O Natal conta o que conta. E, por isso, mil e uma explicações se hão-de arranjar para o FC Porto voltar a festejar, cinco anos depois, uma liderança isolada no período festivo. Desde André Villas-Boas que os 'Bons Natais' não eram entoados desde o Dragão, num período que nem Vítor Pereira, nem Paulo Fonseca, conseguiram desfazer. Três lideranças, sim, mas... partilhadas com um adversário de registo para os portistas: Jorge Jesus. O adepto mais distraído chamar-lhe-ia Benfica. O mais confiante chamar-lhe-ia Sporting. Mas o verdadeiro 'culpado' dos poucos Natais descansados dos azuis-e-brancos dá mesmo pelo nome de... Jesus. Esse mesmo, o que num período de extrema confiança foi ultrapassado pelo aprendiz de feiticeiro e ficou, por essas alturas, a uns bons sete, oito, pontos da liderança em 2010/11. Confiança desmesurada? Talvez a mesma com que o Sporting encarou a viagem à Madeira que o fez saltar da liderança. "Nunca nos passou pela cabeça", garantiu Jorge. Mas talvez a cabeça de Danilo Dias tivesse sempre uma palavra a dizer. O Sporting conseguiu, num golpe de asa dado em junho, aproximar-se do lugar de discussão pelo título - algo que não perdeu e algo a que certamente terá acesso no período decisivo - mas teima em não mostrar regularmente a faceta que faz do seu conjunto aquele que tem mais potencial intrínseco para festejar em maio. Com a equipa tão subida a impedir e, até mesmo, a sufocar as saídas do adversário - com um imperial William a controlar as costas dessa pressão - os leões agigantam-se. Mas com pena dos adeptos leoninos, essa versão surge poucas vezes para o objectivo a que o Sporting se propõe.
Equilíbrios e leitura de jogo é aquilo que ainda falta ao Sporting de JJ. Ontem, na Madeira, os leões esqueceram-se de algo do qual só se lembraram no fim: o domínio territorial e mesmo o domínio em termos de oportunidades claras de golo, não é garante, em futebol, de coisa alguma. E o esforço leonino, impedido pelo guardião do União, poderia ser facilitado com algumas armadilhas que os leões ainda não aprenderam a montar. Desde logo a pouca mobilidade do ataque - os posicionamentos estão lá, mas as tabelas 'a la Saviola e Aimar' aparecerão quando? Para quando o baixar de bloco que atrai os adversários para os matar em transição? E para quando a tranquilidade que tudo isso traz a uma equipa que, na Liga, tem que ganhar, ganhar, ganhar...?
Foi impressionante a subida de qualidade, em alguns processos, por parte do Sporting. O que torna impressionante, também, o modo de operacionalizar de Jorge Jesus - Vítor Pereira, no Fenerbahçe, demorou muito mais tempo a acertar. Ainda assim, os quintais da Liga continuam a ser armadilhas para Jesus e qualquer outro. Tanto, que os dois pontos de vantagem que o FC Porto guarda para o Sporting, e os quatro que guarda para o Benfica, não são garante de nada. Um portista sonhador pode sempre dizer que uma vez quebrada a malapata (Lopetegui nunca tinha sido líder isolado, não obstante ter tido várias chances para o ser) o FC Porto de outros anos voltará, incólume. Mas esses eram outros tempos. Tempos em que a liderança estava sempre na mente, não havendo lugar a rotações desmesuradas, e desnecessárias, e não havendo lugar a períodos de recreação que tornaram a estratégia dos adversários num "queremos enervar o Dragão". O FC Porto entrou forte, marcou, geriu e acelerou de novo para um resultado esclarecedor e condizente com o que se exige ao seu conjunto. Danilo soltou-se e quebrou a monotonia de um 'duplo-pivot' que a lesão de André criou, sendo um dos jogadores mais influentes na vitória de um regresso natalício ao topo. O ex-Marítimo marcou de cabeça - é a par de Maicon a única arma para as bolas paradas que acabam na área do adversário - e ganhou o livre que deu o 2-0, numa incursão que prova a inversão de um triângulo que tem sido maldito para o FC Porto.
Contudo, convém relembrar, estes são dois pontos de vantagem que nada garantem. A incerteza de Lopetegui é bastante para continuar a separar e a qualificar jogos. Os 'grandes' - que merecem a atenção e a lupa do técnico para mais uma invenção - e os 'pequenos', onde a equipa é contagiada pela letargia criada pelo pensamento de que 'o golo aparece'. Ontem, com a liderança em jogo, o FC Porto forçou a vitória. Esse é o FC Porto que os adeptos pedem, e só Lopetegui vê semelhanças entre o de ontem e o ritual pastoso que são a maioria dos jogos da sua equipa.
O mesmo se aplica a um Benfica incapaz de criar perigo de bola corrida em boa parte dos seus jogos. Claro que na Luz, ambiente que acaba por empurrar para trás os adversários, o talento faz toda a diferença. E quando, desta feita, o Rio Ave explodiu fisicamente e o bloco-baixo o deixou à mercê do bicampeão, a vitória tornou-se incontestável. Tão incontestável como, pelo menos, dois penálties que ficaram por assinalar a favor dos encarnados e que, certamente, dariam outro descanso à equipa de Rui Vitória. Não houve penálties mas houve Jonas, o tal que já se mete(u) em questão para que o 'sistema' preferido de Vitória apareça. Parece-vos credível, trocar o Indiana por um qualquer sistema de... Rui Vitória? Perguntem a Alberto Bueno como é que o 'Jonas' portista se vê relegado para uma ala a troco de uns míseros minutos e a troco de manter o 'miolo combativo' que mete menos medo a um medroso por natureza. Coisas da bola, as mesmas que levam o patinho-feio Herrera (que belo golo!) a provar a anterior falta de chegada à área do sistema lopeteguiano. Agora imaginem que ao lado do mexicano aparecia(m) Bueno, ou Evandro, ou Sérgio Oliveira... de André ainda se lembram, não?
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