Não é nada fácil a escalada emocional que é derrotar o próprio ego e
mais difícil, se não impossível, é provar a sua perfeição. Daqui nasce o
problema do FC Porto 2013/14, que é
também o - agora muito mais claro para todos - problema do seu treinador
ou, se quisermos, da sua concepção futebolística. Depois deste FC
Porto-Áustria Viena se continuará a falar de sorte e da falta dela. Do
que não se ouvirá falar é do que reduziria a cinzas as explicações de
ocasião para a falta de ordenamento colectivo da 'série Fonseca', o que
será o mesmo que dizer que a ideia do treinador portista não funciona em
campo e deixou, jogo a jogo, o FC Porto sobre as brasas que agora o
queimam.
Indo por aí se tornaria normal a explicação para os
erros crassos dos jogos para a Champions - que também já se tornaram
normais para a Liga. Mas para Paulo Fonseca essa [explicação] tinha um
só nome: Otamendi. O central argentino tem estado na origem de várias
perdas de bola completamente displicentes e, para esta importante
recepção aos austríacos, o técnico decidiu abdicar do internacional
argentino (apostando em Maicon) esperando com isso resolver o problema
dos golos oferecidos. Mas essa 'malapata' parece não ter cura singular
mas sim colectiva, isto porque aos 10 minutos esse vírus invadiu outro
jogador portista. A vítima, desta feita, foi Danilo que, com um passe
desmedido para o centro do terreno, ofereceu a Kienast a hipótese de
bater Helton ainda fora da área.
E se dissemos, acima, que o
problema é colectivo, esse é então da inteira responsabilidade do
treinador, porque, até ver, treinar não devia servir para desaprender de
jogar. Mas a verdade é que a 'Paços de Ferreirização' a que este Porto
foi sujeito roubou os níveis de confiança a uma equipa que não tinha por
hábito desperdiçar oportunidades de ouro como aquela que o Atlético
Madrid lhe ofereceu nesta 5.ª jornada da Liga dos Campeões. Uma prenda
colchonera que o FC Porto 'recusou' por não ter a mínima ideia de como
chegar à baliza de Lindner sem ser pela rudimentar tentativa que é
cruzar para área sempre, sempre e sempre. Algo que, ainda assim, serviu
para criar oportunidades mais que suficientes para bater uma equipa que,
com organização competente (e confiante em si mesma), sairia goleada do
Estádio do Dragão.
Daí que mais uma vez se vá falar em azar,
esquecendo-se que tudo tem uma explicação. Ora se para um jogador do FC
Porto já é, neste momento, quase impossível fazer dois passes sem errar
um, como será tendo a baliza pela frente? Adicione-se-lhe ainda a
pressão que é estar a perder pela terceira vez consecutiva em casa -
logo depois de já se ter empatado também para a Liga - e encontraremos a
razão para só Jackson (pudera!) ter conseguido bater Lindner. O resto
foi um rotativo Alex Sandro e a repetida rodagem do lugar que vai pondo
Fonseca em cheque. Defour, Josué e Lucho passaram de novo por lá, sem
ordem e sem organização suficiente para se tornarem recorrentes as
chegadas à área de um passado recente. É um facto que se perderam
Moutinho e James, mas é agora também cada vez mais aceite o facto de que
o mais grave foi ter perdido a ideia, o plano, o sistema, o estofo...
FC Porto-Áustria Viena, 1-1 (Jackson 48'; Kienast 11')
Foto: Lusa
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12 comentários:
No ultimo jogo estiveram a ganhar.
António quis referir-me ao facto estar a perder pela terceira vez consecutiva em casa para a LC.
MAs também não há treinador que resista a tanto golo falhado na cara do GR.
Tento dar explicação para isso no texto. E, sim, parece-me responsabilidade do treinador.
Marco,
como sempre, muito racional e objectivo, muitos parabéns.
Se o ultimo jogo do campeonato passado do FCP fosse contra por exemplo o Maritimo, o treinador do Porto tinha sido o Pedro Martins e não o Paulo Fonseca... agora queixem-se
LC =)
Já vi treinadores despedidos por menos. Ex: Bobby Robson.
vamos ver até quando PF se aguenta.
É bem verdade isso que falas da alteração nefasta de sistema mas nomeadamente no jogo com o Nacional, faltou aquela pontinha de sorte necessária.
É a diferença entre o Jackson falhar no último minuto ou o Rodrigo marcar por exemplo
Hugo, a pontinha de sorte é coisa que não existe. Deixa-me dar-te um exemplo. Com os níveis de confiança e de colectivo normais o Porto tinha dado 5 ao Nacional. E quando se dá 5 elas podiam muito bem ir para o guarda-redes, ou para o poste, ou para a bancada.
A VP aconteceu o mesmo. Não havia equipa, não havia organização porque o treinador demorou a enquadrar-se, como deve ser, no seu trabalho. Era claramente, naquela altura, um treinador em formação que foi sabendo dar a volta por cima fruto de ter experiência de casa. E, essencialmente, de saber o que faltava.
Parece-te que Paulo Fonseca tenha isso? a mim não, mas esperemos que tenha uma na manga e que eu tenha de dar a mão à palmatória de novo.
Marco
Também não me parece que Paulo Fonseca tenha isso. E depois de ouvir a terrível conferência de imprensa de hoje, já perdi as esperanças em que alguma coisa vá mudar.
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