O facto deste dragão não se sentir bem em casa era algo que as estatísticas mascaravam, e era algo que os mais atentos esperavam ver resolvido com a evolução que José Peseiro trouxe ao FC Porto. O problema é que, nem que fosse um mágico, Peseiro não poderia resolver em semanas questões que ficaram bem evidentes na primeira derrota caseira da época, frente ao Arouca. Aquele bloqueio caseiro, que já havia afectado e muito a qualidade de jogo da equipa na pior exibição da época frente ao Marítimo (1-0) voltou em força, embalado pelo golo mais rápido da época (11''). Mas, com 90 'e tal' minutos pela frente, os azuis e brancos só confirmaram a enorme distância mental que os separa dos dois primeiros classificados. Falta de confiança, falta de clarividência e, porque não, falta de qualidade. Eternidades a pensar e demoras para decidir, redundaram numa enorme falta de fluidez. E, quando por obra divina a bola girou por onde devia, ficou a nu porque o Benfica goleia e o FC Porto atira ao lado, atira fácil para o guarda-redes, ou atira contra as pernas adversárias: o killer-instinct é coisa que (já) não mora no Dragão, porque está assente em jogadores sem estofo mental para serem campeões.
Depois, a ironia com que o futebol brindou a opção de Peseiro por Ángel e por Maicon (Maxi e Marcano cumpriram jogo de suspensão) foi dura demais para um treinador que, lembro, não podia perder pontos. O primeiro golo surge pelo lado de um lateral que já havia demonstrado falta de condições para defender esses lances, e o segundo revela, pela enésima vez, a falta de qualidade de um central muito utilizado nos últimos... 6 anos. Ora, se Peseiro tem feito o que se impunha na esquerda (continuar com o efeito diagonal de Layún e ir buscar García à B - o mexicano nunca perderia o 'duelo' que fabricou o 0-1, ao mesmo tempo que se torna muito imprevisível na faixa canhota pelos seus movimentos interiores), ainda continuaria a ter que apostar num jogador que chega tarde às bolas, que não assume a saída de bola em condições (fá-lo, tomando sempre decisões precipitadas), e que tem tanto bom jogador como o segundo golo dos arouquenses demonstra.
Isto, dias depois de o Benfica ter que jogar com Lindelöf - depois de Luisão e Lisandro se lesionarem - e depois do bicampeão golear na casa de uma das equipas mais interessantes da Liga. E por mais defeitos que se lhe apontem, ou dúvidas que gere, o futebol das águias é (muito) mais intenso e perigoso que o do FC Porto. Que os primeiros golos - aqueles que metem a águia a voar e os adversários a chorar - surjam de cruzamentos com um grau de eficácia assustador (e que dificilmente se repetirá em jogos com equipas de igual valia) não pode cair num campo de análise referente ao clássico que se aproxima. Isto porque olhando para o momento do FC Porto (em que já nada contam as vitórias anteriores a este absurdo resultado averbado neste domingo) e para a descrença em todas as suas acções (defensivas e ofensivas), os dragões não deverão ser cotados entre as equipas que podem encontrar forma de anular o software que Vitória encontrou para levar de vencidas a maior parte das equipas da Liga. E o FC Porto não faria parte dessa larga maioria de conjuntos, se a cada rodopio inconsequente de Brahimi, se a cada a bola que escapa a Corona e a Varela, e se a cada golo cantado que Aboubakar ou Marega deixam escapar, não tivessem erros defensivos que Peseiro - por mais boa vontade e portismo que aparente ter - já não vai a tempo de corrigir.
96 minutos teve o FC Porto para levar o jogo para onde mais lhe convinha. Mas a capacidade para isso esbarrou numa muralha amarela e na incompetência para arranjar soluções que a derrubassem. Como já dito, o dragão não foi intenso, não teve killer-instinct para aproveitar as poucas ocasiões que criou (salvo um erro arbitral que se anula com o penálti descarado e perdoado a Indi) porque não confia em si próprio como, por exemplo, o Benfica confia. E é essa confiança desmesurada que separa agora as duas equipas por seis (!) pontos, sendo que a que vai à frente é a que já perdeu esta época no Dragão. O que, convenhamos, diz muito bem da forma, e fórmula, que o Benfica encontrou para fazer um trabalho que, sublinho, tem de ser considerado excelente, como diz da maneira com que o FC Porto deixou escapar a superioridade moral, e até táctica, que tinha sobre o adversário da próxima sexta-feira.
