As dimensões são frequentemente usadas no (secante) parlapié futebolístico do século XXI. Até podem ser chatas e não nos deixar encostar no sofá em paz, mas lá que têm a sua importância têm. Ainda para mais em tempo de clássico fervoroso, como este Benfica x Porto que aí vem.
Por tudo, este é o jogo que mais se espera. Por ser o próximo clássico (obviamente) mas por ser aquele que vai opor os dois candidatos mais fortes nas sondagens para o título.
Desde cedo o Benfica demonstrou uma performance capaz de provocar a ilusão necessária às grandes conquistas. Ao contrário de épocas anteriores, em que a ilusão vinha de reforços e títulos de jornais, esta época a equipa da Luz já demonstrou ser capaz futebolísticamente. Porém, essa ilusão chega ao clássico, desbotada. Pela derrota com o Braga, pelo fracasso futebolístico contra o Sporting e por este jogo bem menos conseguido contra o intitulado Porto B.
Será óbvio, para quem tem muita experiência em futebol (e não estou a dizer que sou eu) que as grandes equipas (sim as mesmo grandes) convencem até quando perdem pontos. Ora este Benfica convence e convenceu mas quando mais se esperou dele... até agora, falhou.
Do outro lado, surge um Porto que conseguiu dissipar as dúvidas quanto ao seu valor. Bastaram duas vitórias seguidas demonstrando estofo e os adeptos já rejubilam. Mas que importância terá isso no clássico?
Os clássicos, esses malandros, que teimam sempre em surpreender. Em tornar as apostas mais viáveis em redondos fracassos. Depois de já falhar imenso (em Benficas x Portos então... ui. No velho clássico não falho tanto, porque será?) não arrisco prognósticos. Posso é apontar alguns indicadores que poderão ser valiosos conforme as incidências da partida. E aqui entram as tão faladas dimensões.
Na dimensão táctica, Jesualdo começou a "portar-se" melhor em clássicos (e jogos de alto-risco), quando deixou de mudar o sistema para os enfrentar. Recordem as disputas com Paulo Bento e o seu losango que só era bom contra o FCP. Mantendo o seu habitual 4x3x3 o professor conseguiu melhores performances em jogos de risco. Foi assim, que eliminou o At. Madrid, nos oitavos, e conseguiu dar dimensão europeia ao seu Porto. Na dimensão táctica estamos conversados. Seja com Varela, com Hulk ou Rodriguez os três avançados serão para manter e com eles todas as virtudes já demonstradas. Já Jesus, não vai mudar o sistema mas sim as peças o que também pode vir a demonstrar-se como mudança táctica, pela, óbvia, diferença na decisão e interpretação de alguns jogadores ao sistema. Sendo obrigado a mudar, Jesus protege-se, publicamente, da próxima dimensão: a psicológica.
Já aqui escrevi várias vezes, que este jogo seria importante para se auferir quem poderá ser o mais forte candidato a campeão. Isto porque, não havendo (dizia eu e enganei-me) equipas que pudessem beliscar o Benfica nesse estatuto, teria de ser o outro candidato a fazê-lo. Pois bem, já enumerei três falhanços encarnados esta época e a consequente perda de crença para o clássico. E com as ausências, Jesus já nem se vê obrigado a procurar dar a este remendado Benfica a qualidade futebolística evidenciada noutros jogos pois tem desculpa para isso: os intérpretes não são os mesmos. Assim, o Benfica está protegido e passa a batata quente ao Porto que terá de convencer na Luz, os adeptos e a si mesmo que tem estofo para ser campeão. O Benfica, estará protegido disso pois quando regressarem Di Maria, Coentrão e Ramires sairá sempre o: "com estes é que vos havíamos de apanhar!". O Porto, esse, já beneficiou dessa protecção da ilusão (o mito dos maus inícios de época e a troca de jogadores) e agora terá mesmo que sair em grande, psicologicamente, do clássico. E já bem cansadinho de ler este texto, o leitor já se deve ter apercebido que, para mim, o importante neste clássico nem são os três pontos...
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