"RECORD – Lembro-me que durante o mandato de José Roquette,você se
revoltou com acordos que nunca ficaram esclarecidos, nomeadamente entre o
Sporting e o FC Porto. Quer revelar pormenores em relação a isso?
JOÃO ROCHA – Havia um projecto com o FC Porto que era muito prejudicial para o Sporting. Era mesmo inqualificável. Insurgi-me num Conselho Leonino e numa assembleia geral. Era um projecto gravíssimo que só podia sair da cabeça de um indivíduo sem responsabilidades. José Roquette dizia que era um projecto válido, porque era a única maneira de Sporting e FC Porto estarem sempre representados na Liga dos Campeões."
In Record, 15 Fevereiro de 2006
Não sei até que ponto estes são tempos idos. Serve apenas de exemplo mas, ao mesmo tempo, serve para que ninguém se esqueça que não há inocentes na questão que quero colocar.
O mundo dirigente parece continuar a apostar na destruição do futebol e, seja de que lado for, seja de que cor for, a verdade é que as organizações estão cada vez mais pungentes, cada vez mais organizadas e capazes.
As informações são plantadas, os jornalistas, cada vez mais maltratados e subjugados aos poderes económicos, aparecem impotentes (uns) e alinhados (outros). No jornalismo actual, já dá para tudo. A figura do jornalista confunde-se com a do apresentador, com a do entretainer, com a do comentador, com a do especialista, com a do opinador, com a do político e com a do dirigente.
Quando temos um telejornal que é interrompido para dar seguimento a um programa de humor, acho que está tudo dito.
Obviamente que os jornalistas se tornaram numa espécie de ovelhas negras na nossa sociedade. São um alvo fácil, não têm protecção e a grande maioria ganha mal. As ferramentas que têm para trabalhar são cada vez mais rudimentares (o desenvolvimento da comunicação fabricou um novo estilo de jornalismo, o da cadeira sentada, por troca com o jornalismo de investigação) e é praticamente impossível trabalharem sem serem imediatamente conotados com algum interesse (que muitas vezes pode existir, até).
Na entrevista de Bruno de Carvalho (Bruno, para o apresentador - imagino-o a chamar Jorge ao Pinto da Costa, por exemplo), o presidente do Sporting teve uma prestação deplorável, no meu entender, não apenas pelos modos, mas essencialmente pelas atoardas enviadas.
E como reagiram os órgãos de comunicação social a tanta acusação? Fazendo eco das mesmas, relatando e citando fontes anónimas, e deixando que outros façam (mal) o seu trabalho (os leaks mais o Verdade Leonina, por exemplo).
O problema disto tudo é que, às tantas, já ninguém se entende. As posições são cada vez mais extremadas e, antevendo o grande dérbi que se aproxima, as trincheiras já estão cheias de homens armados até aos dentes.
Temos agora, até, "artistas" especialistas em ementas de restaurante (e de "tascas, também), imagine-se. Fala-se de tudo com conhecimento de causa, com a garantia do "eu vi na net" e com muito pouco espaço para segundas interpretações e menos ainda para análises críticas.
Um exemplo disto mesmo é a já famosíssima acusação de Bruno de Carvalho relativamente ao Kit Eusébio oferecido aos árbitros em jogos do Benfica.
Vamos a factos. Temos o vídeo,
aqui.
"BdC: “Eu trouxe aqui neste saco lindíssimo do Sporting algo que me foi deixado no Sporting Clube de Portugal num envelope anónimo”.
PG: “Anónimo...”.
BdC: “Que eu vou mostrar, que é uma caixa...”.
PG: “Muito bonita...”.
BdC: “Bonita”.
PG: “Do Eusébio...”.
BdC: “Do Eusébio”.
PG: “Espero que respeite o Eusébio...”.
BdC: “Que tem, cá dentro, o seguinte: uma camisola, como pode ver, e depois gostava que lesse, se faz favor, este papelinho [ndr: voucher], e diga o que diz ali, por favor. Nesta parte [ndr: apontando para o canto inferior direito do voucher]…”.
Apresentador: “Convite válido para 4 pessoas. Museu Cosme Damião. Museu da Cerveja – Terreiro do Paço. Necessário efectuar reserva.”.
BdC: [ndr: apontando para o canto inferior direito do voucher]… 4 pessoas... 4 refeições.
Podemos agora comparar um frame do vídeo em questão (à direita) e o o voucher que circula na net (à esquerda), tanto em blogues benfiquistas como em blogues marcadamente sportinguistas e que terei de assumir como verdadeiro.
Não dá efectivamente para ler o que está escrito na imagem da direita mas, se observarmos, parece ter o mesmo escrito, bastando para isso perceber que as linhas começam e acabam exactamente nos mesmos pontos em ambas as imagens.
A somar a isto, obviamente, a leitura do apresentador: "“Convite válido para 4 pessoas. Museu Cosme Damião. Museu da Cerveja – Terreiro do Paço. Necessário efectuar reserva.”, sendo que é nesta parte que ele termina a leitura.
Parece-me que estamos a falar do mesmo voucher.
A confusão nasce logo a seguir, quando Bruno de Carvalho diz "4 pessoas" e "4 refeições", provavelmente porque assumiu que o Museu da Cerveja é um restaurante. E de facto, é. Mas, pasmem-se, também é um Museu. E tem bilhetes para entrada e tudo, a custo de 3,5 euros, de acordo com o site oficial do estabelecimento (www.museudacerveja.pt).
A sugestão das refeições serem ilimitadas surgiu também, do nada, pelo menos não consigo acreditar que estivesse lá escrito e o apresentador não tenha reparado.
Alguém quer comentar isto?