Chegados quase ao fim da contenda, quase que dá para pensar - e acreditem que há muita gente que o faz - que o Braga só foi tão forte para, ironicamente, o Benfica ser campeão no Dragão. Muita carga emotiva será depositada num só jogo, que tem também outro marco a ser destacado: a despedida de Jesualdo Ferreira do Dragão.
Será o desfecho mais esperado, e ansiado, aquele que vai acontecer, no Domingo à noite, no Dragão? Ironicamente, ou não, tudo caminhou nesse sentido. Desde um Benfica fortíssimo, com uma só derrota no campeonato,a um Braga surpreendente a apenas seis pontos desse registo e a um Porto que não conseguiu acompanhar o ritmo dos rivais, tudo aponta para que o Benfica se sagre campeão - visto só precisar de um ponto em duas jornadas -, mas este campeonato tem, de certeza absoluta, quem espere ainda a ironia desajustada que seria o Braga ser campeão.
Não o espero nem penso nisso e as próximas linhas até poderão parecer contra-senso, no entanto têm como único fundamento a importância de não deixar o Benfica assegurar o título no Estádio do Dragão. Será por demais óbvio que uma vitória do Porto frente ao Benfica não apagará a má época e que mesmo que essa vitória seja conseguida ela poderá ser imediatamente apagada, pelo velho rival, na jornada seguinte. Não se trata de "ganhar campeonatos" com vitórias sobre os rivais, mas já me parece demasiado evidente a troca de posições que assumimos com o Benfica e um estender de passadeira - à boa maneira vermelha nos tempos de Porto mais forte - seria uma última confirmação dessa evidente troca de posição.
No meio de tudo isto surge uma, mais que provável, despedida. O professor Jesualdo cumpre, no seu (mais que provável) último jogo no Dragão, um castigo a que muitos apelidarão, também, de irónico. Ironias à parte, acredito que sejam momentos difíceis para o professor. Foram quatro anos e por mais conquistas que tenha tido a massa adepta raramente o apoiou, por razões já mais que debatidas. Por isto tudo foi raro falar-se das coisas positivas que Jesualdo conseguiu no Porto, até porque penso que a maioria dessas coisas foram sendo conquistadas para ele próprio à medida que se ia debatendo entre o seu método de treinador e o modelo de exigência do clube.
Andou, em tempos, lá perto. Perto da exigência que sempre tivemos para com ele, perto da desmesurada exigência que os tempos pós-Mourinho trouxeram aos adeptos azuis e brancos. Como é óbvio não aguentou e foi criticado por isso, mas o balanço, desenganem-se, é claramente positivo.
Com um modelo de jogo completamente, em certos pontos e momentos, antagónico ao que eu defendo, o professor foi conseguindo cumprir e até registar jogos bastante interessantes (muito menos do que poderia conseguir com outra filosofia) e foi na Europa, ironicamente também, que conseguiu o melhor e o pior da sua faceta como treinador. Muitos, agora e devido a esta emergência forçada do losango, criticam o 4x3x3 como se a solução estivesse na táctica ou, até, neste ou naquele jogador. Foi na Europa - e nos jogos "a doer" - que Jesualdo - à boa maneira portuguesa, também ela já mais que debatida - abdicava do seu trabalho anual para colocar em prática modelos rudimentares. Essa foi a sua maior falha, e a sua maior "virtude" esteve quando, acredito, não foi ele próprio, quando não alterou, quando se debateu e lutou contra a sua filosofia. Foi em Madrid e em Manchester - para não falar nas brilhantes fases de grupos - que a sua estrela brilhou.
Convém também falar e recordar que o professor Jesualdo Ferreira encaixou, muitas das vezes na perfeição, naquilo que foi a "missão" (ou falta dela) comunicativa do clube. Com a SAD a deixá-lo, na maior parte das vezes, sozinho na guerra, Jesualdo nunca se intimidou e pagou, com a própria imagem, por isso. Convém também não esquecer que a mudança de ciclo que o Benfica força no futebol português nos remete agora para a posição tanta vez ocupada por eles, e como os exemplos estão bem à vista não seria surpresa nenhuma para mim que Jesualdo até pudesse ficar mais um ano.
Não é a minha opinião mas poderá acontecer. É que trocando só para melhor (e como se sabe? batendo como que escolhendo melões?) e neste momento as alternativas não são mais que feelings. Importará certamente aprender com os erros, sobretudo o maior desta época. É que um Benfica forte pode, realmente aparecer (ai sim? agora e à segunda já todos sabem, ainda que alguém ainda espere surpresas).
8 comentários:
Correndo o risco de mais uma vez não ser atendido neste tema, podias desenvolver isto: ""missão" (ou falta dela) comunicativa do clube".
Tenho curiosidade em saber opiniões sobre a politica de comunicação do porto.
Qual política de comunicação? A que assume que não é preciso tê-la porque os outros são sempre um fiasco?
Ah ok, não houve politica de comunicação (discordo, mas não me alongo).
Mas o que é que para ti devia ter sido dito que não foi dito e o que é que se disse que não devia ter sido dito?
Gostava apenas de apanhar a ideia, é que tenho ideia de uma vez criticares o discurso de alguns dirigentes mas nunca precisaste bem o quê.
Não interessa se concordo com a política ou não, o que me interessa é haver uma. Um pouco como os modelos de jogo...
O que não acho correcto é deixar Jesualdo ser o único porta-voz do clube, salvo as vezes que PC se "estica" nas casas do clube.
Jesualdo fez bem esse papel mas, obviamente, desgastou imenso a sua imagem visto ser o único a falar, e para o ar diga-se.
Sabes bem a minha opinião sobre os casos que aconteceram, até algo discordante da maioria portista, mas não estou habituado a tanta leviandade e ingenuidade. Antes e depois dos casos.
Foi confiança a mais no que tem sido e desconfiança a mais no que realmente foi.
Mas atenção tudo isto é normal e tem que acontecer. Tudo aquece e tudo arrefece... É como diz o outro: só passando por elas. Ou "é a vida e tal..." e demais clichés.
"Não interessa se concordo com a política ou não, o que me interessa é haver uma. Um pouco como os modelos de jogo..."
- então como é que criticas declarações de vários intervenientes desportivos? Se a politica do teu clube não interessa, interessa a de quem? a dos outros?
Interessa-me é se há política ou não... como não há...
Estamos quase a completar uma circunferencia neste diálogo, a partir daqui continuariamos ás voltas.
Este assunto deve ser uma espécie de tabu, para quem quer ser alguém ponderado, pois é óbvio que a politica existe e é sempre igual.
Se para ti existe então és tu que tens de falar nela.
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