quarta-feira, fevereiro 20

Málaga apanhado fora-de-jogo

Ao intervalo do FC Porto-Málaga, estiquei as pernas bem confiante. O jogo estava por demais controlado e dominado e todas as visões que davam com que o Málaga fosse capaz de disputar o jogo no Dragão iam desaparecendo à medida que o 'duplo-pivot' de Pellegrini não conseguia suster o superior jogo português. A ideia ia chegando à área espanhola mas embatia na falta de criatividade atacante e no estoicismo defensivo malaguenho. Era portanto, a meu ver, tempo de magia, de rasgo individual. Era portanto tempo de James. Mas, mais uma vez, o destino ensinou-me que nem tudo o que peço tem de ser e foi o treino e jogada ensaiada mil vezes que trouxeram a alegria ao Dragão. O mérito vai inteirinho para quem mais o merece. Foi Vítor Pereira o obreiro daquilo que vimos no relvado, pois a competência colectiva do seu FC Porto é cada vez mais evidente.

Não era ilusão, não era 'fingir até acontecer'. Olho, hoje, para a equipa do FC Porto e ela é capaz de me encher as medidas. Sai desde a sua área, organiza, olha nos olhos o adversário, chama-o. É capaz de criar 'para a frente' e recriar, se assim tiver de ser, até Helton, o que demonstra clara confiança em si, nas suas ideias. Os centrais saem sempre (mas sempre) a jogar e a partir daí todos os jogadores se envolvem no propósito que é jogar no meio-campo adversário. Uma cultura que só é possível pela reacção à perda de bola. Um pressing fabuloso que encurta o campo até o relvado do Dragão parecer um campo de ténis para as saídas do adversário. A Vítor Pereira o mérito, a Ode, a minha vénia. Conseguiu acreditar na ideia que eu julgava inexistente, até a trazer à realidade. O espinhense mais que ninguém, sabia o que lá vinha. Sabia e continuou a acreditar até o trazer aos olhos de todos os portistas que continuavam a deslumbrar-se com outros pormenores. Hoje a verdade da sua ideia vence, e ainda bem que assim é.

E tem tal força essa verdade que equipas como o Málaga vêm ao Dragão para ver jogar. O chamado camaleão táctico mostrou a sua pior cor. Durante a semana foi ler em artigos que o Málaga era capaz de tudo. De controlar, de circular, de esperar e de soltar contra-golpes mortais. Uma verdadeira Bimby do futebol, que encravou quando a receita foi de mais para ela. O duplo-pivot, Iturra e Toulalan, ainda foi aguentando a pontapé. Mas depois de amarelados, os trincos que compunham o primeiro muro de Pellegrini ficaram a ver jogar nas subidas de Fernando e, até, de Otamendi. Superioridade no meio-campo é superioridade no jogo, de tal forma que daí até a bola chegar ao último terço é um suspiro.

E chegou. Chegou mas não chegou 'redondinha'. Quer pela competência no 1 para 1 dos defensores malaguenhos, quer pela falta de tacto na entrega do último passe. Era outro muro que se estendia para lá do intervalo, momento onde pensei em quem sempre penso para resolver jogos. Se temos um problema pedimos a solução favorita para ele. E se o problema era falta de magia e de rasgo individual para 'partir' os rins aos dotados centrais do Málaga, então a solução seria sempre o jogador que mais rouba jogos, certo? Errado. Quando James entrou, já estava esgotado o período mais fresco da equipa e já estava também resolvido o imbróglio que teimava em deixar o Málaga empatar com um adversário que lhe estava a ser tão superior.

Foi no treino que foi encontrada a solução. Para os mais distraídos, o FC Porto tem um vasto leque de movimentações no último terço. Seja por diagonais de Jackson e Varela ou por chegadas à área de Moutinho e Lucho, os dragões conseguem do 'nada' meter um jogador na 'cara do golo'. Foi assim que Moutinho chegou lá no campo, por mérito de Vítor Pereira no Centro de Estágio. Foi por estas diagonais e por estas chegadas à área o berreiro que o técnico fez na Luz. "Deem-me atenção, deem-me atenção. Deem atenção ao meu trabalho", parecia querer dizer. Eu dou, Vítor, eu dou! Eu vi e continuo a ver, como tu hoje vês também que não tem sentido fazer berreiros. O Universo dá o seu ao seu dono e o que tirou outrora, dá mais tarde. Por isso vemos, hoje com a mesma importância do teu berreiro, Espanha - e metade de Portugal - a fazer 'portada' com um fora-de-jogo, quando ambos sabemos que a única coisa que esteve offside, durante toda a partida, foi a equipa do Málaga.

