Julen Lopetegui pode dar espectáculos de ignorância táctica a cada jogo de capital importância, mas os jornalistas que o questionam, nas salas de imprensa dos estádios onde deixa pontos, não são melhores no seu ofício do que o espanhol no dele. Interessa-lhes o lugar, o emprego, interessa-lhes o físico, o emocional, a consequência das más opções. Não lhes interessam essas mesmas opções e as ideias que estão por detrás delas. Por isso, vão direitos ao assunto com um chorrilho de frases-feitas e factos de algibeira para se atirarem ao espanhol. Tal como ele, meus caros, não sabem mais. Nem tampouco sabem como Lopetegui deixa pontos em estádios onde o adversário (já) sabe que lhe basta marcar um golo em tempo 'útil' para sobreviver - sendo que o do Dragão também já faz parte deles, desde que lhe perderam o medo. Se soubessem [os jornalistas] podiam contribuir para um discussão que levaria Julen Lopetegui a ter que reconhecer os seus erros. "Chispa de campeón", perguntam-lhe! E eles? sabem o que é isso?
Tinha Jesualdo "chispa de campeón", porque o foi três vezes? Não me parece (perguntem a Jesus). Tinha Adriaanse que o foi por uma vez, resgatando a Liga... ao Sporting? Também não me parece. E não tinham estes dois, como muitos mais que o foram de Dragão ao peito, porque não tinham, sequer, adversário para se gabarem de tal qualidade. Chispa de campeón... Até Fonseca vem à baila, ele que não foi mais que um zero à esquerda do seu esquema e que só com trabalho em Paços e em Braga consegue ser mais bem amado no Porto. Quando esteve, de facto e realmente, na Invicta foi o que se viu. Pior, bem pior, que o seu sucessor. Um sucessor que peca pelo quase, que peca pelo seu novo 'trivote' e que peca pelo capítulo defensivo - o mesmo que tenta controlar à força com uma posse-de-bola 'fácil' e 'segura' pelas faixas laterais. Uma posse que, na realidade, é a mais perigosa de todas porque os centrais não atraem pressão longe da baliza do FC Porto, porque os laterais e os extremos gastam uma e a mesma linha de passe, e porque, nunca por nunca, o trinco - o tal que dizem ter sido o melhor em Alvalade - nunca por nunca, lembro, ocupa o espaço à frente dos centrais, como faz figura de corpo presente na transição defensiva, quando essa 'posse' é perdida. Depois, o espaço entre defesa e meio-campo e entre meio-campo e ataque faz-nos pensar que estamos a ver jogos... nas Antas.
Julen é o típico treinador do quase - tal como muitos que o FC Porto conheceu aos rivais em anos já algo distantes. As suas (duas) equipas já mostraram espírito competitivo, já mostraram saber ir a estádios adversários controlar, mandar, dominar. Ambição tem ele (demasiada para as suas vulgares ideias) e ainda no sábado passado entrou a querer procurar o meio-campo do Sporting, conseguindo-o e criando as primeiras reais oportunidades do jogo. Com pena, para o portista comum, o lopi-team foi perdendo a tranquilidade própria e o respeito adversário. Pelos seus erros na escolha do onze e nas opções tácticas, demasiado antiquadas, o FC Porto sabe que o tiki-taka com molho de francesinha* é uma ilusão e que está, sempre, à beira de sofrer um golo que a sua organização ofensiva terá mil chances de anular. Contudo, essas mil chances esgotam-se no 'um-para-um' de extremos talentosos mas que teriam de ser 'Messis' para ultrapassarem as marcações individuais e as constantes dobras. Soluções? Perdas de bola ou cruzamentos, cruzamentos, cruzamentos. E, nesta quarta-feira, contra o Rio Ave, poderiam ser mesmo mil que o resultado seria o mesmo: a defesa dos vilacondenses a sacudir tudo o que apanhou, Cassio a agarrar, e a sacudir, também, tudo o que pôde. Resultado: mais de uma dezena de cantos, todos eles - menos um - batidos de novo, e à primeira, para a área. Sintomático.
Tudo à custa de um golo sofrido curiosamente conseguido com um ressalto no tal jogador que nunca por nunca ocupa o espaço que tem de ocupar. Culpa dele? ora essa... culpa de quem tem à disposição uma videoteca com jogos azuis e brancos que lhe podiam resolver problemas para os quais não sabe achar solução. Duvido mesmo que saiba que existam [os jogos e os problemas], tal é o atraso com que o basco parte para Jorge Jesus na compreensão do jogo e tal é a falta de portismo que ele apregoa. E se o «es lo que es/es lo que hay» das 'flashes' não se estende à ressaca do golo sofrido com o Rio Ave - desânimo profundo na cara do timoneiro que vê o Universo a conspirar contra ele e contra a sua equipa - nunca o FC Porto de Lopetegui sairá do buraco onde se meteu. Pelo contrário, continuará a gastar a enormidade de posse-de-bola em lances estéreis e a deixar os seus melhores jogadores com três a quatro adversários para ultrapassarem. O vulgar e mediano treinador português já percebeu isso. Só Julen é que ainda não. E o que é que isso faz dele? Alguém que não vira jogos já sabemos, e o resto?
*tiki-taka com molho de francesinha é uma expressão que li e adorei. Não me lembro é onde, pelo que só posso deixar esta estéril, como a posse do Julen, referência.
3 comentários:
É sempre bom vir aqui ler e aprender com as tuas dissertações, obrigado Marco.
Ontem só vi o jogo do FCP a partir dos 85 minutos, o que retratas do jogo foi exatamente o que vi ... a posse de bola estéril no meio campo defensivo e os cruzamentos em catadupa para a área do Rio Ave.
Comparando com o JJ (e mesmo com o Marco Silva) os cruzamentos para área são cada vez em menor número mas imagine-se geralmente acabam por ser mais perigosos, sendo que quase que se pode dizer que nem todos tem autorização para cruzar :) esse papel cabe essencialmente ao Jefferson e ao Bryan Ruiz.
Ontem o SCP deu um recital mas no fim só valeu 3 pontos.
SL,
Obrigado, Sérgio.
Com o Marco Silva não comparo. Não me parece melhor treinador do que Lopetegui. Poderá vir a ser melhor, mas não acho que, para já, o seja. Sobre Jesus estamos conversados. Dá muitas soluções aos jogadores e muito jogo-interior para que o desfecho não sejam cruzamentos sobre cruzamentos. Também os permite mas com mais critério.
Ainda não pude ver o jogo do Sporting - nem o do Benfica.
Abraço
O marco Silva começou com boas ideias mas muito rapidamente o jogo do SCP passou a ser charutada para a área e fé em Slimani.
Lotopegui não é 1 Grande treinador. Mas uma das cruzes que ele carrega é as pessoas acharem que ele tem 1 super plantel quando na realidade essa superioridade só é visível nalgumas posições. A sad teve alguma culpa em lhe ter oferecido 1 plantel com qualidade mas muito desequilibrado.
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