sábado, junho 12

O desbloqueador francês que provavelmente não existe

Se havia expectativa relativamente à estreia da selecção gaulesa, ela era, obviamente, negativa e a equipa de Domenech fez questão de a confirmar. A França está longe de assustar e parece ter um problema crónico de confiança, isto porque afinal os jogadores também se apercebem de que os tempos áureos já lá vão.

A febre do campeonato do Mundo tem muitas particularidades. Por exemplo: porque outro motivo qualquer, um português assistiria a um África do Sul x México? Ou porque não teria nada para fazer, ou porque é um amante do futebol, à la Luis Freitas Lobo, e gosta de seguir jogadores, ou então porque é o jogo de abertura do Mundial. Mas este segundo jogo trouxe, para os portugueses, uma maior fatia de interesse: a inimiga França.

É inegável que desde 1984 - às tantas até antes - a rivalidade entre Portugal e França é uma realidade. Já não era habitual, por inúmeras razões, gostar-se dos franceses, e por consequência do país, e eles ainda fizeram questão de nos vencer, várias vezes, em partidas de fases-finais de Europeus e Mundiais. Assim sendo a maioria dos amantes de futebol portugueses espera a vingança, nem que ela apareça sob forma de vitória alheia. Desde que a França, perca, empate ou seja eliminada, está tudo bem.

Eu cá, não me aquece nem me arrefece. Acompanhei os embates desde 2000 e constatei que os franceses foram sempre justos vencedores, não me faz diferença o país, nem a língua - que até gosto -, nem tão pouco a arrogância que lhes é generalizadamente conotada. Mas este Mundial, assim como já os Europeus de 2004 e 2008 tinham evidenciado, poderá dar essa "alegria" aos portugueses. É que esta França, ou arranja algo que a desbloqueie, ou estará condenada.

Primeiro que tudo, o estofo. Aquilo que cria pânico nos adversários ao mesmo tempo que dá nos dá confiança. Nesta França, que defrontou o Uruguai, isso não existe. Há demasiada dúvida própria que dá origem a muita da trapalhada que se viu na Cidade do Cabo. O Uruguai fez o que a maioria da selecções foram para a África do Sul fazer - obviamente defender - e deu-se bem, muito por culpa das decisões gaulesas.

Com três centrais, a equipa sul americana concedeu um domínio que a França nunca soube aproveitar. As alas eram oferecidas, como engano, e o jogo francês foi constantemente atraído para a armadilha. Constantes cruzamentos que nunca deram em nada e jogo interior poucas vezes tentado. Estaria aí, nesse jogo interior, a chave. E para além de tudo isto, foi claramente, notório o desânimo, que afectou inúmeras decisões, a alastrar-se a cada minuto que passava. Se toda a gente sente que a França não está forte, os seus jogadores não serão excepção.

Os portugueses poderão sorrir com escárnio - semelhante ao que criticam em Domenech-, mas se analisarem bem descobrirão que este período gaulês terá muitas semelhanças com que a nossa selecção enfrenta. Bons jogadores não faltam mas o estofo não está lá. Falta algo que o desbloqueie, e para isso acontecer, esse algo, terá que estar na equipa pois há coisas que não se inventam. Conseguiremos nós escapar a essa incapacidade?

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