A escrivaninha espanhola serviu para Neymar desenhar magia

O ensaio geral para o Mundial'2014 foi, em termos futebolísticos, um sucesso. O formato da 'Taça das Confederações' assim o permite e foi um regalo ver o ambiente nos estádios coincidir com o futebol praticado por Brasil, Espanha, Itália e Uruguai. Para o ano, com a Alemanha, a Argentina, a França, a Holanda, a Colômbia e, claro, Portugal, o Mundial que atormenta a alma dos brasileiros pode ser mesmo - dentro dos estádios - o melhor de sempre. Para já o Brasil recuperou estatuto quando infligiu à Espanha a melhor derrota que a Selección alguma vez poderia ter tido.

Pode ser ilógico, irracional e roçar a loucura que uma derrota seja boa? Será compreensível pensar-se que sim quando ainda não sabemos o que ganharemos com ela. Por estas linhas já o leitor deverá saber do que falo mesmo que ainda não tenha lido a parte em que garanto que a Espanha, ao perder a Taça das Confederações, andará muito mais próxima de revalidar o Mundial do que se tivesse batido o Brasil no Maracanã.

Só de pensar já assusta: bater o Brasil no Maracanã! não é de facto um feito para todos. E a Espanha, a determinada altura (coincidente com o jogo contra Itália) já demonstrava nos rostos, e nas pernas, que a derrota andava perto. É que não é preciso ser um génio para se saber que não se ganha sempre. E mesmo batendo nos penáltis a tão deliciosamente matreira Itália, o desafio de ultrapassar o Escrete no Maracanã nunca é o que parece até... se colocar um pé no relvado. E se for o esquerdo então...

Já se deve ter lido centenas de vezes em algum mural 'fatela' algures no Facebook que: 'se pode correr mal, então vai correr de certeza'. E isso, apesar da brejeirice negativista, até foi verdade para a melhor selecção mundial. Sofrer um golo aos 2', outro aos 44' e outro aos 48' revela muito timing. Se lhe juntarmos o corte imperial de David Luíz, antes do golo do novo craque mundial Neymar Jr., ficamos com a ideia de que algo andava com ódio ao castelhano dentro do Maracanã. Ou isso, ou que algo andava tremendamente a favor do Brasil. Sinta-se o ambiente, sinta-se o dedo de Scolari, sinta-se a confiança no rosto de Neymar e de Fred (já Hulk anda ali claramente a mais) e veja-se quem são os donos do recinto e da bola. Já do lado espanhol e apesar da anterior e imaculada marcação de penáltis, a confiança esmorece no peso de ter que ganhar sempre e sempre e sempre e, ainda mais... sempre.

É um peso que Espanha não podia levar para o Mundial. Bob Fernandes, do Terra Esportes, diz que há um jogador do Brasil (adivinhem quem é) que em campo "parece estar carregando, além da bola, um fogão, umas quatro ou cinco cadeiras e uma pequena escrivaninha", mas a sua comparação acerta também em cheio em cada jogador espanhol que entrou no mais mítico estádio mundial para tentar derrotar os donos da bola. Aposto que para o ano será muito mais fácil deixar ficar, em solo espanhol, os móveis e electrodomésticos, e que a história será diferente fazendo com que a Confederações 13' tenha o mesmo lugar na história da Confederações 09'. Mas, quem sabe? é que por lá, também andará a Alemanha.

Resultados e prognósticos à parte, na Confederações 13' ganhou-se um novo craque mundial. As más experiências com o Youtube já põem até os amantes de FM em dúvida quanto mais qualquer europeu habituado a ver defesas fechadas a cadeado, mas Neymar soube estar à altura das expectativas e demonstrou uma maturidade impressionante. E para além do faro pelo golo, a recepção e a manutenção da posse explicam o porquê da inflacionada aposta do Barcelona. De facto, Neymar Jr. é perfeito para a ala esquerda dos culés fazendo com que o espectáculo esteja garantido em Camp Nou. Que chegue rápido, pedimos.