontos a VP.

Tem, ainda assim, outra hipótese. A de ser mais forte em todos os outros jogos e esperar que o Porto não acompanhe o ritmo. A LC, como dizes e bem, pode entrar nessas contas mas não me parece que seja factor primordial.

Um abraço =)

Rui Coelho disse...

Enquanto espera para ver o que o jogo dá, como o porto se apresenta, o benfica sofre um golinho. Neste caso dois, só que soube responder. Concordo.

Tasqueiro Emigrante disse...

Só faltou um ataque de jeito para ter sido o jogo perfeito na Luz.

O Anti Lampião disse...

Sofreu um golinho e poderia ter sofrido mais
http://3.bp.blogspot.com/-yS-teQNV574/UPQaYALJ_jI/AAAAAAAABMA/krJMjL1K55A/s320/5lb+x+FCP+fora+de+jogo+roubado+1+Defour.png
http://4.bp.blogspot.com/-R2nRfkfsiXg/UPNVxrTtPfI/AAAAAAAABLE/Tc12agIx278/s320/5lb+x+FCP+fora+de+jogo+roubado+34.png

(curiosamente, ou não, uns dias antes beneficiaram de um golo em fora de jogo
http://4.bp.blogspot.com/-yDo6V2gjCds/UO6k5djvr8I/AAAAAAAABKI/PfuSOL4qLik/s320/Benfica+3+2+Acad%C3%A9mica++Ta%C3%A7a+da+Liga++++fora+de+jogo+lima.png )


e o controlo de jogo podia ter sido maior
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=JM-mRWJyl1E

zorg disse...

Eu volto a insistir que o porto teve a sorte do jogo. Não é fácil uma equipa conseguir recuperar depois de estar a perder 2 vezes, ainda para mais quando uma delas resulta de um erro grave do GR (que desestabiliza não só o GR, como também o resto da equipa).

De resto, volto a insistir: o porto foi uma equipa competente, que vinha determinado a não perder (talvez pela falta de James) e acabou por se ver a ganhar por duas vezes sem saber muito bem como. O Benfica foi uma equipa que tinha sobre os seus ombros a responsabilidade de ganhar e procurou estar à altura dessa responsabilidade, apesar de não ter tido a sorte do jogo. O empate aceita-se porque praticamente se concretizaram todas as oportunidades de golo que foram criadas e acaba por reflectir o equilibrio das duas equipas nesta altura.

O meu desacordo com o post é que, se não li mal, este insinuava que o porto tinha entrado deliberadamente forte para desestabilizar o Benfica e que isso faria parte de uma estratégia pensada. Eu não concordo com isto, porque não acho que o porto tenha entrado forte. Acho que se está a confundir o facto de se ter visto duas vezes a ganhar, com uma entrada forte.

Marco Morais disse...

Zorg,

Acho que tu é que te estás a confundir quando pensas que digo que o Porto entrou forte por ter marcado dois golos.

A entrada do Porto não te disse nada. É legítimo. O máximo que posso pedir é que vejas os primeiros 10 minutos deste e se puderes dos outros jogos que referi no post.

Deixo-te também algo que pode ajudar ao ponto de vista que tentei explicar: http://jogodirecto.blogspot.pt/2010/08/como-o-porto-ganhou-supertaca-i-o.html

Mr. Shankly disse...

"VP voltou a vencer JJ. Claro como a água."
Não estou de acordo. Concordo que o Porto dominou durante 60 minutos (sem criar ocasiões de golo), mas a última meia hora do Benfica compensou os outros 60 minutos. Basta ver a estatística: iguais em remates, 50/50 em posse de bola, 7-1 em cantos para o Benfica. Acho que o domínio do Porto na primeira hora se deve ao medo cénico dos jogadores do Benfica (que já outros abordaram acima) e ao pressing fortíssimo que o Porto fez (daí o pontapé para o Cardozo, que é o que há a fazer nestes casos: o ano passado o Benfica sofreu contra o Sporting na Luz porque demorou a perceber isso mesmo e tentava sair a jogar). O problema é que esse pressing asfixiante tem custos físicos, e Moutinho e sobretudo Fernando estoiraram (tal como Matic) o que permitiu ao Benfica jogar como gosta, com maior verticalidade.
A estratégia do Porto era dominar, marcar cedo e potenciar o tal medo cénico. Teve sorte na forma como marcou (duas vezes) e azar por o Benfica ter conseguido em ambas responder imediatamente, o que matou o efeito psicológico da entrada forte.

Tasqueiro Emigrante disse...

Mas andaram a ver que jogo?

O Porto viu-se a ganhar sem saber como?

Mas vocês viram a entrada que o Porto fez e a primeira parte?

O Porto para além dos golos não teve mais oportunidades mas o Benfica para além dos golos também só teve a do cardozo, mais nada.

O Benfica contra o Porto nunca consegue fazer o jogo de ataque que faz contra equipas mais fracas, o que demonstra que tem duas caras.

Marco Morais disse...

zorg, ficamos assim. Se há coisa que eu aprendi é que para a maioria dos adeptos não se pode dizer que clube x fez mais (algo ou alguma coisa) do que o deles.

O esforço que fazes para não ceder é inglório. Destaco a 'sorte' com que o Porto marcou - como se eu tivesse falado nisso -, o desviar para o lado na discussão, e o facto do Benfica ter duas caras.

Nunca me respondeste a nada, o que me torna legítimo que eu também o faça a partir de agora.