Não está nos adeptos, desculpem - aqueles que ainda assim reclamam mais por ele, mas que, desculpem de novo, não sabem o que é. Não está nos jogadores, que, 'pobres coitados', cumprem com o caminho que lhes mostram, não tendo ninguém - ao contrário do que se tem feito - de lhes apontar a vontade de vencer. Mas vencer e, sobretudo, saber vencer, são outra coisa, independente de vontades. Que eles correm e tentam, ficou em Guimarães bem evidente, e a falta de portismo que se lhes aqui aponta é só por não saberem como. Pudera. Isto porque, dizia, o portismo deste hiato de quase três anos também não está no(s) treinador(es). Não esteve em Fonseca, não esteve em Lopetegui, assim como não está em Rui Barros - que me desculpe este enorme senhor, grande profissional, que ontem, por razões que vou explicar abaixo, acabou por confirmar a sua inaptidão para técnico principal dos dragões. E, é óbvio, não está na SAD que confirma também o seu método 'tiro de sorte', tornando a escolha do treinador no ponto mais importante dos acima referidos. Hoje, Adriaanse não seria campeão, Jesualdo idem, Fernando Santos e Carlos Alberto Silva não chegariam. Sobram dois, ou três, para recriar aquilo que foi conquistado e não há visão para se ver isso noutros 'dois ou três' que andem por aí.
O treinador, dizia acima, tornou-se no ponto mais importante dos referidos, porque foi através dele(s) que a SAD manteve viva a chama das conquistas. Sabe-se hoje que a estrutura viveu às costas das vitórias dos técnicos que, por sua vez, formaram equipas 'à Porto'. Hoje, repito, muitas delas não chegariam para vencer a Liga, mas no actual estado de coisas, três delas conseguiram o objectivo principal - que é o de ser campeão nacional. Desfeito que está o Porto de um 'traidor' e de um 'banal com futebol monótono', ficou o dragão às mãos de Jorge Jesus. E é essa dependência que torna cada escolha de treinador como a questão principal da época. E como se viu, novamente, ontem, não é qualquer um que pega no FC Porto e entende aquilo que ele precisa. Assim, foram aproximadamente 90 os minutos que os dragões tiveram para dar a volta a um erro individual que causou desvantagem. E foram também aproximadamente esses mesmos minutos que confirmam, mais uma vez. todo o 1.º parágrafo: Portismo procura-se.
A desvantagem em futebol é uma coisa normal para um campeão. Talvez por isso Julen Lopetegui nunca o tenha sido, ele que virou um jogo uma única vez - ele que ocupou o 1.º lugar também por uma única vez e de forma bem fugaz. Rui Barros, nas duas primeiras metades no Bessa, mostrou melhorias que o FC Porto, quando pressionado, não soube manter. E ontem, frente a um adversário intenso, picado, e orgulhoso, todas elas ficaram à vista. Pior que isso, não foi preciso muito para travar - na maior parte do tempo - o dragão. Bastou um 2 para 2 na zona da saída-de-bola e um meio-campo pressionante, assim como uma organização defensiva solidária, e o FC Porto ficou, como sempre (desde o início da época), à toa. Saída a três? Laterais projectados? médios entre-linhas? Dá muito trabalho 'ser Porto'. Mais fácil é escrevê-lo a acabar os tweets.
Porém, a falta de visão não acaba aqui. Por toda a segunda metade, Corona - um dos mais talentosos da Liga - foi daqueles, também, que mais bola teve. Nada de mal aqui, não fosse o facto de, tal qual como com Lopetegui, o mexicano estar a fazer o trabalho... de um lateral. Ora, quando Silvestre Varela foi chamado, um portista à séria (ainda existem?) pensaria que o lateral-direito iria tomar banho mais cedo, entregando a linha ao extremo recém-entrado, passando Corona (um dos mais talentosos da Liga, lembro) a deambular com liberdade para chegar à área, salvando Aboubakar da ilha deserta que se tornou. Resultado real: Corona foi retirado de campo e Maxi foi subindo a conta-gotas ao invés de se fixar como extremo qual Layún do outro lado (e ainda assim o uruguaio criou perigo). Mas, mais, na iminência de ter que utilizar um plano B, Rui Barros continuou na senda das decisões tácticas que tantos dissabores têm causado ao FC Porto: o 4x4x2 clássico. Não pelos dois avançados - que também reclamei acima - mas pelo auto-aniquilar de um 'miolo' que já com três unidades é (sempre) comido por oposições mais intensas.
Assim, por mais simpatia que se tenha, não se pode dizer que o FC Porto fez tudo. Mais ainda, nunca se poderá dizer isso, quando todas as decisões (e falta delas) apontadas só travaram o FC Porto de si próprio, de ser aquilo que nos últimos anos só foi à custa de treinadores que nunca tomariam estas decisões e que teriam plano para tornear uma equipa que, repito, (só) foi solidária, agressiva e intensa, sendo o seu único rasgo táctico aquele que já todos perceberam: bloquear os dois centrais portistas na saída-de-bola - o que é suficiente para deixar o FC Porto desconfortável, intranquilo e... sem soluções. Depois, quando essa linha de pressão é ultrapassada, um 'amontoado' de jogadores solidários e com algumas noções defensivas faz o resto.
Hoje, Casillas carrega o peso disto tudo. Nas manchetes, nas conversas de café e... nos próximos cruzamentos para a área. Mas uma equipa 'à Porto' teria soluções para lhe oferecer a vitória e reafirmar a confiança que tem no seu guarda-redes - para o mal e para o bem, até porque já se sabe desde o início que o lugar é dele por decreto. E milhares serão os portistas que vão na conversa e que crucificarão aquele que, para o bem e para o mal, é um dos seus. Ao fim do texto, mais do que procurar o portismo, apetece-me perguntar se ele realmente existiu ou se foi emprestado pela mão de três ou quatro verdadeiros portistas sendo recolhido na hora das vitórias pelos restantes.
7 comentários:
"Ao fim do texto, mais do que procurar o portismo, apetece-me perguntar se ele realmente existiu ou se foi emprestado pela mão de três ou quatro verdadeiros portistas sendo recolhido na hora das vitórias pelos restantes."
Se calhar é mesmo isto.
Excelente texto!
Mais 1 excelente texto.
Como é.possível o porto despedir o treinador e estar 3 semanas sem apresentar novo técnico?!
Parece claro que PDC só esta a fazer figura de corpo presente e que Antero não está a ter capacidade para liderar o clube.
Acho que o Rui Barros poder ficar até ao fim era uma hipótese mais forte do que se pensava.
Antero parece-me um gajo forte na hora da vitória, como aliás todos os dirigentes em Portugal :P
Acredito que o problema pode ser mais grave e que financeiramente a coisa pode estar a bater no fundo.
Era um milagre que não estivesse. Novas oportunidades...:)
Peseiro. Bom futebol mas muito inconstante. 6-1 ou 0-1 :)
Acho peseiro o treinador mais injustiçado da última década em Portugal.
Não sei se é uma boa escolha porque estamos a falar de um treinador que tem imagem completamente queimada publicamente.
Eu bem estranhei a hipóteses Leonardo Jardim e Marco Silva a obrigação de ter que indemnizar o SCP deve ter feito abortar o negócio a partida.
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