quinta-feira, junho 19

Hasta la derrota, siempre!

Demasiado cruel é o Mundo de quem vive na fronteira entre a vitória e a derrota, esquecendo-se de que para se viver no seu máximo potencial é preciso 'ideia nova' que transcenda o estabelecido. Assim todos os contos-de-fadas em futebol têm o seu inevitável fim no outro extremo do sucesso: a tão temida derrota. Para a Espanha, indiscutivelmente a melhor selecção mundial nos últimos 6 anos, não seria diferente. A exigência máxima que carregou nos ombros desde 2008 não a deixou, em 2014, transcender mais. Contudo, na 2.ª jornada do Grupo B do Brasil'14 só poderá falar-se de uma morte física. Essa será aquela que preencherá as 'portadas' depois do desaire frente ao Chile (0-2), que afasta a rainha do futebol da sua mais cruel competição. Porém, aquela à qual se deveria prestar maior atenção de momento seria a 'morte cerebral' que o 'tiki-taka' sofreu quando o seu 'guru' abandonou o núcleo duro de 'la roja' (leia-se FC Barcelona) precavendo-se de um fim que sabia anunciado. Já lá vão dois anos, mas só esta quarta-feira, no Maracanã, o seu coração deixou de bater.


Será um exercício de memória quase tão duro como ver a Espanha sem linhas-de-passe, sem torturar o adversário até ele se desmaterializar, sem o encostar às cordas para depois desferir a estocada fatal, mas terá de ser feito. O Espanha-Chile do Mundial'2014 terá de lembrar a todos os apaixonados por um estilo que revolucionou o futebol da mítica despedida de Guardiola do FC Barcelona. O processo de deterioração, a partir daí, foi lento, mas totalmente verdadeiro. O 'tiki-taka' perdeu a sua génese e foi querendo vencer cada vez mais à pressa, sem critério, sem decisão acertada para o seu posicionamento em campo (daí as goleadas sofridas). Um caminho que não foi abrupto, porque a ideia ainda ecoava no cérebro de Iniesta, Xavi, Piqué, Busquets e Fàbregas quando 'emprestavam' o seu jogo à selecção que o falecido Luis Aragonés apelidou de 'Roja'. Um futebol que convenceu os restantes protagonistas - mesmo os do maior rival - a converterem-se a um modelo que, hoje, já não existe.


Assim, mesmo que o coração ainda batesse o suficiente para se vencer o Euro'2012, a dúvida existencial que foi assolando o Barcelona (aquele que mais vezes teria de fazer valer o estilo - não de 3 em 3 meses como a selección), transportou-se neste ano, de vez, para a equipa de Vicente del Bosque. E enquanto que Xavi ia garantindo que a Espanha morreria a jogar da mesma maneira, a derrota frente à Holanda foi a desculpa ideal para retirá-lo do campo. Fàbregas já não estava lá, Busquets não aguenta tanta perda de bola (quem aguenta?) e Piqué viu o jogo do mesmo ponto-de-vista que o 'temporizador' Hernández. Ficou Iniesta, desamparado como na espectacular capa desta quinta-feira do jornal 'Marca', para provar que as 'ideias novas' (as mesmas que levaram Diego Costa a ser titular novamente) não lhe servem. Nem a ele, nem à rainha do futebol ontem deposta.

Era a altura ideal para todos os 'baixinhos' poderem tentar fazer vingar a sua ideia. Mereciam, ao menos, poder tentar evitar cair com ela. Era altura ideal para todas as linhas-de-passe possíveis e imaginárias (aquelas que só eles vêem) aparecerem no relvado do Maracanã, tentando reproduzir a superioridade moral que um estilo bi-campeão da Europa e, ainda, campeão mundial ganhou ao longo de 6 anos. Mas ao invés, apostou-se sim mas na verticalidade imaginária de Costa, Silva e Pedro, que nunca chegou a acontecer porque... nunca houve bola. Foi penoso ver a Espanha sofrer dois golos sem nunca conseguir fazer circular a 'pelota', sem nunca fazer com que o Chile precisasse de recuar linhas e de ter dúvidas que podia ganhar o jogo. E sem essa superioridade, inventada por Aragonés e aperfeiçoada por Pep Guardiola vezes sem conta, restou o marasmo. O futebol especulativo, o 'carrossel' dos 'baixinhos', conheceu o seu fim... no dia em que se renunciou a ele. E esse foi o mesmo dia em o 'balón' não girou para desposicionar o adversário, o dia em que o esférico não cansou o rival abrindo-lhe 'buracos' sem fim. Tudo o resto - as recepções falhadas, a falta de 'pressing' e a falta de critério na linha-defensiva - vieram por arrasto da dúvida própria, da falta de 'ideia nova' para fazer evoluir o estilo e não... acabar com ele.

Espanha-Chile, 0-2 (Vargas 20' e Aránguiz 43')

1 comentário:

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

Pior que a forma estrondosa que caíram foi a luta que deram neste mundial, ou seja, nenhuma. Não corriam não disputavam as bolas não pressionavam, zerinho mesmo. Muito estranho.