Como dirá toda a gente que segue futebol há mais de dois dias, são as vitórias que fazem os treinadores. Está à vista de todos porque é fácil de ver. E ainda assim ninguém desconfia, de tão simples que se torna o argumento. Isto porque há quem veja futebol há mais de três dias e, se calhar, nesse dia a mais deu para concluir que certas vitórias não garantem regularidade para a conquista dos objectivos propostos. No caso deste Porto, teremos que, primeiro, remeter para a questão fundamental: quais são os objectivos? Vencer o campeonato é um, certamente. Passar a fase de grupos da Champions é outro. E conseguidos estes dois - por mais que a Taça seja valiosa - os outros dois já não importarão. Foi assim com Jesualdo, por exemplo. E esses objectivos deixarão toda a massa portista contente?
A conversa dos objectivos portistas por estes dias torna-se pertinente para avaliar o trabalho de Vítor Pereira. Há quem analise números, há quem compare com anos anteriores e há quem analise futebol jogado, gestão do plantel e potencial. Se, nos dois primeiros pontos, as coisas não assustam por aí além, no terceiro ponto as contas sofrem um revés.
Vítor Pereira chegou ao comando dos dragões como solução da continuidade à 'época perfeita'. O actual técnico principal foi 'colaborador' de André Villas-Boas e, muito elogiado pela crítica, tornou-se uma espécie de consiglieri e complemento essencial às vitórias azuis e brancas. Esse, se bem recordamos, foi um dos motivos que mereceu, de mim, elogios aquando do anúncio do novo treinador portista.
Pareceu-me, não tanto como hoje obviamente, que Vítor Pereira não precisava de mostrar um talento excepcional para manter a equipa fiável para os objectivos (ah! pensavam que me esquecia?) a que ela se costuma propôr. Mas, depois, vieram os grandes testes e as diferenças estão obviamente à vista. Falta de carisma óbvio aliado a um poder de comunicação nulo, má leitura de jogo que deu já azo a vários erros nas substituições e outras mudanças ao longo do jogo ficaram bem na retina. A partir daí, o regresso a um passado recente tornou-se óbvio.
E isto porque a linha de continuidade - questão mais essencial na contratação de Vítor Pereira - rompeu.
É mais que evidente que o plano é outro e nem sei se terá direito a esse nome. A começar, desde logo, pelo discurso altivo e em bicos de pés que nunca foi apanágio de André Villas-Boas. A tentativa de colagem no ataque ao Benfica é evidente, mas sem a mínima sombra de classe como no "egocêntrico" ataque ao treinador de futebol do Benfica, Jorge Jesus. Outro exemplo perfeito de altivez desnecessária é a tentativa de sublinhar que o Porto é a melhor equipa, à qual saíram de imediato a terreiro dois galos a contrariar. O sublinhar exagerado remete-me para o plano discursivo da época anterior em que nem com uma vantagem de 9 pontos o campeonato estava ganho.
Somos Porto, somos a melhor equipa! Tudo muito bem que o tenha como objectivo o técnico principal do Porto, mas pergunto eu 'que equipa'? A dele? E qual é o onze? Qual é o modelo? Qual é o trio do meio-campo que mais possibilidades confere? Quando muito poderia pensar e dizer 'out loud' que temos o melhor plantel visto que para ele ou são todos bons ou não sabe quais os que são maus, porque simplesmente os utiliza a todos e sem critério algum prejudicando assim o futebol e rotinas da equipa. Mas assim sendo, lá para Fevereiro, já devemos saber que, das duas uma, ou já estão todos rotinados ou já devemos ter um onze base.
E se o termo de comparação continuar a ser a época passada, e não as anteriores, que faria a equipa técnica no jogo com o Feirense, no jogo com o Benfica e no jogo com o Zenit? Vá lá, não é assim tão díficil de ver pois não? Foram muitos e muitos jogos e muitas e boas opções tomadas e, curiosamente, quase sempre as mesmas. Mas nunca envolveram, por exemplo, Fernando a defesa direito e Souza a titular ou manter o sistema de três homens no meio quando esse mesmo meio se está a perder. E se lembrarmos a inépcia e sobranceria da equipa em Aveiro...
Aqui fica Vítor Pereira. No limbo entre os objectivos do que deve ser o Porto e dos objectivos do que tem sido o Porto. E eu até seria injusto para o antigo adjunto de Villas-Boas por lhe estar sempre a colocar o peso da época passada, mas, convenhamos, não foi essa época que o catapultou para o leme? Pois é, o Vítor já foi multado no traço contínuo mas como a DGV não sabe bem o que anda a fazer, a multa ainda não chegou.
4 comentários:
Que maravilha, dou por mim interessado no FCP.
Se calhar ha algum exagero da tua parte mas de facto, a fasquia está elevadíssima e ali, é preciso mostrar muito mais, para nao se parecer apenas uma fotocópia mal tirada de AVB.
Hey Luís,
Sim, concordo com o que dizes, e ele tem noção disso. O problema é que não está a lidar bem com essa pressão. Nunca esteve tranquilo e ciente do caminho que tem a percorrer.
Ao invés, parece um daqueles condutores que apanha alta máquina e quer ultrapassar tudo e todos, ao mesmo tempo que vai 'tratando mal' os outros condutores.
O problema aqui está em como ele se está a portar enquanto treinador do Porto. Até admito que ele saiba de futebol e que possa fazer um bom trabalho e boas épocas noutras circunstâncias.
Mas para já está claramente a falhar. Talvez possa acalmar e 'chegar ao destino' confortavelmente. Talvez até a paragem de jogos lhe faça bem à alma e o tranquilize mas não tenho enfatizado isso nos posts porque não vejo grandes hipóteses disso acontecer.
Mas não há nada como esperar para ver. Se bem que seria uma grande surpresa...
Eu cá fiquei muito contente com a vitória do FCP em Coimbra. Foi da maneira que não o despediram e desperdiçaram 15 dias de adaptação do próximo treinador.
Ainda há a remota possibilidade de Vitor Pereira aprender com os erros e apostar mais na continuidade e menos numa equipa "à sua imagem". Parece-me obvio que já levou um puxão de orelhas, quer da estrutura, quer dos adeptos. Poder estar naquela cadeira é um privilegio que cause lhe caiu do céu. Tenho a certeza que vai querer mostrar que consegue dar conta do recado, e já se viu que isso só vai acontecer se for capaz de aprender com o que de bom foi feito no passado e se for menos igual a si próprio.
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