Do 8 ao 80, do céu ao inferno, ou vice-versa. O golo e a vitória como principais catalisadores desta doença bi-polar do futebol. Quem tem golo normalmente ganha, quem não tem normalmente não ganha, mas há muito mais para além disso.
Começando pelo jogo que começou a despoletar esta, ainda não consumada, reviravolta no futebol português, a Supertaça trouxe um Porto que não prestou reverência ao actual campeão. Surpreendeu, defendendo alto, e utilizou a fórmula contrária ao que vinha sendo habitual nos últimos anos, ou seja, prescindiu de um médio menos criativo por outro que obriga a subir a equipa e que mesmo perdendo mais bolas obriga também a equipa a recuperá-las mais próxima da baliza adversária.
Não será coincidência que as duas vitórias mais recentes do Porto frente ao Benfica tenham como denominador comum Fernando Belluschi. De facto, o criativo argentino é a pedra fundamental neste Porto ausente de Lucho. Já o deveria ter sido na época anterior mas Jesualdo assim não o entendeu, assim como Villas Boas durante toda a pré-época tendo sido depois bafejado pelo azar de Rúben Micael.
A partir daí foi-se desenrolando o fenómeno que já todos conhecemos bem e que foi decisivo para o Benfica campeão, só que agora surge por outras paragens afectando a equipa da Invicta. Os golos - sim, alguns de pénalti - desbloqueiam o futebol dos portistas que atingem assim grau de confiança para se entrosar e motivar. Com a(s) vitória(s) tudo soa melhor e Villas Boas já não é, aos olhos de Portugal, o bétinho teórico dos livros, para passar a ser um competente treinador com um discurso e estratégia muito bem orquestrados.
Isto, claro, aos olhos de Portugal, que como bem conhecemos é o país do 8 ao 80. Vão decorridas duas jornadas e não há coincidência nas quatro derrotas consecutivas do Benfica ou nas quatro vitórias consecutivas do Porto, mas ainda é demasiado cedo para anunciar campeões. Ainda há muito a provar em relação a estas duas equipas mas, para já, aquilo que define as suas posições foram as apostas dos seus treinadores. A André correram bem, a Jesus - tal como a Jesualdo com Guarín na Luz e Nuno na Carlsberg Cup - correram mal e isso, por agora, faz toda a diferença na estabilidade das duas equipas.
Já Braga e Sporting continuam muito parecidos à época transacta. O primeiro continua, e bem - ainda que não seja o modelo que eu defendo-, a apostar no fio-de-jogo que lhes valeu o segundo lugar na passada época. Muito dependentes do golo, os bracarenses vão ter que colocar na equação a estrelinha da época transacta e isso... não se pode controlar. Em Alvalade, as indefinições de sempre. Modelo de jogo não adequado aos jogadores que dispõe e mais uma vez... barafunda total. Ele é 4-4-2 clássico sem nenhuma razão aparente para isso, ele é 4x3x3 sem alas, ele é um 4x2x3x1 que já deu muitas provas de ineficácia. Pergunta: há extremos na academia? há treinadores na academia? a minha resposta é que tanto extremos como treinadores se os há bons em Portugal é em Alcochete certamente. Para quê tanta incerteza?
P.S. Faço um aparte sobre o assunto do momento no futebol português: o guardião Roberto. Como não é culpa total de Belluschi que o Porto tenha quatro vitórias consecutivas, também não é culpa total de Roberto que o Benfica tenha o mesmo número de derrotas. Mas é certo que o espaço para o guarda-redes espanhol acabou, como também é certo que não terá qualidade para ser o guardião que Jesus augurou. Não surpreende de quem disse não achar "grande piada a Casillas porque Valdés é bem melhor". Que os guarda-redes são como os melões já toda a gente sabe, mas há indicadores que não podem ser postos de parte como o número de vezes que a bola lhes chega durante um jogo. Jogar no Saragoça - ou porque não em Setúbal? - não é o mesmo que jogar no Benfica.
1 comentário:
Excelente post!!!
Concordo contigo especialmente na parte em que falas do Sporting.
Tanta incerteza acerca de como por a equipa a jogar, não vai dar bom resultado de certeza.
Extremos em Alcochete é coisa que não tem aparecido nos ultimos anos e creio que tão cedo não aparecerão. Aparecem centrais, laterais, médios e avançados. Confio que o clube continue a apostar naquilo que até agora é das poucas coisas que faz bem.
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