A conquista da segunda linha europeia por parte de Portugal é mais que evidente nesta caminhada, a três, rumo a Dublin. O feito notável é, sem duvida, o do Sporting de Braga - como já havia sido o do Boavista anos atrás - que demonstra que o caminho feito em território luso não deverá ser seguir a linha de outros clubes e países. Temos uma identidade própria e essa, ainda que aberrantemente não a queiramos reconhecer, é a que, esporadicamente, nos tem dado alegrias. Chama-se qualidade futebolística. Não se chama dinheiro, nem marketing, nem especulação.
Coloque-se a vista nas brilhantes caminhadas europeias feitas por 'gigantes' portugueses que mais não são do que 'Davides' europeus. Analise-se cada uma delas e ver-se-á certamente que a qualidade futebolística imperou mais que qualquer outro factor que se intromete demais no nosso jogo.
A conquista desta 'segunda divisão europeia' é por demais óbvia para dois emblemas que já fizeram história na Europa. Mas a inclusão de uma segunda linha lusa - o Sp Braga - prova que o caminho não são os milhões, mas sim os modelos e o trabalho de campo. O percurso bracarense pode ser visto, como tudo na vida, de duas maneiras. Se o Sevilha e o Celtic já não são colossos europeus, se o Arsenal fora de casa desce para níveis rudimentares e se o Liverpool não apresenta a 'unidade red' do passado, isso não é problema da equipa de Domingos. O problema é de quem tem estatuto e milhões para gastar e não apresenta resultados.
Já o havia dito aqui depois da brilhante vitória do Benfica em Marselha - último grande exemplo português de verdadeiro estofo europeu - o caminho a seguir é identidade futebolística. E só não vê quem não quer. Até porque a Liga, os dirigentes, os próprios treinadores e sobretudo os adeptos, continuam a dar demasiada importância a factores que só nos atrasam. Essas questões estão mais que discutidas e como já aqui reconheci, principalmente nas caixas de comentários, as discussões são legítimas. Mas o que é certo, e isso duvido que alguém possa negar, é que só nos atrasam.
A jornada
Confesso que só segui o Liverpool-Braga a espaços. Depois dos dois golos portistas pensei que poderia dedicar mais atenção ao silêncio de Anfield, mas o golo do CSKA trouxe de volta a 'necessidade' de acompanhar o que me é mais próximo. Fica a menção para o resultado e excelente vitória na eliminatória, só ao alcance de quem tem preocupação com o jogo.
O Porto continua a surpreender a Europa mais pelos resultados do que pelo jogo em si. Não querendo com isto menosprezar a qualidade da equipa de AVB, fica-me a sensação de uma estranha estrelinha que nos tem acompanhado. Há golos inesperados a mais e padrões de jogo demasiado 'completos' para serem verdade. É que o Porto, equipa de posse como AVB gosta de frisar, desde que passou para as eliminatórias desta Europa League passou também uma preocupante parte do tempo alheada do estilo que o seu técnico defende. Mas isto só seria preocupante se a equipa apresentasse níveis baixos quando muda de 'chip'. Não o faz e isso deixa-me a estranha sensação (um feeling bem contraditório, próprio de adeptos desconfiados) que a equipa não é tão forte como a Europa do futebol a classifica. Mas, atenção, é uma equipa que por mais que a queiram menosprezar - não foi a minha intenção nas linhas acima - é, para este nível, fortíssima.
Ontem esperei um regresso. Já é conhecido o meu 'fetish' pelo jogo do Benfica no Velodrome e ontem, em território (luso) francês - já agora, impressionante o número de benfiquistas presentes - não seria descabido da minha parte esperar por algo parecido. A fasquia era alta e cedo reparei que os meus níveis de exigência eram demasiado elevados. O jogo perfeito não apareceu e da imperfeição registo os minutos até ao golo, contra a corrente, de Gaitan e os últimos minutos - normais pelo resultado. Do que (bem) apareceu conto um brilhante início de segunda parte e um Fábio Coentrão que demonstra que a psicologia no futebol é bem útil. Que jogador impressionante!
O sorteio
O gelo está, de novo, demasiadamente presente no caminho. As equipas 'soviéticas' (que outro termo usar?) são sempre um 'osso', pela mentalidade e pela deslocação ao seu habitat. E como as probabilidades são matreiras, tinha que calhar outra deslocação ao frio russo para testar a 'estrelinha' portista. O Luzhniki é também um adversário de peso e duvido que alguém, na comitiva portista, fique contente pela deslocação.
A vingança por 1988 vai ser também tema nestes 'quartos', mas mais importante que isso será o modelo e competitividade de um Benfica que me parece em descida de forma. O abdicar do campeonato, e a rotatividade esperada, não auguram nada de bom pois os níveis competitivos não são regulares. E essa gestão é uma prova à mestria de Jorge Jesus. Ele já indicou possui-la, o teste vem a caminho.
Quem não tem esse problema é o Braga. Ainda envolvido na luta por nova presença na Europa (o que é bom é para repetir) os bracarenses estão nas suas 'sete quintas'. Todos os adversários têm mais estatuto e nenhum resultado será mau para o que já foi feito. É o que se chama 'viver o sonho'.
P.S. 1 - Já agora, fala quem sabe. À atenção dos benfiquistas.
P.S. 2 - Quando parará a irritante mania portuguesa de bater palmas nos minutos de silêncio?
4 comentários:
As palmas são uma importação de Itália. Nesta situação não eram precisas mas elas surgiram para abafar os assobios e ofensas que os adeptos visitantes normalmente faziam/fazem enquanto o resto do estádio fica em silêncio.
Um sorteio bem catita mas apenas e só se encararmos com o máximo de respeito e concentração este PSV.
Hey Pedro =)
Não sabia essa história de Itália. Acho que toda a gente sabe que as palmas são 'bem empregues' em certos minutos de silêncio. Mas, vá lá, em todos os casos?
A mim, ainda que as pessoas o façam inconscientemente, ou por moda, parece-me bastante desrespeitoso. Então neste caso, num minuto de silêncio por vítimas de uma catástrofe, pareceu-me escabroso.
Sobre o sorteio e sobretudo pela parte que te interessa, acho que o Benfica tem bastantes hipóteses mas 'preocupa-me' que esteja a baixar o nível. Ainda que não chegue a níveis próximos da época anterior, acho que um bom Benfica - como já demonstrou ser este ano - pode resolver a eliminatória na Luz.
Todas as equipas portuguesas têm boas hipóteses de passar às 'meias'.
Mas tu és do Porto? Que dignidade, meu santo Eusébio, que texto, que lucidez, que análise descomplexada.
É falha minha não conhecer os teus escritos. A partir de hoje, estarei ligado.
Ainda há esperança.
Aqui na Ásia é impensável e considerada uma tremenda falta de respeito bater-se palmas num minuto de silêncio.
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