Imagina que:
- tens 22 anos, és ferrenho adepto do Benfica - daqueles que vão a Bordéus, Génova ou Bruxelas de autocarro, dormindo no veículo e passando dias sem tomar banho -, tens há vários meses viagem de finalistas marcada e descobres que regressas a Portugal apenas no dia seguinte à segunda mão da meia-final da Taça dos Campeões Europeus. Cancelas a viagem? Não dá. Está paga e não convém desperdiçar a oportunidade de conhecer a Tailândia;
- no dia do jogo, regressado de Banguecoque, estás em Londres. Não há telemóveis, Internet ou canais de televisão que transmitam todos os jogos da mais importante prova de clubes da UEFA. Não conseguiste descobrir onde fica o Sport London e Benfica;
- proporcionas a uma colega o pior jantar da sua vida, pois passas o tempo a olhar para o relógio e a dizer "há 5 minutos de jogo", "já vai na meia-hora", "agora, está no intervalo", etc., angustiado, não fazendo ideia do que se passa no Estádio da Luz;
- passeias pela rua e encontras uma loja de electrodomésticos. Transmite um resumo do jogo. Não sabes o resultado. Vibras como se estivesses no estádio. Colegas teus se juntam, formando um grupo considerável. As jogadas sucedem-se, sem golos. O Vata marca. Londres é agitada por aqueles portugueses. Percebes que no estádio a festa é grande. Deve ter sido o primeiro golo. Logo de seguida, livre perigoso contra o Benfica. Silêncio. A bola não entra. Nova celebração. O resumo acaba e não mostra festejos. Sem som, não tens a certeza de que terminou 1-0. Cruzas-te com outros benfiquistas. Perguntas o resultado: "Acho que ganhámos!";
- a informação é insuficiente. Vais rapidamente para a pousada de juventude. Tens de telefonar para casa. Pode ser que o teu pai já tenha chegado do estádio. Não chegou. Atende uma voz feminina. Antes de procurares saber se está tudo bem e de dares conta do teu bom estado de saúde, disparas: "Mãe, quanto ficou o Benfica?". "Não sei, mas parece-me que ganhou".
- tens 22 anos, és ferrenho adepto do Benfica - daqueles que vão a Bordéus, Génova ou Bruxelas de autocarro, dormindo no veículo e passando dias sem tomar banho -, tens há vários meses viagem de finalistas marcada e descobres que regressas a Portugal apenas no dia seguinte à segunda mão da meia-final da Taça dos Campeões Europeus. Cancelas a viagem? Não dá. Está paga e não convém desperdiçar a oportunidade de conhecer a Tailândia;
- no dia do jogo, regressado de Banguecoque, estás em Londres. Não há telemóveis, Internet ou canais de televisão que transmitam todos os jogos da mais importante prova de clubes da UEFA. Não conseguiste descobrir onde fica o Sport London e Benfica;
- proporcionas a uma colega o pior jantar da sua vida, pois passas o tempo a olhar para o relógio e a dizer "há 5 minutos de jogo", "já vai na meia-hora", "agora, está no intervalo", etc., angustiado, não fazendo ideia do que se passa no Estádio da Luz;
- passeias pela rua e encontras uma loja de electrodomésticos. Transmite um resumo do jogo. Não sabes o resultado. Vibras como se estivesses no estádio. Colegas teus se juntam, formando um grupo considerável. As jogadas sucedem-se, sem golos. O Vata marca. Londres é agitada por aqueles portugueses. Percebes que no estádio a festa é grande. Deve ter sido o primeiro golo. Logo de seguida, livre perigoso contra o Benfica. Silêncio. A bola não entra. Nova celebração. O resumo acaba e não mostra festejos. Sem som, não tens a certeza de que terminou 1-0. Cruzas-te com outros benfiquistas. Perguntas o resultado: "Acho que ganhámos!";
- a informação é insuficiente. Vais rapidamente para a pousada de juventude. Tens de telefonar para casa. Pode ser que o teu pai já tenha chegado do estádio. Não chegou. Atende uma voz feminina. Antes de procurares saber se está tudo bem e de dares conta do teu bom estado de saúde, disparas: "Mãe, quanto ficou o Benfica?". "Não sei, mas parece-me que ganhou".
12 comentários:
ahahahaha
viagem de finalistas na Tailandia?
