segunda-feira, janeiro 25

Julen Peseiregui

Queremos sempre ser chamados pelo próprio nome. Pode haver alcunhas que gostamos e que reforçam as nossas qualidades, mas não as havendo preferimos inevitavelmente que nos chamem pelo nome certo. Foi mais ou menos isto, trocando-se os nomes por ideias, que José Peseiro garantiu na sua apresentação, quando lembrou (imagine-se lá) que ele e Lopetegui são pessoas diferentes e que, por isso mesmo, pensam de maneira diferente. E a julgar pelo FC Porto-Marítimo a velocidade de pensamento também deve ser bastante diferente, visto que José Peseiro não perdeu tempo para alterar o coração do modelo-de-jogo dos dragões. Um transplante que acabou rejeitado pela própria equipa e que podia fazer com que o cirurgião se espalhasse ao comprido, logo na primeira tentativa.

À vista desarmada estava lá o sistema (esse mesmo, o preferido desta época por Lopetegui, com duplo-pivot e tudo), a posse (essa maluca) e até o onze. Mas Peseiro mudou. E bastante. Para que não o confundam com um Julen Peseiregui qualquer, o coruchense deu dois treinos de bisturi em punho e acabou com as lateralizações. Queria ele! Mas até que o FC Porto voltasse à matriz do ano e meio anterior (ou dos últimos 6 meses se não esquecermos todas as mudanças no onze base) foram precisas uma boa dúzia de perdas de bola comprometedoras e um par de assaltos insulares à área portista (com um deles a ser travado pelo travessão da baliza de Casillas) para a equipa ir, assim que timidamente e a pouco e pouco, quase sem ninguém ver, ir retomando velhos hábitos. Sim, Peseiro fez aquilo que se pede. Qualquer portista nervoso (daqueles que acham que o Boavista é uma equipa do CNS) já sabe que a coisa andar de lado a lado não dá com nada. E depois da entrevista do presidente, então...

Bem informados que estão os portistas sobre as variações do centro de jogo, resta lembrar porque Lopetegui não abdica delas. É que enquanto a bola anda de um lado ou outro, as zonas centrais mais preenchidas pelo adversário não a cheiram - não podendo por isso roubá-la e disparar até à área contrária. Com todos os problemas ofensivos que isso causa (que não são poucos, mas que já referi tanta e tanta vez aqui no último ano e meio) a defesa do FC Porto, mesmo parecendo uma casa a arder, foi sempre pouco batida com as ideias de Julen. E, ontem, Peseiro deve se ter lembrado, umas poucas de vezes, porquê. É que enquanto o coruchense arcava com a pesada missão de devolver ao clube tudo aquilo que ele perdeu nos últimos dois anos e meio, por pouco a pressa não o fazia estampar-se na primeira curva.

É que ao pedir aos centrais para assumirem a saída, posicionando os médios onde mais dói ao adversário, e proibindo (não há melhor palavra) a lateralização, foi o próprio técnico que causou o excessivo risco que um Porto de coração na mão correu durante toda a primeira metade. Foram dezenas as perdas de bola, de um trio de médios que não está habituado a jogar de costas para o jogo, nem a segurar bolas, ao mesmo tempo que tem de pensar e decidir... entre-linhas. Uma coisa é escondermo-nos fora do bloco, onde sem oposição se pode ter bola e tempo para decidir. Outra é ter três, a quatro, cães de caça, a morder-nos os calcanhares por causa de uma redondinha. Os melhores médios do Mundo jogam aí. Mas até os melhores de Ligas como a Portuguesa devem também jogar aí. Resta saber se o FC Porto tem mesmo desses médios, ou se as perdas de bola - que deixaram o Marítimo bem confortável no jogo - ocorreram por falta de rotinas.

Assim, querendo rapidamente impor a sua marca, Peseiro correu um risco que todos os portistas queriam ver corrido. No entanto as consequências não vão os supporters arcar com elas, tendo José Peseiro de pensar duas vezes antes de pedir à equipa aquilo que ela não lhe pode dar. E se no fim o técnico lembrou que "sem treinos não se podem pedir coisas", talvez essa seja uma boa ideia para ir lembrando de fim-de-semana a fim-de-semana. É que a juntar à distância pontual e ao pouco tempo, desta Peseiro não estava à espera: há que também saber ser, durante algum tempo, Julen Peseiregui. Mais a mais porque, frente ao FC Porto, todo e qualquer adversário já não tem respeito nem medo. E por isso não recua, pressiona! Aí, as laterais dão jeito - desde que não se caia no típico pensamento a preto e branco que proíbe uma (jogar sempre pelos flancos) ou outra (jogar sempre pelo meio). O campo é para usar todo. Não vais ver lenços brancos por isso, Zé.

4 comentários:

Ace-XXI disse...

Pensei exactamente o mesmo detanto querer mudar na maneira de jogar acabou por prejudicar a equipa.

Foi o pior jogo da epoca e viu se que os jogadores nao estavam preparados para mudar o "chip".

Veremos se peseiro opta por uma evolução ou se por 1 corte radical das ideias de lope.

Marco Morais disse...

Será interessante essa gestão. O mais provável é que dê raia - já com a desvantagem. Ele vai sempre querer jogar como defende. Os jogadores é que podem não conseguir. Vamos ver como assimilam as ideias. Jogadores estranhos ao modelo davam jeito, though.

Ace-XXI disse...

Se bem me lembro dele no SCP foi ele que começou o 4—4—2 losango mas neste porto não me parece que tenha medios para isso.

Marco Morais disse...

Foi. Mas teve pré-época e pôde fazer imensas experiências até chegar àquele futebol elogiado por todos. O problema é que não sabemos sequer se esse futebol hoje chega, se a equipa o 'aceita' e se ele tem, sequer, margem de erro. É o trabalho mais difícil que me lembro, por o título de campeão estar ainda na mente. Não me parece que haja condições, até porque, como dizes e bem, não sei o plantel está talhado para isso. Mais a mais, qualquer equipa passa por um período de adaptação. Peseiro vai ter de ir ganhando, mas, por exemplo, até ao primeiro grande choque tem... dois jogos de Liga. Será preciso um milagre para que não haja percalços. Mas pelos vistos o homem entrou cheio de sorte =)