sexta-feira, janeiro 10

Espírito do King assiste à batalha das cautelas

Parece incrível que depois de disputar, e de assistir, a tantas batalhas pela hegemonia do futebol português, Eusébio não esteja presente, no domingo, para novo e escaldante duelo. E tantos deles foram contra o FC Porto - como outros contra o vizinho Sporting. Mas a verdade, tão nua como crua, é que o King já não estará entre nós, pelo menos em corpo, como em tantos outros clássicos. A sua morte, incrivelmente respeitada por quase todo o país futebolístico, merece também a homenagem com a bola a rolar. Ele que enquanto jogador assustou os nortenhos, ficando ligado a um período dourado do Benfica, mas que os 'ajudou', com isso, a despertar para a ambição de 'ganhar tudo', demonstrando, ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional, que era possível. Após a sua retirada, Eusébio, viu o FC Porto crescer para um nível que provoca agora uma reacção contrária à de quando o Pantera Negra desfilava pelos relvados. Coisas do tempo. Os dragões souberam crescer e na altura que o maior símbolo benfiquista (infelizmente e cedo demais) desaparece, dominam agora os confrontos com o rival da capital.




Não estaremos em erro se referirmos que o FC Porto se chegou 'à frente' recorrendo a algo que é tão antigo como o próprio jogo. Aliás, até o Benfica de Eusébio usou, e abusou, dessa arma para chegar ao topo do Mundo. Falamos, pois claro, da ambição e essa tem, sem sombra de dúvida decidido os últimos clássicos - quer na Luz, quer no Dragão. Quase todos eles têm pesado mais na balança portista e em quase todos eles há uma história parecida para contar. Quer seja no momento de montar a equipa, quer seja no plano a apresentar para atacar o adversário, quer seja nas substituições operadas, o FC Porto - desde André Villas-Boas - tem partido à frente do Benfica de Jesus. Enquanto que os dragões não mudaram o sistema, o estilo, as ideias e as posições, usando as substituições para sublinhar, até, as decisões do plano, Jorge Jesus fez tudo o contrário.

De David Luiz a Roderick, do jogo ofensivo ao jogo sem bola, o Benfica deparou-se sempre com um FC Porto de controle e de posse, pressionando com grande intensidade sempre que perdia o esférico. Momentos que fazem sorrir os portistas mas que agora recordam a expressão ''do passado vivem os museus''. E na nova infra-estrutura portista se poderá recordar o assomo de ambição que foi a substituição de Kelvin por Lucho - que culminou no momento-chave da Liga da época passada. Mas agora a história é diferente pois a juntar a Jesus, Pinto da Costa decidiu adicionar aos clássicos outro 'cauteloso' treinador. Ao FC Porto de Paulo Fonseca ainda não se lhe viu coragem suficiente para se augurarem decisões como a retirada de Rúben Micael, por James (meias-finais da Taça), ou a aposta em Djalma na lateral-direita (na vitória por 2-3 em 2011/12). Aliás, o técnico portista já assumiu, em Alvalade, uma postura notoriamente cautelosa, assumindo, por arrasto, não conhecer a cultura da massa associativa portista. E a julgar pela renitência, e teimosia, em alterar a dinâmica de um meio-campo que já custou os 'oitavos' da Liga dos Campeões ao FC Porto, não se esperem de Fonseca grandes e ambiciosas intervenções.

Daí que talvez a inoperância mostrada pelos dragões ao longo da época - o FC Porto só conseguiu boas exibições na segunda parte frente ao Braga e na vitória caseira frente ao Olhanense (4-0) - talvez seja o maior trunfo de um Benfica que pouco tem para mudar em relação às outras épocas. A desconfiança num clássico arrojado, de parte a parte, é por isso enorme, e talvez a probabilidade do Benfica mudar os seus padrões seja tão grande como a do FC Porto aparecer tão incisivo na Luz como nas épocas recentes. Isto se o espírito futebolístico de Eusébio não aparecer na Luz a contagiar as duas equipas. Mas aí a ambição do King será como um sopro, que só apanhará quem tiver a vela bem içada...

«...nunca fui para um jogo com o Benfica pedindo algo diferente aos jogadores. Nunca pedi para deixarmos de pressionar, para deixarmos de ter a iniciativa, e a bola. Isso nunca. Isso seria adulterar a essência do treino e dar uma indicação clara de que estamos receosos. Parti sempre para ganhar, mas fiel à nossa identidade.» (Vítor Pereira, hoje, em entrevista a O JOGO)

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