De facto, ambos sabemos, que o camaleão tem cores que não lhe ficam muito bem. Sabemos que nem sempre resiste aos predadores. Principalmente aqueles que sabem como lhe encurtar o espaço, até no seu habitat preferido. Esse, chama-se La Rosaleda e para além de toda a mitologia, é só mais um campo de futebol, onde pela mudança de chip do adversário se vai passar mais tempo em organização defensiva. Algum tempo mais, mas nunca tanto que faça os adeptos portistas, que se deslocarão à Andaluzia, forçar a vista para ver os seus ídolos.

23 comentários:

Tasqueiro Emigrante disse...

Em jogo corrido eu não me apercebi de nenhum fora-de-jogo e foi isso que o árbitro auxiliar entendeu tambem.

Na repetição pode-se admitir que foi fora-de-jogo, mas a UEFA é clara nas regras e nesse aspecto Portugal ainda é um País do 3º mundo(Em caso de dúvida de fora-de-jogo, deve-se beneficiar quem ataca)


Quanto aos Espanhois que dizer?
Ficaram com azia de serem a melhor Liga do Mundo e levarem um bailinho de uma equipa Portuguesa.

O Málaga fez 1 remate contra 17 do Porto e só teve 38% de posse de bola.

É permitido uma equipa jogar com 11 guarda-redes como fez o Málaga ontem?

Na segunda volta acredito numa vitória porque eles vão ter que sair da toca e jogar. Aí o Porto pode aproveitar os espaços que não teve ontem.

Marco Morais disse...

Também eu só me apercebi no rescaldo. De facto nenhum dos 4 sites portugueses que fez o acompanhamento do jogo em directo refere que Moutinho está adiantado.

Referem depois nas suas crónicas. Completamente difícil para o auxiliar discernir o posicionamento.

Tem a mesma importância que tiveram os da Luz. Às vezes somos beneficiados outra vez prejudicados. Completamente normal em futebol.

Boa vitória do Porto.

Anónimo disse...

Em relação ao fora-de-jogo, não percebo o drama de o reconhecer. Na imagem em directo viu-se logo que o jogador estava adiantado. É sempre lixado vencer com um golo irregular mas é preciso analisar a coisa como ela deve ser analisada, no contexto deste jogo e desta competição. Foi um erro de avaliação, pontual, que só podia ter acontecido naquele lance. O árbitro foi bastante equilibrado e, numa análise mais pormenorizada, beneficiou as duas equipas, o jogo. Pena aquele lance.

Em relação a VP. Eu sempre o achei um low-profile, daqueles que vai fazendo o seu trabalho devagar, mas com uma enorme confiança no seu trabalho.

Nunca compreendi muito bem as críticas que lhe eram feitas, porque sempre vi o seu FCP a ser quase sempre competente.

Este ano a equipa está ainda melhor, sem Hulk.

VP tem um enorme crédito no clube e no futebol: entrou para principal depois de ser adjunto de uma das melhores épocas de sempre do clube. E todos nós sabemos o quão difícil é manter o sucesso quando o sucesso acontece na proporção da época de AVB.

Mike Portugal disse...

luis,

"É sempre lixado vencer com um golo irregular..."

A Espanha não me parece que tenha perdido horas de sono quando nos venceu da mesma forma, portanto eu também não vou perder agora ;)

Anónimo disse...

Mike, nunca perco o meu sono por nada relacionado com futebol. Prefiro é vencer sempre com golos regulares. :)

Tasqueiro Emigrante disse...

luis disse...

"Na imagem em directo viu-se logo que o jogador estava adiantado."

Fodasse luis...que melão que vocês estão hoje...então com aquela capa da A'Bola imagino...

Para vocês é sempre claro quando são lances contra o Porto...mas isso não me surpreende...e eu até digo que é fora-de-jogo...

E da porrada que o Júlio Baptista e o Iturra deram durante o jogo? E os dois penaltis perdoados? E o facto de o Málaga não ter saido do meio campo e só ter feito 1 remate?

Enxe-te de moscas pá!

Marco Morais disse...

Eu reconheço o fora-de-jogo. Só não lhe dou extra importância. Tento fazer o mesmo quando o FCP fica razões de queixa.

O AS e Marca fazem portada. Tudo bem, estão nesse direito. VP fez berreiro na Luz, estava nesse direito também, mas ontem não disse nada.

O que é que era mais certo? Crer que um dia, como ontem por exemplo, o mesmo ia acontecer ao FC Porto. E aí, ninguém tinha razão para falar.

É por estas bolachas que eu falo de foras-de-jogo. Como sabes, não lhes dou grande importância.

Anónimo disse...

Marco, acho que no meu comentário ficou claro que o lance de ontem não teve grande importância.

"Foi um erro de avaliação, pontual, que só podia ter acontecido naquele lance. O árbitro foi bastante equilibrado e, numa análise mais pormenorizada, beneficiou as duas equipas, o jogo. Pena aquele lance."