Não vivias mal, pá!!!
:-)
Que angústia deve ter sido, porra!
João,
Para que a viagem não fosse demasiado cara, fomos de Londres a Banguecoque na Tarom, transportadora aérea da Roménia. Deviam ser os aviões que os soviéticos despachavam para lá. Um verdadeiro suplício! Nunca tive tantas dores de ouvidos. E os chocolates oferecidos a bordo eram piores do que os vendidos no Cais do Sodré...
Que bela posta! :)
Eu ainda tinha 10 anos e o meu pai não me quis levar ao estádio por causa da enchente.
Lembro-me de ter devorado o Telejornal ansioso pela revelação de um directo televisivo que não apareceu. Até que o telefone tocou. Era o pai de uns amigos meus (na altura acho que era a única casa que conhecia com parabólica) a avisar que a Eurosport transmitia a segunda parte.
O golo foi com a mão? Queria lá saber! Foram as primeiras lágrimas que verti pelo Glorioso!
Fui com o meu irmão e um amigo dele ao Estádio da Luz. Cheguei à porta e não me deixaram entrar sem bilhete. O mano arranca a correr e vai à bilheteira comprar o sagrado ingresso. Entramos e o Estádio estava à pinha, fiquei junto è rede por baixo dos Diabos. Lembro-me da carga policial sobre os franceses. Tensão o jogo todo. Canto. Só vi a bola lá dentro. Como elemento mais novo na bancada naquelas bandas andei pelo ar nos braços de não sei qts, foi a loucura total. Aterrador o silêncio no Estádio qd é assinalado um livre directo a favor do Marselha no cair do pano seguido do maior suspiro de alívio q se terá ouvido. O amarelo ao Veloso que o impediu de ir à final. A loucura após o apito final, a loucura no regresso a casa "o Papin foi papado". Inesqúecível.
Na primeira volta a segunda parte foi um massacre. Mas eles tinham bomba. Só podia. Nunca me hei-de esquecer do Pacheco, q tinha acabado de entrar, perder em corrida para um dos laterais que estava a jogar desde o inicio e q partiu vários metros atrás. Impressionante.
Eu fiz 726 kms para ver esse jogo (363 para cada lado) na Luz. Tinha 16 anos.
O que vivi foi fantástico e indescritível, quer antes pela ansiedade, quer depois do golo do Vata pelo delírio.
Também não me apercebi no estádio que o golo tinha sido marcado com a mão.
Tinha 11 anos e lembro-me do golo do Lima em Marselha e como ia dando cabo de um sofá tal foram os saltos que dei. O resto do jogo foi um sofrimento.
O jogo na Luz ouvi a primeira parte na rádio e vi a segunda na eurosport, mas com o delay entre a rádio e a TV ainda não tinham marcado o canto na TV e já todos festejavamos o golo.
Hoje é preciso jogar com cabeça, ganhar sem sofrer golos e acima de tudo sem lesões.
Desde que acordei esta manhã não penso noutra coisa a não ser nesse jogo.
Já chorei hoje à pala disso... São tantas as recordações.
Carrega Benfica.
São momentos desses na vida que não esquecemos.
http://aoutravisao.wordpress.com/
Pedro, se não estou em erro esse defesa direito era o Angloma...Não era um menino qualquer.
Mas aquele ataque era de doidos, Papin, Waddle, Francescoli.
http://www.record.xl.pt/fotogalerianoticia.aspx?channelid=00002439-0000-0000-0000-000000002439&contentid=5F63466A-D646-45CC-905F-FD16824F2F53
Foi provocado o rapaz...
Lembranças, lembranças...
No meu caso vivi o jogo do outro lado, estava em França na altura e, que me lembre, foi, com 11 anos, a minha primeira grande (enorme!) alegria futebolística. Por influência paterna, nasci com os genes benfiquistas mas esta vitória foi a minha revelação :)
Não vi o golo em directo, fechei os olhos e juntei as mãos à espera de um milagre que veio a acontecer.
Para quem vivia lá e depois de dias de bocas e provocações dos amigos franceses, quando entrei na escola, parecia que media 2 metros. Chamaram-me alguns nomes, de batoteiro para cima, mas nesse dia ninguém conseguiu tirar o meu sorriso de orgulhoso benfiquista...
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