sexta-feira, maio 20

Sai mais uma dose

De mais uma conquista europeia azul já quase tudo foi dito. Que o jogo foi aborrecido, muito por culpa do FC Porto, que o Braga foi igual a si próprio e que o golo de Falcao foi o que mais importou, já todos sabem. O que porventura ainda pouca gente falou são as constantes, e generalistas, associações de que os fenómenos portistas são alvo. Não chegou toda uma época a tentar-se colar os feitos do Porto de Villas-Boas a Mourinho e ainda lhe querem atribuir mais uma Liga Europa 'honoris causa'? Já não chegavam os árbitros que agora, nem sendo espanhóis, se safam...

Mourinho é bom já toda a gente o sabe, mas esta não é dele. É do miúdo, do 'kid', do 'boy', do 'como lhe quiserem chamar', que tem ideias próprias e que foi beber a várias fontes para criar uma identidade, uma ideologia, que lhe permitiu chegar ao sucesso. Inegavelmente, como o próprio o afirma sem pejo, o Special One é uma delas, mas inegavelmente também tem tanta importância nesta conquista como Van Gaal e Sir Bobby Robson tiveram nos títulos do melhor treinador do futebol mundial.

Toda a constante associação teve lógica até um certo ponto e até admito que esse ponto seja a conquista 'uefeira' de Dublin, mas não mais. A partir daqui, não terá a mínima ponta de lógica continuar a associar-se o nome de um treinador que, como se sabe, já deu tudo o que tinha a dar ao maior clube da cidade Invicta. Agora, André provou que é possível e que nem tudo gira à volta de Mou. Provou que é possível ganhar 'à Villas-Boas' e que nem só o que vem da mente do 'papa-títulos de Setúbal' interessa.

Incomodaria a toda a gente, certamente, ver o seu sucesso constantemente encoberto por outrém só porque foi o 'mestre', o 'professor', ou o 'que quer que fosse'. Sinceramente nem se sabe bem o que foi, mas terá sido, certamente, quem lhe deu a oportunidade como a si lhe deram outros. Não queiram, nem continuem a fazer mais do que as coisas são. Mas sim, sei que vivemos num país onde cada um tem uma explicação generalista sobre o porquê da miséria em que o mesmo vive. Quem nunca ouviu 'este país está como está por causa...'?

E o argumento lançado a seguir é sempre tão redutor como as explicações que dão para as conquistas azuis. Tão redutoras e mesquinhas que dou graças a quem se lembrou de usá-las para proveito próprio. Esta também é (mais) uma Taça dele! E muitos continuam a tentar decifrar a receita secreta como se de a Coca-Cola se tratasse, mas continuam tão aquém porque nunca mas nunca lhe vão atribuir valor. Vão sempre pegar numa qualquer mesquinhez e reduzirem-se a eles próprios.

E o melhor exemplo disso mesmo é pegar-se num jogo de 90' e reduzir-se a um (que neste caso nem existe) erro do árbitro. Muito se esforçam os 'furões' dos resumos televisivos com repetições e enfoque nas disputas à bola do jogo e muita opinião facciosa sai à rua no único 'lancezeco' onde podiam pegar. "Ufa", pensam eles, "a dose de 'casozinho' já cá canta, já tava a ressacar". Fica então, no meio do devaneio, a saber-se que um jogador que tem amarelo não poderá fazer mais uma falta sequer sob pena de ver um segundo cartão amarelo. E seja que falta for, pois mais não interessa para se generalizar e matar o vício.

Algo tão idiota como andar a farejar no meio do nada, como confundir trufas com oxigénio. Fossem eles tão habilidosos para descredibilizar com base na bola e encontrariam algo para julgar. O nervosismo e o afastamento da identidade já lhes dariam razões de sobra mas o golo de Falcao tudo calou, nesse sentido.

P.S. Acho que foi de mestre a dedicatória da Liga Europa, também, a Guardiola. Falta dizer algo mais ou 'já chega' serve?

1 comentário:

Alexandre Ferreira disse...

Pequenez com pequenez se paga. Digo-o muitas vezes - a obsessão com o «outro» mais não é do que isso. E transborda ao mais alto nível do FCP. O que só diminui em vez de, definitivamente, o engrandecer.
No que toca à dedicatória foi, mesmo, de mestre. Um grande, inteligente (e poliglota) comunicador, indeed.