Assim, se Peseiro tinha duas boias a que se agarrar, parece que o coruchense terá escolhido a errada. De outra maneira não se pode explicar o tal bloqueio mental que tomou conta da equipa, se não pelo facto de Peseiro se ter agarrado à boia que tinha escrito 'Campeão da Liga 15/16'. Ao invés de ir pelo lado mais seguro, José Peseiro stressou a importância de vencer, mesmo sabendo que seria quase impossível o seu Porto não escorregar aqui ou ali. Acontecendo antes da ida à Luz reforça a ideia que psicologicamente a equipa não aguentou a pressão, até porque as suas exibições forasteiras foram deixando indicadores positivos. Agora, como fazer, em cinco dias, os jogadores acreditarem que vão dominar e marcar na Luz? como fazê-los acreditar que podem travar o elevado índice de aproveitamento do bicampeão, ao mesmo tempo que têm bem presente a sua (falta de) condição defensiva - a mesma que permite erros atrás de erros, desaires atrás de desaires? E, depois disso tudo, como motivar os jogadores a agarrarem uma vitória que, a acontecer, os deixará com os mesmos três pontos de atraso em relação ao Benfica com que entraram para esta jornada?
Este é o pensamento de quem se focou no título. Esvaziada essa boia, como previsivelmente viria, mais cedo ou mais tarde, a acontecer, resta agora apertar no botão reset e arranjar a forma mais portista de todas para travar o Benfica na sua casa: pressão alta, espaços reduzidos, muita circulação de bola (até para especular e defender, porque não?), muitas diagonais dos extremos, subidas dos laterais e chegadas dos médios à área. Em suma, travar a componente emocional do Benfica e jogar a maior parte do tempo no meio-campo ofensivo para provar que o Ferrari não é para ruas estreitas. Depois, campo curtíssimo (com especial atenção na única opção para a saída-de-bola dos encarnados: Renato Sanches, sempre muito desacompanhado nesse momento). Tudo isto, e muita determinação e inteligência para evitar as divididas, chegaria (ou chegará?) para limpar a imagem, independentemente do resultado final. Já vi coisas mais difíceis de acontecerem em futebol, especialmente sem a desmesurada pressão do título por trás. Claro que para isso, o melhor Peseiro terá, forçosamente, de aparecer para mostrar à equipa, e aos adeptos, aquilo que não conseguem ver.
8 comentários:
Fica a ideia que o porto pouco ganhou com a saída de lopetegui, jogam cada vez pior, pode ser que consigam ir roubar pontos a luz mas depois do jogo de hoje fica difícil de acreditar.
Temos que agradecer ao silencio da sad perante as manobras de vitor pereira. Bdc por vezes fala de mais mas tem toda a razao em relacao a esse senhor
E nao percebo a parte de criticar o Peseiro por ter sido ambicioso no discurso. Nao se esperaria outra coisa
No mercado de Janeiro o Porto escolheu andar brincar a roubar jogadores ao Sporting entre os quais o portentoso Marega, ao mesmo tempo que jogava areia para os olhos dos adeptos.
Agora começa a estar à vista os resultados. Se calhar, só se calhar, teria ido melhor para o clube irem buscar um central. Mas não foram buscar o Marega. O Sporting agradece!
Ainda hoje me custa a acreditar que o SCP tenha andado a negociar Marega... Se o Sá ainda faz sentido para o lugar de boeck já marega nao faz qqr sentido e ainda menos com 1 clube com quem temos tão más relações.
Se o Sporting ganha hoje, o Porto apenas poderá sonhar com o segundo lugar e o jogo da próxima sexta é completamente decisivo. Espero que o Porto pontue na Luz...
Excelente, Marco. Abraço.
Abraço, Ricardo =))
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