Não há dias maus! O dia 'mau' é criado pela mente humana, pelo seu conceito dualista entre o bom e o mau - uma visão a preto e branco, digamos. Por isso é que a 'tragédia' alemã que aconteceu aos dois colossos espanhóis não passa de uma chamada à realidade. Durante os últimos anos, o 'casulo' europeu foi fechando Barcelona e Real Madrid. Os catalães e a sua ideia de jogo revolucionaram a entrega de títulos e os merengues foram 'líderes' na sua perseguição. O tempo gasta as ideias e a transcendência está sempre à espera de uma oportunidade para mostrar que é ela a única panaceia para a vida. E quando não se encontram soluções para transcender, tragédias acontecem.
"Pensámos que seria mais fácil do que o que realmente foi", apontou Pepe ao fim do encontro com o Borussia Dortmund da passada quarta-feira. Aqui, nestas declarações, se explica muito do que aconteceu ao Real mas também ao Barcelona. O 8-1 infligido pelos germânicos aos dois colossos da 'Liga de las Estrellas' começou a ser desenhado dentro da caixa onde se meteram Barcelona e Real Madrid - levando com eles os seguidores de um e de outro clube - ao longo dos últimos anos. Se não houvesse Barcelona - como este ano há, por exemplo, bem 'menos' - teria de haver Real Madrid e a derrota de um levantaria imediatamente o outro para o topo. Certo? errado!
Muita da culpa da estrondosa derrota do Real Madrid frente ao humilde Borussia foi provocada pela queda dos catalães. Tronos por direito próprio é coisa de humanos mas o Universo não funciona assim, e nas suas contas um Real esfrangalhado mereceria uma lição de humildade. Uma equipa cujo o seu ciclo se baseou na perseguição ao Barcelona teria que cair com o maior rival. Se o ciclo blaugrana acabasse o Real caíria sempre com ele, visto que os merengues assim se habituaram - a perseguir e a esperar que o destino abatesse o maior adversário. O Real não se preocupou em suplantar e em criar um ciclo vitorioso mas em esperar que o tempo corroesse as ideias catalãs. Estaria assegurado o trono, pensaram em Madrid.
Já o Barcelona, que teve um ciclo digno desse nome, cheio de vitórias que marcaram realmente um período temporal, não encontrou forma de transcender o passado. Entre a 'marcha' de Guardiola e a chamada do ausente por força maior Tito, a equipa e o seu futebol perderam identidade para segurar um Bayern que é uma força da natureza. Só um jogo perfeito amarraria os bávaros na sua fortaleza, mas o Barça nunca conseguiu impor o seu jogo. A falta de paciência é enorme e o controlo que dela advém perdeu-se. A equipa já não volta atrás quando se encontra perto da área adversária porque, nos grandes confrontos europeus (principalmente fora de casa), já não passa metade do tempo, sequer, lá à frente. A posse é quase estéril e feita entre a defesa e o meio-campo, sem aquele 'morder' avassalador que empurrava o seu adversário para a baliza.
Ainda assim a história é grande e a esperança nunca acaba, por isso nesta semana fala-se mais em 'remontada' que em humilhação. Ninguém duvide que é possível até porque o futebol não acabou nesta semana tão reveladora. Mas como o fazer? Como chegar ao nível exigido para tão alto(s) feito(s)? Real e Barça certamente olharão para o passado, para o que já foram capazes de fazer noutros tempos, quando a suas identidades reinavam. Poderão aí encontrar motivação e a certeza de que é possível virar as eliminatórias, mas conseguirão reproduzir o futebol necessário para dar o troco a duas equipas alemãs que foram sempre mais equilibradas nos seus percursos? O que fazer para criar descontrole em todo aquele frio equilíbrio?
Golos serão a resposta óbvia, mas para os marcar terá de haver potência na organização ofensiva de cada colosso. Em ambos este 'momento' do jogo perdeu qualidade - se bem que no Real nunca teve muita - e terá de ser (re)fabricado numa semana. Com Guardiola os blaugrana eram uma máquina de inventar ataques, hoje a fraca imaginação aparece com a ausência prolongada do líder. Muito mais vertical (em relação ao de Guardiola) o 'tiki-taka' de Tito perde muitas bolas e a recuperação está mais longe de ser feita. Esse não será um jogo para correrias. Será primeiro para controlar, para depois empurrar e acelerar (com inteligência) junto à área bávara. Já o Real Madrid não poderá fazer uso da sua maior arma: a transição. Terá de assumir o jogo, de tocar e controlar. E ainda - tal como o Barça - terá de se preocupar com a transição do rival. Missão impossível? Não. Mas do mais difícil que já vimos? isso de certeza!
2 comentários:
Granda post, puto. Parabéns.
Muito obrigado, Luís! =)
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