As imperfeições da perfeição

E acabou! A mais fantástica época de sempre, para os portistas, fica gravada a selo de ouro com uma estrondosa vitória na Final da Taça de Portugal. O jogo, que acabou com 8 golos, comprova o fantástico momento da equipa, que durou... toda a época. E que não se esperem muitas destas pois, afinal, esta regularidade de sonho visita a realidade por raras vezes.

Nem ao mais optimista lembraria. Em 2011, a contagem dos títulos, dos recordes e das vitórias marcantes, já todos a sabem de cór e para além do brilho que conferem à história dos dragões junta-se-lhes também a 'ostracização' feita ao maior rival em todas as provas ganhas. E sem querer ser ofensivo como o cântico que teima ecoar em cada vitória do Porto, é-me impossível não separar os feitos desta gloriosa época com as posições evidenciadas frente ao maior rival. Foi ouro sobre azul, todo este azul sobre o vermelho.

Mas obviamente refiro-me a tudo menos à 'comparação' dos títulos de Porto e Benfica. Que grande perda de tempo é comparar Supertaças com Ligas, títulos internacionais com Taças de Portugal, etc. Enfim, a barafunda é grande e ninguém se lembrou ao menos de reparar que os dois clubes também o são. Isso mesmo, grandes. E de tão grandes que são, que não é uma época fantástica de um que apaga a grandiosidade do outro. As posições neste momento são evidentes e nem valerá a pena comparar o incomparável, mas a vantagem nada garante para a nova época desportiva. Que se recorde a última como ecoaram pela memória as 'Sevilhas' e as 'Vienas' da nossa história, mas que se recorde também que é impossível viver delas como vivem os museus.

A época perfeita findou. E foi, assim mesmo, perfeita porque a cada falha da linha defensiva lá estava o Helton para fazer as manchas aos remates dos avançados adversários. A cada momento menos dominador da equipa lá estava a eficácia de Falcao e de Hulk para levar o marcador a bom Porto. A cada indefinição, lá saltava do banco um trunfo do novo treinador da moda. De facto, impressionante como tudo correu bem. Tão impressionante que até, novamente, os mais optimistas terão dificuldade em acreditar que aconteça algo parecido na nova época.

Não será quase impossível que sempre que haja uma desvantagem ela seja anulada? que sempre que haja um mau momento ele seja vergado à positividade de onze homens, por mais bravos e bem guiados que sejam? Que não se tome esta época em comparação com qualquer outra, pois é demasiado injusto para, isso mesmo, qualquer outra. É como já referi impressionante que tantos erros, normais em futebol, se tornassem irrelevantes. É para mim também curioso que uma equipa que até tem, mais do que me agrada, alguma queda para o erro consiga resultados tão históricos. A mais perfeita das épocas portistas, conseguida pela mais 'imperfeita' das mágicas equipas azuis e brancas. A isto não será alheio o enorme respeito pelo imprevísivel que André Villas-Boas sempre mencionou.

Poderá parecer ilógico que seja na confirmação do poker portista que eu me refira às falhas da equipa como, talvez, não o tenha feito durante toda a época, mas convém explicitar que as mesmas podem custar eliminações e derrotas na próxima época. Surpreendente seria se não o fizessem. Pelo sector, já me referi várias vezes à ideologia de AVB. A posse e o controlo do jogo, assim como o controlo emocional do mesmo, são conceitos que o jovem técnico reitera mas a meu ver ainda não estão tão bem explorados como as vitórias querem deixar parecer. É que elas são boas de festejar mas mascaram muita coisa.

Que soe com dureza, que soe como soar, mas quem não se sente confortável com erros e falhas andará sempre mais longe de os corrigir. Cair-se no erro de não os assumir é meio caminho andado para os 'espalhos ao comprido' que tantas vezes castigam a sobranceria. E o nível, quer pelo estatuto quer pelo grau de exigência, está sempre a aumentar. E como pode aumentar para lá da perfeição que foi esta época? Só se afinal a perfeição não existir e não tiver a ver com taças.

O mais normal será que para o ano se jogue melhor e se ganhe menos. Assim é o futebol, mas o sonho, esse, ninguém nos pode tirar.

Obrigado Campeões!