domingo, agosto 5

Falta plano para mudar o disco riscado

Incapacidade! Para que não se diga que ela andou escondida à espera de surpreender, fica desde já bem visível a carência de algo que, certamente, os adeptos do FC Porto vão reclamar na época 2012/13. A equipa apresentou-se aos sócios e não poderia haver apresentação mais digna em termos de valores éticos. Mostrou ao que vai e não escondeu as suas deficiências. Por 10 minutos ainda enganou, foi o tempo em que os seus jogadores correram por si próprios. Depois, quando precisaram de uma ideia colectiva de jogo, foi ver um Lyon sem último terço controlar a partida a seu bel-prazer.

Sem rodeios, já se sabe há muito que a Vítor Pereira lhe falta a varinha de condão para transformar este plantel do FC Porto numa equipa verdadeiramente temível. E isto nem é uma crítica ao treinador, quanto mais ao homem. Quantos vemos por aí com uma varinha de condão pronta a transformar as coisas para melhor? Vítor Pereira é sincero, honesto, trabalhador, mas tem - visível a todos - a falta de algo mais. Dá liberdade total e completa aos jogadores e já assumiu publicamente que não é "ninguém" para dar lhes dar ordens tácticas. É, em suma, o exemplo perfeito de que o FC Porto pode jogar 'sem treinador'.

Ontem, pela enésima vez, a equipa jogou a seu bel-prazer sem um plano para alterar momentos de jogo. Entrou bem, embalada pela festa e pela vontade dos seus jogadores, até o Lyon dizer basta e controlar os 'fogachos' do Dragão. Aí, a falta de um plano ofensivo que dê soluções aos jogadores notou-se tanto quanto a incapacidade defensiva para recuperar o controle de um jogo... de apresentação. O festival de incongruências, de passes falhados e de jogadores a olhar para o lado à procura de ajuda foi imenso. Um Lyon sem último terço (problema deles, não é o Lyon que aqui analiso), controlava e amansava uma equipa à qual só faltou ronronar.

O intervalo deu a hipótese para se mudar o estado de coisas. O apelo à alma dos jogadores foi evidente, mas esse, sem plano, evapora-se rápido. Mais uma entrada com um nível que agradaria que se mantivesse e uma oportunidade de golo clara. Atsu vai à linha e cruza atrasado para Lucho que remata rente ao poste da baliza de Lloris. E mais? Bem, para se contar outra oportunidade e outra jogada bem desenhada vamos ter de recuar a outro jogo ou esperar pelo próximo. Não houve vendaval, não houve forçar, não houve controle. Apenas demasiadas incongruências e uma certeza já devidamente estabelecida:  A esta equipa do FC Porto jogadores e talento não faltam - até sem Hulk, Alex Sandro e Danilo - mas falta-lhe competência e plano para voltar a noites de domínio. É que depender da vontade dos jogadores é francamente pouco, para alguém que quer vencer também em outros estádios e não só na Luz. Sim, aí já sabemos que vão entrar todos 'a partir'. Já o facto de isso não ter continuidade tem razões e a maior delas é a incapacidade do treinador.

Que se inteprete como uma crítica ao homem, ao treinador, um ataque pessoal infindável e sem tréguas. Que se argumente com deficiências da SAD ou da política do clube. O que eu sei é que elas já estavam todas lá antes de Vítor Pereira. E o que eu sei também é que o nível de futebol que o Porto quer, nada tem a ver com incapacidade e olhares incrédulos de jogadores contrastando com olhares tensos de treinadores. O FC Porto augura mais e provou anos a fio que tem política, adeptos, jogadores e condições para isso. Neste momento falta um treinador, uma ideia, um plano, que se coadune com isso. Mas bem, nas próximas eliminações falamos melhor. Aí nos entenderemos.

3 comentários:

Rebello disse...

Vai ser interessante perceber até que ponto, depois de ter sido campeão, a direcção estará disposta a segurar VP.

Principalmente se os resultados forem semelhantes na champions, com o mesmo "futebol".

Gonçalo disse...

Tem calma Marco e acredita um bocadinho. Nem tudo é mau e vais ver que com um lateral esquerdo (no ano passado foi a saga na direita, espero que não seja ora um ora outro) e Moutinho no meio a coisa melhora significativamente. Acho que mesmo o VP terá aprendido qualquer coisa no final da época passada (sempre ganhámos o título) e transpor para esta nova temporada.

Marco Morais disse...

Eu calma tenho, mas nestes dois últimos jogos vi o filme todo. Ainda para mais repetido...

Não digo que não me possa enganar e não digo que Vítor Pereira não possa evoluir. Mas parece-me, sinceramente, algo difícil.

O que mais chateia é que gosto do plantel e gosto do provável onze, mas falta atitude, ideia. Um treinador não é só alguém que usa uma braçadeira. É alguém que transmite ideias, planos, para a adversidade.

Vítor Pereira não é ainda esse homem (e aqui já estou a ser simpático). E caso o venha a ser demorará tempo. Não me parece que esta equipa, e este clube, tenham esse tempo. Esta é a história de um divórcio mais que anunciado. E não me parece que PC desta vez espere muito.