quinta-feira, novembro 6

Doutrina de 'Lopi' silencia Catedral

Ficaria bem em qualquer filme: A cerimónia decorre em silêncio, apática até, e, de repente, ouve-se um estrondo. A porta que protegia os crentes do temporal abre-se, a água entra pelo chão mas as pessoas parecem, ainda, não se importar. Chama-lhes a atenção uma sombra: - É ele?! perguntam os mais desatentos. - Claro que é ele! afirmam os experientes. - Queriam que fosse quem?! isto está marcado desde o fim de agosto, exclama Ernesto Valverdo enquanto, de soslaio, se escapa. Julen Lopetegui é o homem de quem todos falam. Ele, e o seu exército de dragões, entram pela Catedral de San Mamés adentro. Julen, só pára no púlpito, de onde Valverde já tinha fugido. A partir daí o segue-se um monólogo. Um estranho monólogo, sem reacção por parte de um povo que fica estranhamente apático. Nota-se-lhes uma certa faísca nos olhos, uma vontade, pelo menos, mas o corpo, a boca principalmente, não tem reacção. Lopetegui fala à esquerda, fala à direita, exclama para o ar e para o chão. Mais forte em tudo, a sua ideia retirou os opositores da Catedral e ficou livre para conquistá-la. Um discurso imponente mas  superiormente ajudado por vários disparos de fogo dos dragões que o acompanhavam. Dois deles (Jackson e Brahimi) acabaram por ser decisivos para a conquista de Bilbao. Seguem-se agora ucranianos e bielorrussos, antes do aguardado prato principal: os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

Esta é, claro, a versão cinematográfica de um reencontro (Athletic- Porto) que trouxe novamente ao de cima uma das melhores facetas do 'Lopi Team'. Fora de casa, como no início da época frente ao Lille, os dragões já haviam mostrado uma maturidade competitiva que lhes permitia sonhar com o triunfo em qualquer lugar. E mesmo com as indecisões seguintes (Guimarães e Alvalade) as réplicas não foram de todo criticadas como haviam sido os desempenhos caseiros frente a Boavista e Sporting - este último para a Taça de Portugal. Uma virtude que terá de ser enaltecida, visto que essa vontade, coragem e sobretudo capacidade (muitos o querem, poucos o conseguem) em muitas épocas de Europa não acompanha os portistas. Recorde-se por exemplo a época gloriosa de Vítor Pereira, a segunda, onde em Paris e em Málaga o dragão nunca se conseguiu impor. Mas, adiante, com esta facilidade ninguém sonharia. Daí que o Athletic, o rival que mais assustava no Grupo H, tenha passado imediatamente de 'coco' a... brinde.

Isto porque o Porto tem essa capacidade, é verdade. Isso e jogadores que colam o pé à bola. Alguns deles, até, fazem mais do que isso. De tal modo que acabou por ser delicioso ver Jackson e Brahimi, segurarem, rodarem, caírem, levantarem-se e começaren tudo de novo até que o mais importante se deu. Se durante toda a primeira-parte a constante e habitual mudança de flanco dos portistas deu cabo dos rins de uns bascos que se posicionavam para pressionar (campo curto) mas sem vontade de o fazer (nunca se terá visto em casa um Athletic tão insosso), deixando todo o outro lado destapado para as investidas do dragão. Foi assim que o argelino atraía para a ala esquerda, foi assim que Óliver virava o jogo, que Danilo aparecia e cruzava e que Jackson falhava à beira do golo. E o jogo até nem corria de feição ao colombiano. A confirmá-lo esteve, pela enésima vez, uma grande penalidade ganha por uma simulação de Danilo. O engano do árbitro da partida deu oportunidade ao Cha Cha Cha de demonstrar de novo porque um penálti não é uma boa notícia para o FC Porto.

Tudo isto numa primeira metade onde os dragões foram bastante superiores e onde o mesmo Jackson, e Martins Indi na mesma bola, tiveram oportunidade para desfeitear Iraizoz, assim como Brahimi e Maicon assustaram a Catedral, e de que maneira, depois de dois livres frontais. Estava lançada a primeira cartada de um FC Porto que esperou, no segundo tempo, pela resposta. Valverde já se habituou à boa maneira 'basca' de fazer duas alteraçoes ao intervalo. Claro que resta-lhe agora aprender que o truque (de lançar Muniain e Iraola, dando a posição '10' a De Marcos) não resulta sempre. Ainda assim os bascos subiram, um pouco, as linhas e conseguiram maior presença no meio-campo portista. Isto até Brahimi se lembrar de Arouca e fazer do último terço dos bascos uma entrada para a auto-estrada antes de servir Jackson no primeiro golo. Definitivamente a noite era dos portistas. O sistema funcionava de novo e os fantasmas passavam para o outro lado. E qual FC Porto intranquilo e inseguro, o Athletic até acabou por oferecer o segundo golo a quem mais o mereceu: atraso de Laporte para Iraizoz (GR), pé furado, recepção falhada, e Brahimi livre para encostar. É verdade! é oficial: A maldição ficou no País Basco e Valverde é o novo Lopetegui.

1 comentário:

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

O penalty do Danilo foi tão bem tirado como aquele corte para canto com os braços do Jardel. No 2º golo do Porto a bola ressalta no relvado e escapa-se ao redes.

PS: Fabiano a bater penalties s.f.f.