domingo, janeiro 31

À somba da Amoreira

"Vai tomar no c...", podia ter dito Brahimi, a Peseiro, aquando da sua substituição, ontem na Amoreira. Claro que podia, mas é óbvio que não era a mesma coisa. Isto para lembrar outro anúncio da ZON, visto que durante a semana a conversa girou sempre à volta daquela Linha que separa o FC Porto candidato ao título daquele dragão zombie de Fonseca, Lopetegui e, se quisermos, daquele dragãozito de Taça da Liga. Tinha razão de ser, até. Afinal de contas desde Vítor Pereira, há coisa de três anos e muito, não se via o FC Porto ganhar no António Coimbra da Mota. Depois, para complicar, até a Ponte se invocou, aquela que assustava os dragões antes de Pedroto. Tudo conversa de matemáticos na qual qualquer um cai. Mas não vamos lembrar o estado da economia mundial, até porque o futebol é bem mais simples. Pelo menos para José Peseiro, que em três jogos conseguiu aquilo que Lopetegui demorou quase época e meia a conseguir: virar um jogo a seu favor.

E, ainda por cima, o FC Porto convenceu. Lá lembrarão os críticos os supostos problemas defensivos das equipas do Zé e lá irão na conversa os mesmos que são comidos todos os dias pela relação preço do petróleo/preço da gasolina. Disso ou da dívida, aquela outra que não é a que a SAD tinha para com os adeptos do FC Porto durante os anos em que a equipa se afastava (ver imagem abaixo - 2013) e arrastava por campos como os do Estoril-Praia. Dito isto - bem mais baixo do que aquilo que Peseiro bradou quando sofreu um golo madrugador e que ameaçava deixar a casa em pedaços - há que lembrar e enaltecer que nem nos melhores sonhos de qualquer portista a equipa se iria exibir naquele plano frente ao Estoril. O Estoril, vejam lá, esse colosso! Mas era esse doente pessimismo o estado de alma de cada portista que já viu este filme várias vezes. Uma delas até começou também no Coimbra da Mota, com outro Zé (Couceiro) e com vitória (1-2), para acabar sabemos como - ironicamente, à frente de Peseiro mas sem o título.


No entanto há vitórias e vitórias. Há essa na Amoreira, no início de 2005, há aquela, frente ao Marítimo, há coisa de uma semana, e há esta, a de sábado. Não só pela desvantagem, mas pela acção (e não reacção) demonstrada por uma equipa que, lembro, não era há uns dias mais do que um grupo de zombies enjaulados dentro de uma caixa mental que os fazia jogar (só!) para o lado e para trás. Não se viravam jogos, assim, pudera! E Peseiro carregou tanto no acelerador que até assustou aqueles habituais e chatos penduras que vêem a parte vazia de cada copo a meio enquanto vão travando em seco num pedal imaginário. Agora são problemas defensivos, garantem! E quais? aqueles que permitiram ao FC Porto - pela primeira vez em dois anos e meio - estar, na maior parte do tempo, extremamente bem posicionado face ao adversário? Ou serão aqueles que ensinaram Danilo a estar no sítio certo e até, juro, a encostar ao centrais quando é preciso? Já para não lembrar que o génio táctico de Herrera até já faz coberturas ao seu companheiro num duplo-pivot que nada tem a ver com a aberração que afundou o Porto pós VP.

Juram a pés juntos que são defensivos os problemas que permitiram duas ocasiões de golo aos canarinhos (uma delas a aproveitar uma zona na bola parada que ainda não tem confiança em si mesma, e outra em que Indi, para não variar, ficou a dormir), esquecendo-se que se há algo a apontar no futebol de encomenda com que os azuis-e-brancos brindaram os seus descrentes adeptos, essa é a falta de controle de jogo com a bola. Essa [falta] permitiu que o jogo, a olho nu, ficasse mais dividido do que a realidade. Mas essa, a realidade, não mentia: o FC Porto reaprendeu a posicionar-se e a criar soluções ofensivas para afastar de vez o tão propalado fantasma do basco. Ora o que pode aqui fazer confusão, e criar desmesurada ilusão, é que o Estoril não é tão bom assim para ser considerado um duro teste. Bem sei que tantas vezes se repetiu que a tal Linha era perigosa, e que a mesma serviu, há umas semanas, para relançar o outro candidato que andava meio que aos zigue-zagues na estrada do título. Mas, porra, as únicas coisas que faziam o Estoril ser difícil para o FC Porto já não existem: um treinador que agora brilha no Olimpo e um futebol que envergonhou (ou pelo menos devia) qualquer adepto portista.

 

Outros testes se seguirão, com algumas equipas que fazem mais do que tentar criar alguma dificuldade nas saídas-de-bola para aproveitarem, depois, as transições. Este Estoril é macio e já o tinha sido contra a equipa que fará aquele (real) teste pelo qual todos os portistas anseiam. Eles que da Luz têm (d)as melhores recordações possíveis, 'vão' agora cheios de dúvidas para um jogo que servirá para se aferir se Rui Vitória roubou mesmo o software a Jesus (engraçado que agora a equipa do Benfica está bem mais parecida tacticamente com a do seu antecessor, do que quando juravam que o mal de Vitória era não ter ideias próprias), ou se Peseiro é homem para em três semanas de trabalho oferecer mais soluções aos seus jogadores do que o seu rival em meio ano. É um desiderato tramado, não é? Seja ou não seja, o Benfica-Porto já aquece, num clássico que marcará a diferença entre o estilo (sempre) emocional do Benfica e um experimentalismo cerebral de Peseiro. Acima disto não há nada, diria Luís Freitas Lobo. Mas há sim: o Sporting.

Correcção: na foto 2, onde se lê Varela, deve ler-se Corona. 

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