segunda-feira, novembro 18

Bento I, o masoquista

A vitória sobre a Suécia ajudou o País a dissipar dúvidas. Se antes a repetição das más campanhas de qualificação colocava o Portugal futebolístico em estado de sítio, depois do golo de Ronaldo a acalmia voltou. Mas essa é sempre estranha até porque se confunde com letargia. No futebol o importante são os golos e, nesse capítulo, Portugal parte com um de vantagem para a segunda-mão do playoff de acesso ao Mundial'2014. Mas esse magro 'um' não revelou no marcador a diferença de qualidade entre as equipas, principalmente numa partida disputada em solo luso.

Portugal foi abnegado, esforçado e lutador mas, perdoem-nos, não foi inteligente. O golo de Ronaldo tudo disfarça, é certo, mas a verdade é que esse deslumbramento pode vir a ser o maior inimigo da Selecção. Importava depois do jogo questionar Paulo Bento sobre a opção que colocou Portugal, durante uma partida inteira, a favorecer a Suécia. Jogo demasiadamente directo, demasiadamente 'por fora', cheio de cruzamentos e passes longos. Dito assim, parece que estamos a falar de uma qualquer selecção nórdica, mas foi assim que Portugal, estranhamente, se bateu contra a Suécia.

Paulo Bento gosta de missões difíceis e isso transpira a cada palavra, a cada gesto, a cada decisão. E ninguém dúvida da dificuldade que é liderar a Selecção de todos nós. Aliás, a todos os outros que estão de fora (o autor destas linhas incluído) é, primeiro, fácil criticar e, segundo, fácil criar um plano que nunca se vai apresentar a jogo, que nunca será testado, partida a partida, como é o de Paulo Bento. Mas isso, graças a algo que se chama livre-arbítrio, não nos impede de achar que o 'general' está a ir pelo caminho errado.

E essa é também uma questão cultural. Se nos recordarmos do Euro'2012, até ao jogo com os campeões mundiais a Portugal foi sempre preciso sofrer desnecessariamente. A equipa das quinas só queria a bola, e só a trocava - aproveitando as características dos seus jogadores - depois de se deixar empatar ou depois de estar a perder. E a reacção à negatividade do resultado revelou sempre um Portugal esmagador, um Portugal convincente e dominador - até contra a Alemanha. E tão gritante foi esse facto que este humilde opinador chegou a pensar que seria impossível a Paulo Bento não reparar nele. Mas foi. Ó se foi...

Tal 'esquecimento' provocou-me a mesma reacção de espanto com que fui assistindo a todo o Portugal-Suécia, com excepção, claro, ao minuto 5. Nesse, Ronaldo decidiu-se pelo meio, e pelo passe a Meireles. O 'seringas' descobriu depois Moutinho a furar a defensiva sueca com uma excelente chegada à área. Tudo acabou com Isaksson batido e a bola na 'sua' malha lateral. Mas a mais portuguesa jogada do jogo não teve seguimento. Não mais se tentou ir pelo caminho estreito e escolheu-se a porta larga da 'perdição', a do lado de fora, aquela que os suecos abrem de propósito para 'sofrerem' com cruzamentos, fechando o meio e a sua baliza.

No entanto, vitória é vitória e como no Euro'2012 ninguém colocou a questão, também ninguém espere que ela seja colocada agora. De nada importa a Portugal que Paulo Bento goste de sofrer desde que haja resultados palpáveis. As meias-finais do torneio europeu foram um excelente resultado e a provável qualificação para o Mundial também o será. O sofrimento no meio disso tudo? Bem, esse, à boa maneira portuguesa, forma o carácter, não é?

6 comentários:

Anónimo disse...

Vi apenas a segunda parte mas não concordo muito com a tua análise.

É certo que houve demasiados passes longos (futebol directo?) mas muitas vezes a equipa procurou a tabela, o passe curto, para penetrar na área.

O problema muitas vezes foi o excepcional posicionamento dos suecos. Defensivamente esiveram quase perfeitos.

A Suécia é uma equipa muito experiente, e às vezes esquecemo-nos que é uma selecção que já esteve em Mundiais imensas vezes (mais 6 ou7 do que Portugal).

Eu gostei da forma como torneámos aquela defensiva. Gostei até do futebol que praticámos. Não tão rendilhado mas isso...

Acredito no "onze" e num ou noutro.

Quando o substituto de Postiga (um jogador super inteligente a jogar) se chama Almeida, pouco há a fazer.

Mas isso é outra conversa. :)

Peyroteo disse...

A 2ª parte foi bem melhor que a 1ª. Na 2ª parte a Suécia não existiu em termos ofensivos, muito por mérito de Portugal.
Nestas eliminatórias o importante é passar. Depois, nas fases finais, Portugal raramente desilude.
Acho que hoje a selecção vai ter menos difículdades. Bem menos do que o Joaquim de Almeida dizer "1831" no anúncio da Generali ou o Cristiano Ronaldo dizer "Oleosidade" no anúncio da Linic...

Anónimo disse...

LOL és o maior.

Marco Morais disse...

Salvaguardei bem as hipóteses de não perdermos. No futebol da 2ª parte só vi uma coisa a mais de todas as outras: um enorme factor casa.

Se, daqui a pouco, jogarmos assim, concordo que faremos um belo playoff, apesar de continuar a achar que é pelo meio que eles se rompem todos.

Luís, tás-me a dizer que a selecção jogou pelo meio? Isso foi quando? quando meteu o Hugo Almeida? =)

Anónimo disse...

Não fez um jogo pelo meio (segunda parte) mas andou por lá. Muitas vezes procurou as quinas da área para entrar em tabela, houve várias jogadas dessas.

Pá, o Postiga mete o AAlmeida num chinelo. :D

Marco Morais disse...

Estive atento a isso e pareceu-me que a linha teve sempre prioridade. Acho errado.

O Hugo Almeida hoje é titular =)