sexta-feira, março 18

Tribunal da Pedreira

Ainda bem que o árbitro não viu, é que Hassan está claramente deslocado no momento do passe, narrou o comentador da SIC aquando do primeiro golo da partida entre o Braga e os turcos do Fenerbahçe. Embalados pelo espírito nacional, é logo outra coisa. Esqueçam a imparcialidade e a isenção que isso são coisas para outro tipo de trabalho. Para os juízes, por exemplo. Tem os braços encostados ao peito, a bola embate-lhe... narra um, mas há aquele movimento do braço (que ilude o árbitro), comenta outro. Porém nada disso interessa. Não é um jogo de Liga, não tem Benfica, Porto, nem Sporting. Não são por isso precisos Tribunais d'O Jogo ou coisa que o valha. O Braga tombou os turcos e, por isso, os portugueses seguem em frente. G'anda Braga!

Realmente para nada interessará como o Braga o fez. Sim, porque no meio dos erros de arbitragem que ofereceram dois golos aos minhotos, a equipa de Paulo Fonseca também aproveitou as falhas da equipa de Vítor Pereira. E embora tendo sofrido, bem antes do intervalo, o golo do empate - que a obrigava a marcar dois golos (e a não sofrer nenhum) para seguir em frente, o Braga - depois do 2-1 e da expulsão de um turco que mais não fez do que encostar os braços ao peito e ficar com as mãos a ferver depois da bolada que levou - agigantou-se. Sabemos agora que o Braga consegue. Consegue dominar, esticar, empurrar, circular e marcar. Pena que até aí (ao lance que marca a eliminatória) o Braga (só) tivesse mostrado uma saída-de-bola que quando funciona é extremamente interessante (e vertical) e que quando não funciona deixa Matheus à beira de um ataque de nervos.

Mas mentimos se dissermos que Paulo Fonseca não estudou bem o adversário. Foi inacreditável a distância entre as linhas média e defensiva do Fener, assim como o mau controle da profundidade feito por Kjaer e... Bruno Alves. Fizeram o favor de dar Markovic, Van Persie, Nani, Fernandão e Diego a Vítor Pereira, mas deixaram-no à mercê de uma defesa que nos pode indicar duas coisas: ou eles são tão maus que não aprendem, ou Vítor Pereira desleixou-se para o que antes lhe era tão importante: os espaços à frente (muito aproveitado pelo Braga) e atrás da defesa. Depois, Bruno Alves só sabe marcar ao homem. Sem alguém em quem encostar sente-se incompleto e abre brechas (que não são poucas).

Adiante, ver também Josué ganhar na raça a Diego, e a deixá-lo no tapete (sem qualquer falta, num lance legal) revela-nos que há vedetas que não são para impedir transições ou para divididas. Nani, Van Persie e o rei na barriga também ficaram soterrados na Pedreira. Sim, o Braga beneficiou de lances-chave mal ajuizados, mas foi a equipa mais organizada, quer quando não passava muito tempo no meio-campo adversário (apostando em chegar à baliza adversária em três, quatro, passes), quer quando por lá se estabeleceu, soterrando definitivamente os turcos para uma eliminação histórica. E no regresso a Portugal, Vítor Pereira perdeu de novo. Às mãos do seu sucessor no FC Porto, Pereira deixou confuso quem acha que a sua saída do Dragão criou uma maldição, ou quem se esqueceu que a eliminar sempre lhe faltou um bocadinho assim           . E logo agora que André Villas-Boas também foi corrido da Champions por Rui Vitória. Resta-lhes Marco Silva, o deus grego eliminado pelo Anderlecht, resgatar Rui Vitória ao Benfica (quando o contrato estiver a expirar) ou fazer regressar Fonseca dando-lhe uma mão-cheia de craques - porque ele com Josués só vai aos quartos da Europa League depois de dar quatro nos turcos milionários.

10 comentários:

Mike Portugal disse...

Confesso que depois de ler o teu post não percebi se estás a dar nas orelhas ao Vitor Pereira ou ao Paulo Fonseca. loooool

Jorge Borges disse...

Mais um belo post.
Ainda bem que não és daqueles que varrem a verdade desportiva para debaixo do tapete quando convém.
A vitória do Braga é um feito histórico, mas fica ensombrada pela arbitragem profundamente má.
É bom para o ranking de Portugal, e o que vai ficar para a história foi que o Braga eliminou o Fenerbace
O espírito nacional não se pode sobrepôr à verdade desportiva, da mesma forma que a paixão clubística não o pode fazer.

Mas é como dizes, não se diz outra coisa senão G'anda Braga! basta ir à net, ou ainda mais perto: neste blogue!

Marco Morais disse...

Mike, levo mais eu nas orelhas do que qualquer um dos dois =))

Jorge, não era para fazer post algum sobre este jogo. Mas lembrando os comentários da SIC no jogo e o espectáculo das capas e crónicas de hoje, não me sentia bem se não escrevesse o que para mim foi óbvio. Foi também preciso o Braga correr, jogar e até dominar. Nem tento por em causa, totalmente, a vitória, mas faz-me confusão que o espírito nacionalista omita aquilo que o jogo mostrou (fosse ao contrário...). Daí o post. Obrigado por o teres compreendido, até porque a crítica principal vai para esse varrer para debaixo do tapete que tu bem referes - e não para a equipa do Braga.

Abraços!

Mike Portugal disse...

A pergunta era mesmo legítima porque eu não vi o jogo nem tinha lido nada sobre o mesmo ainda.
Fico esclarecido com o post ;)

Marco Morais disse...

Acredito que haja várias interpretações sobre o jogo. Que o Braga esteve bem tem de se ressalvar em todas. Que beneficiou de dois erros do árbitro para desbloquear a eliminatória, também. A partir daí, faz-me confusão o enquadramento 'nacional'. Mas acho que há várias coisas que o post, sem querer, pode omitir. Recomendo sempre mais leitura sobre a matéria - quantos mais jornais o pessoal comprar mais hipótese de crescimento há numa área que me diz respeito ;)

Peyroteo disse...

Autocrítica do Borges :)

Peyroteo disse...

Já agora, foi um roubo à Benfica. Escandaloso

Pedro disse...

Marco, o SLB foi espoliado à grande na final da LE contra o Sevilha e a comunicação social tb não deu grande relevo.

Peyroteo disse...

Talvez porque não foi espoliado...

Marco Morais disse...

Fui procurar o que escrevi desse jogo, Pedro. Mas depois perdi a paciência - ou então tive medo de ser um hipócrita :P