É
mais que sabido. Se um treinador ganha, e convence, pode ir para o
banco vestido como quiser, com a barba e penteado que quiser e ter, lá, a
atitude que quiser, que isso tornar-se-á sempre moda. E essa é uma
palavra que está directamente ligada com o treino, pelas sensações que o
discurso, plano de jogo e, essencialmente, os resultados provocam. Ora,
André Villas-Boas sabe-o bem. Ele que
quando saiu do FC Porto - com Liga, Taça de Portugal e Liga Europa no
bolso - se tornou o técnico da moda na Europa. A aura de quem ganha tudo
suplanta a razão e mais não quis o Chelsea, quando o levou da sua
'cadeira de sonho' até Stamford Bridge, do que emular as conquistas que o
jovem técnico havia conseguido em tão pouco espaço de tempo.
E
tudo isso foi sempre uma questão de crença ou até, se quisermos, de fé.
A experiência com Mourinho - um dos pioneiros da moda (ele que tornou
em ícones o bloco de notas, o sobretudo, o discurso agressivo e
confiante e a barba por fazer) - havia corrido bem e o jovem AVB era o
sucessor ideal para voltar a fazer com que Stamford Bridge se tornasse
de novo atraente para o Mundo do futebol. É que depois de Mourinho, nem
com a Liga dos Campeões (conquistada com um futebol extremamente
aborrecido) o tornou a ser. Mas André não vingou. E não vingou sobretudo
porque foi traído. Foi-lhe prometida a renovação total de um plantel
que seria, supostamente, escolhido por si, mas a manutenção dos
'eternos' colocou em causa a sua liderança no balneário dos blues. AVB
começou por agir como se eles não estivessem lá mas as suas presenças
foram reclamando lugares no 'onze', adiando a prometida renovação - que
deveria ter acontecido no defeso.
E, claro, uma casa dividida
entre si nunca, por nunca, subsiste. Villas-Boas acabou por sair do
Chelsea numa altura em que o FC Porto ainda não tinha formado o líder
Vítor Pereira. O técnico de Espinho não conseguia impor o seu jogo e os
resultados, e futebol, apresentados nunca chegaram a convencer na
primeira época aos comandos do Dragão. Mas AVB refutou sempre a hipótese
de voltar à Invicta pois não lhe interessava regressar ao ponto de
partida, e à zona de conforto, mas sim tentar provar que o seu talento
chegava para a Premier. A sua aura chegava ainda para haver interesse
britânico e foi o Tottenham a dar-lhe a mão e a oportunidade de mostrar
se o seu futebol realmente se compadecia com o efeito criado na época
2009/10.
Uma experiência que conheceu, nesta segunda-feira, o
seu fim. Um término que nunca terá que ver com uma primeira época em que
os spurs lutaram, até à última jornada, pelo objectivo principal
(quarto lugar) e em que chegaram aos quartos-de-final da Liga Europa. No
entanto o futebol esteve sempre algo longe do rótulo que o próprio AVB
criou. A aproximação às ideias de Pep Guardiola, e ao seu Barcelona, não
encontraram paralelo numa ideia de jogo que subsistiu sempre mais pelos
intérpretes do que pelo colectivo. A liberdade total dada a Gareth Bale
fazia sentido, mas um meio-campo pouco criativo juntamente com o cariz
vertical dos restantes jogadores fez cair a posse-de-bola no
esquecimento.
Daí que tenha dado sempre a ideia de que AVB
queria outras características no seu plantel. Algo que ficou provado nas
compras feitas com o dinheiro realizado após a inevitável saída de Bale
para o Real Madrid. Se na primeira época o técnico lutou pela
permanência de Modric e acabou sem nenhum criativo no plantel (Van der
Vaart saiu em janeiro), as compras de Eriksen e de Paulinho começavam a
desenhar um Tottenham mais dono e senhor da bola. Juntamente com um
avançado mais posicional e, muito menos, vertical que Defoe (Soldado),
os spurs foram sempre senhores da bola quando o dinamarquês esteve em
campo. As boas sensações haviam voltado a White Hart Lane, com períodos
de futebol extremamente apetecível. O problema para o técnico é que o
seu maestro é de cristal e as suas lesões não auguravam uma utilização
regular. E sem ele, o jogo dos spurs tornou-se tão amorfo - em termos de
oportunidades - criadas como se o futebol se tratasse de um jogo sem
balizas.
E o problema de não criar não é só o de marcar pouco.
Também a defesa fica demasiado exposta, e a dos spurs foi, sempre,
reconhecidamente o calcanhar de aquiles da equipa. Se excluirmos o
guardião Lloris, o único defesa de classe mundial que AVB teve à
disposição foi Vertonghen. E se os laterais ainda escapam (Rose e
Walker), os restantes centrais (Kaboul, Dawson e Chiriches) são de um
nível que em nada tem a ver com a competitividade da Premier. O desastre
que atirou AVB para fora de White Hart Lane (leia-se goleadas frente ao
City e ao Liverpool) tem, então, muito que ver com a relação
plantel-sistema de jogo-linha defensiva. Nunca teve um maestro que lhe
potenciasse um sistema de jogo que lhe segurasse a linha defensiva. Mas
dito assim, pode parecer que Villas-Boas não teve responsabilidade na
formação do seu plantel. Teve tempo e dinheiro para formar uma linha
defensiva e teve sempre Lamela (o único que podia chegar aos níveis de
Eriksen) no banco ou na ala. E, por isso, foram também erros próprios a
dar origem a dois resultados que não se compadecem com o que a aura e
discurso do técnico prometeram. Os spurs não podem perder por 6-0 e por
0-5 num curto espaço de tempo e ao mesmo tempo quererem afirmar-se como
uma das equipas mais fortes da Premier. Não o são, não o foram e ainda
que o pudessem vir a ser não chegaram a tempo de salvar a aura de André.
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6 comentários:
Em época de crise e ainda com 36 anos nao se poderá queixar muito.....
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=3591543
Sem saber ler nem escrever leva com duas indemnizações brutais...
Há gajos com uma sorte incrível na vida.
Excelente Marco!
Tks PM =))
LOl ao comentário do Pedro(SLB).
Com 36 anos, com 1 campeonato e 1 Liga Europa é muito mau treinador.
Que dizer do Jesus...em 4 anos 1 campeonato,3 titulos perdidos...4.2 milhões/ano....sem saber ler, escrever, nem fazer pinturas numa sebenta.
PS: Nem falar :)
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