sexta-feira, dezembro 18

A lição

Há semanas vi o Benfica espetar 6-0 ao Belenenses. Depois vi o FC Porto vencer o Chelsea no Dragão, assim como os dois jogos contra o 'doce' do seu grupo da Liga dos Campeões. E ainda tive tempo para ver o bicampeão ir ao Bonfim marcar quatro, para depois ler o seu técnico reclamar atenção para o seu ataque. Vi tudo isto mas não me enganei. Apontamentos há que permitem que equipas não tão fortes assim passem por equipas. E nem é preciso escrever mais do que equipas - coisa que FC Porto e Benfica, versões 15/16, não são. E muito dificilmente chegarão a sê-lo, adianto, por mais quatro ou cinco que dêem, por mais colossos que derrubem - como foi também o caso dos encarnados no Vicente Calderón. Dois 'conjuntos' que não me enganaram, dizia, porque lhes falta aquilo que faz as boas equipas. Paupérrimos a atacar e sem noções defensivas evoluídas, águias e dragões têm os seus treinadores a prazo. E se (só) o sucesso os salvará do despedimento, resta lembrar também que nem o sucesso os salvará da mediocridade. E a prová-lo está... José Mourinho.

É a liga do espectáculo, dos grandes golos, dos resultados incertos e dos craques mundiais. Das libras, dos contratos televisivos e dos bem apetrechados estádios. Mas tudo isso não faz da Premier a melhor liga do planeta. Não faz porque um Chelsea medíocre, como era o do ano passado, foi campeão. E se não fosse um Chelsea medíocre seria algo pior como o instável City ou o sempre verdinho Arsenal. Há um par de anos, pasmem, podia até ser um Liverpool sem qualidade individual milionária e que deixava o seu criativo no banco. Na Premier tudo pode ser incerto e por isso excitante, mas a única certeza é que o futebol jogado não tem nível suficiente para ser, sequer, considerado como melhor de alguma coisa. E só quem não percebe isto é que não percebe o que se passou com Mourinho na segunda metade do ano. O futebol já era mau - os apoios ofensivos e defensivos não existiam e as entrelinhas eram, e continuaram, buracos abertos ao caruncho a defender e zonas de laser verdejantes a atacar -, só era preciso que a realidade o confirmasse com um par de resultados negativos. Depois, como dar a volta sem soluções tácticas e técnicas para o fazer? É que os blues podem ter craques, mas se Mou não lhe dava os melhores posicionamentos, como não transformar cada craque dos pensioners numa espécie de herói contra o Mundo? O sucesso com o titulo em maio passado não quis dizer absolutamente nada, porque esse Chelsea nunca seria campeão em nenhum país que tivesse uma, ou duas, verdadeiras equipas.

Assim, por mais Evas Carneiros que se lembrem, o desaire de Mourinho é ideológico. É táctico, se quisermos. Por não perceber a evolução que o futebol sofreu, Mourinho iniciou a frequência na World School of Hard-Knocks. E só de lá sairá quando voltar a olhar para o jogo de agora e não para o jogo de há 10 anos. Já Rui Vitória e Lopetegui não correrão o risco de deixar quer Porto, quer Benfica, a 1 ponto da linha da água, mas já colheram a vergonha de ver meio Portugal perceber o quão atrasados estão os dois no que ao jogo diz respeito. E muito podem aprender um com o outro na falta de presença dos seus jogadores em zonas que hoje decidem o jogo, assim como na lateralização enfadonha e constante dos seus ataques. Meios-campos sem um pingo de criatividade e fé nos cruzamentos ou jogadas individuais (alô Brahimi! alô Gaitán!). Sim, Hazard também não ia gostar deles.

7 comentários:

LDP disse...

Concordo com tudo. Embora não conheça a realidade portista tão bem como a do meu Benfica, permite-me dizer-te que gostaria de ver sporting ou porto jogarem sem Luisão, Sálvio, Semedo, Gaitán e Tonel.

Todos ao mesmo tempo e em mais do que uma jornada apenas.

Marco Morais disse...

O Tonel tivemos nesta última ida à Madeira :P, mas não encontro ninguém tão influente no Porto como Luisão, Gaitán e Sálvio. Pode até haver jogadores do mesmo nível (Brahimi, Corona...) mas quando o estilo de jogo não revela o que há de melhor neles, posso dizer que o Porto joga sem um Gaitán e um Sálvio. E o Benfica também. Não é essa a minha guerra, como sabes, LDP.

Parece-me grave é que Porto e Benfica joguem sem treinador à altura dos seus pergaminhos. A jogada de BdC foi de mestre, mas só porque nas SAD's de Porto e Benfica continua a reinar a ignorância em relação ao que é o jogo de futebol. Basta lembrar que se desfizeram de dois treinadores bicampeões. Haja croquetes para as estruturas.

Abraço!

Ace-XXI disse...

O SCP começou a época a jogar sem William e Ewerton e logo depois ficou sem o carrilho...

Parece me evidente que dos 3 continuamos a ter o plantel com menos qualidade (nos melhores 11 a diferença é mínima) conseguimos foi traZer 1 treinador que apesar dos seus defeitos (em braga voltou a ser infeliz na gestão da equipa) é claramente o melhor do campeonato e potência os jogadores ao máximo.

LDP disse...

Comparar o Ewerton ao Luisão...? Carrillo ao Gaitán..?

Jorge Borges disse...

O Carrilho está para o Gaitán como o Sporting está para o Benfica. Bem visto...

:)

Mike Portugal disse...

Bom texto Marco. Eu acrescento uma coisa. Mourinho não só, não evoluiu, como aparentemente, regrediu taticamente. E parece-me que a coisa se deu quando passou por Itália e acabou por ser campeão no Inter. Ficou convencido que, por ter sido campeão, aquela seria a melhor ideia de jogo. Se ele se conseguir libertar destas ideias que tem agora, poderá voltar a ser o melhor.

Ace-XXI disse...

Mas o SCP alguma vez jogou com gaitan ou Luisão?!

Carrilho é o nosso maior desequilibrador e Ewerton o nosso melhor DC e o SCP já teve de jogar sem eles e venceu, a mim parece—me situações comparáveis mas enfim.

Já agora dentro das comparações na minha opinião Carrilho com JJ seria no final da época considerado o melhor do campeonato e Ewerton é superior ao actual Luisão (até Lisandro e jardel o são).