Podia ter beneficiado o Málaga.

Por acaso vi o jogo com um grande amigo portista e ele próprio fez o comentário no lance em directo.

Mas foi, provavelmente, o menos importante a reter de tudo o que se passou no jogo. Acho que isso também ficou claro no meu comentário.

Marco Morais disse...

Luís,

Sabes bem que eu tou escaldado no que toca a 'extra-importâncias' nos lances de arbitragem, mas também não me pareceu que tu o tivesses feito no comentário acima.

Concordo absolutamente que o fora-de-jogo, foi o menos importante, muito por culpa da prestação do Porto.

zorg disse...

Sim, o golo é em fora de jogo, mas o lance é muito rápido e dificil de ajuizar.

O porto esteve muito bem em termos defensivos. Foi sufocante, ganhou muitas bolas e não deixou que o Málaga fizesse praticamenta nada em termos ofensivos. No entanto, também foi praticamente incapaz de criar oportunidades de golo ou sequer de entrar na área do Málaga com a bola controlada. A excepção foi o lance do golo. O Málaga vinha jogar para o empate e por pouco não conseguia os seus intentos.

Se tivesse de apostar, diria que esta eliminatória se vai decidir nos penalties.

Hugo disse...

O rendimento do Izmailov está-me a surpreender. A bola anda sempre colada ao pé.

Tasqueiro Emigrante disse...

hugo,

sempre andou colada.

a técnica do Russo é muito boa e sempre foi o melhor jogador do Sporting...Obrigado Godinho:)

Pedro disse...

"nunca perco o meu sono por nada relacionado com futebol"

Sorte a tua!!
:)

Jorge Borges disse...

Não vi o jogo do princípio ao fim. Do que vi, percebi um Málaga inconsequente quando conseguia passar do meio campo quase sempre entregando a bola aos jogadores do Porto. O Porto parecia ser a única equipa a querer jogar futebol.

Não vi em directo o lance do golo. Nas repetições vê-se que há um fora de jogo. É milimétrico e de dificilima análise. É daqueles erros que são perfeitamente desculpáveis. Fossem todos os foras de jogo polémicos como este e o mundo seria perfeito.

Ao contrário de alguns, cuja oponião muda em função da cor da camisola (defenderam a Académica e criticam o Málaga), e à semelhança do que deixei escrito sobre a postura da Académica na luz, a forma de jogar do Málaga foi feia mas totalmente legítima.

LMGM disse...

Jorge, não queres de certeza comparar Académica e Málaga, em termos de condições para jogar o jogo de uma forma equilibrada.

A diferença de meios para estragar à disposição de ambos os clubes é tão grande que altera qualquer visão de legitimidade em praticar aquele tipo de jogo.

A Académica andou armada em heroi a jogar futebol, cá dentro e lá fora, e levou o respectivo correctivo. Assim que passou a jogar "pior" começou a subir na classificação... O jogo da luz não veio do acaso.

Jorge Borges disse...

Não comparo a aacadémica com o malaga, comparo as posturas. Ambas ultra-defensivas. Mas não estou contra. São armas disponíveis e ao alcance de todos e quando assim é não há injustiças. Cabe aos opositores ter inteligência para conseguir desfeitear as estratégias. Agora se me perguntas se gosto de ver? não, não gosto. E acho que quem gosta de futebol também não.
Mas repito, é legítimo.

Pulha Garcia disse...

O Porto é mais equipa, jogou mais à bola, com mais meio-campo (Fernando, Mourinho e Lucho são um dos melhores meio-campos da Europa) e a haver um vencedor só podia ter sido o Porto. Em Málaga bastará marcar um golo, o que acredito acontecerá logo na primeira parte. Agora, sem golo ilegal a eliminatória estaria mal parada. Não se pode reduzir um jogo a um lance mal avaliado mas parece a sina do Porto ver os seus resultados sempre associados a erros de arbitragem. E "erros" aqui em sentido amplo...

Pulha Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zorg disse...

O porto não criou praticamente oportunidades de golo. A capacidade defensiva e de pressão teve o contraponto na quase nulidade ofensiva. A excepção foi o lance do golo.

Quantas defesas fez o guarda redes do Málaga? Mais, quantas vezes entrou o porto na área do málaga, com bola?

Carlos disse...

Marco, és um oásis no deserto.
É tão bonito ver o futebol, desfrutar do jogo.
Tenho pena dos sofredores.

cincoAzero disse...

antes beneficiar de erros no sentido amplo do que no sentido estrito

http://img266.imageshack.us/img266/2517/roubalheira.jpg

http://img818.imageshack.us/img818/1120/roubalheira2.jpg

cincoAzero disse...

Marco,
este foi um post de excelência!

Marco Morais disse...

Muito obrigado, cincoAzero =)