domingo, março 6

Saída-a-três

Paulo Fonseca fica outra vez ligado a um falhanço do FC Porto. Mas, desta vez, o ex-técnico azul-e-branco 'sai' numa posição muito mais confortável do que quando deixou, há dois anos, o Estádio do Dragão. E se os dragões tinham na Pedreira um terreno bastante confortável, nos últimos cinco anos, desta vez não chegou a boa entrada na partida, nem algumas oportunidades criadas, para perseguir um sonho que, em caso de vitória, ficaria a três pontos. Uma vitória algo habitual que, desta feita, não aconteceu porque o FC Porto teima em sofrer como o actual líder teima em marcar. E sem  competência defensiva, juntamente com uma organização quase inofensiva, é impossível haver campeões.

Era um cenário já traçado, sendo que era também o cenário mais provável. No fio-da-navalha, os portistas teriam que ter, aliado a um controle emocional transcendente, um futebol que lhes permitisse enfrentar as adversidades sem dar espaço a qualquer dúvida. Mas o que é facto é que, para além da reviravolta no Estádio da Luz, não mais o FC Porto de Peseiro voltou a demonstrar um futebol capaz de fazer sonhar os seus jogadores - quanto mais os seus adeptos. E mesmo lembrando a boa entrada num jogo que arredou definitivamente os dragões da vitória no campeonato, resta também lembrar que esse domínio durou até Paulo Fonseca ordenar uma saída-de-bola que premonizou a saída do FC Porto da luta pelo primeiro lugar. Uma saída a três que levou à saída do FC Porto da luta a três, e que acabou com a pressão azul-e-branca - até aí bastante eficaz no roubo de bola alto, especialmente aos desprotegidos médios bracarenses - e que, esticando os laterais, começou a levar o jogo dos gverreiros para o meio-campo portista  (como prova ver a bola no poste de um Casillas até aí bastante folgado).

E com resposta ao (melhor) jogo, até então, do FC Porto, apareceram também as dificuldades. E aí o FC Porto é perito em ceder, como demonstram o final de primeira-parte - que mesmo assim não fez bolas baterem nas redes de Casillas - e uma segunda metade cheia das habituais ofertas e brindes do momento defensivo dos dragões - que para além dos golos sofridos ainda permitiram mais uma bola no poste da sua baliza (Rafa). Estava difícil criar - Rúben Neves não chega(va) para jogar ao lado de Danilo, como não chega(va) para prescindir totalmente do ex-maritimista - mas fácil ceder - como exemplificou Marcano no lance do primeiro golo do jogo. Uma desvantagem (habitual) que fez José Peseiro (já na bancada, depois de ser expulso por Xistra, ainda na 1.ª parte, por reclamar uma suposta falta sobre Danilo) reagir ao incompreensível duplo-pivot que não solta Rúben, nem deixa confortável o espírito (somente) guerreiro de Danilo. Depois, André lá deu lugar ao agora desinspirado e descrente Jesus... Corona, e o inenarrável Marega prosseguiu na senda de justificar, quase sozinho, o porquê deste plantel não ser, em nada, o mais forte da Liga. Já antes, Aboubakar explicou porque é que o limitado tecnicamente, mas extremamente agressivo, Suk lhe roubou o lugar.

Nem o lampejo de lucidez de Brahimi (coisa rara no actual futebol do argelino), e que descobriu a habitual chegada à área de Herrera (à qual valeu a eficácia de Maxi Pereira, depois de defesa de Marafona ao remate do mexicano), chegou para dar vida nova onde já não há Luz. Realmente esfumou-se no Estádio do Sport Lisboa e Benfica o espírito portista que, neste momento, é demasiado escuro, mórbido e descrente, para poder bloquear, ou reagir a, adversidades. Olhando para a maneira como o SC Braga chega à vantagem (desorganização defensiva completa que nasce fruto de muita gente na frente sem que isso sirva sequer para atacar bem), e como a dilata (bloqueio mental de Casillas que, no fim de carreira, quis ser... Neuer) percebe-se totalmente que o regresso aos Aliados terá de esperar, pelo menos, mais uma época. Sobrará a Taça (numa Final também contra o Braga) e os nove jogos que faltam na Liga para Peseiro mostrar capacidade para desapegar os jogadores de uma pressão que lhes consumiu e toldou o potencial. Sem isso não criará melhor futebol do que aquele que já mostrou - e que não chega. E sem esse melhor futebol não haverá cadeira de sonho. 

1 comentário:

Peyroteo disse...

O Braga está a fazer uma grande época. Já o Porto, está um bocado desorientado...