sexta-feira, janeiro 18

Sobre fins de ciclos...

Como a minha resposta ao 'post' de ontem do Jorge seria demasiado longa, prefiro dá-la sob a forma de 'post'. Desde logo, para dizer, sem rodeios, que, apesar de nunca ter apreciado o seu estilo e os despropósitos habituais do seu discurso, votei duas vezes em Luís Filipe Vieira. Em 2003, por ter entendido que era o melhor candidato (o adversário era Jaime Antunes), apresentava a melhor lista e poderia prosseguir o saneamento pós-Azevedo iniciado por Manuel Vilarinho. Em Outubro de 2006, por considerar que o seu trabalho no primeiro mandato justificava novo triénio à frente dos destinos do clube. Apesar de não haver lista concorrente, fui ao Estádio da Luz dar-lhe um voto de confiança. Estou arrependido? Não, mas é evidente que, à semelhança da maioria dos benfiquistas, não estou nada satisfeito. A política desportiva do Benfica tem resultado num fracasso evidente. Depois de um título conquistado em 2004/2005 num campeonato atípico (só nessa época uma equipa com sete derrotas e oito empates conseguiria sagrar-se campeã!), ainda houve uma carreira animadora na Liga dos Campeões de 2005/2006 e uma fase da época seguinte em que chegámos a pensar em ganhar o campeonato nacional e a Taça UEFA. Não o conseguimos e lá ficou a habitual fé "para o ano é que é". Mas, como se sabe, este ano as coisas foram muito mal preparadas: aposta num treinador mal-amado que nada ganhou na época anterior; notícia de que Karagounis já não regressaria da Grécia; confirmação da saída de Miccoli; birra e viagem para Lyon de Anderson; venda de Simão; deserção de Manuel Fernandes; camião de jogadores jovens vindo da América do Sul; empate na primeira jornada do 'nacional'; despedimento do treinador; regresso do desejado; etc. Tudo resultou, até agora, na eliminação da Taça da Liga, na incapacidade de passar aos 1/8 final da Liga dos Campeões e num atraso considerável na Liga Portuguesa. A paciência dos adeptos esgotou-se. A minha também.

Justifica-se, por isso, falar num fim de ciclo? A sua duração é determinada pela vontade dos associados, dos próprios dirigentes, mas também dos mandatos que lhes são atribuídos. Falar em final de ciclo para Luís Filipe Vieira significa clamar por eleições antecipadas. Justifica-se? Não me parece, até porque não se vislumbram alternativas. O espaço de manobra do actual presidente é muito curto e foi ele quem se colocou nessa situação. Com a saída de José Veiga e o despedimento de Fernando Santos, passou a ser ele a arcar com as culpas de tudo o que de mau pudesse acontecer. Ou estaria ele a pensar que a vinda de Camacho era a panaceia por que tanto ansiavam os benfiquistas? Apesar de não ter margem de erro, Luís Filipe Vieira ainda nem chegou a meio do mandato. Tem até Outubro de 2009 para inverter as coisas. A confiança que nele temos é cada vez menor. Hoje, só voltaria a dar-lhe o meu voto se fosse para derrotar um novo Vale e Azevedo, ou seja, seria um voto contra alguém, e não por ele. Todavia, não creio que a situação seja tão catastrófica que justifique a antecipação do acto eleitoral. Mas há que arrepiar caminho rapidamente. Nos resultados desportivos apresentados, mas também no discurso. Os benfiquistas não são estúpidos e o presidente deveria ter aprendido que deve falar o menos possível. Já deveria ter percebido que as suas supostas tiradas geniais têm-se voltado contra ele. E deveria tê-lo entendido logo quando iniciou a sua colaboração no Benfica e classificou, no início da temporada de 2001/2002, como 'maravilha' uma equipa que terminou em 4.º lugar. Mas insistiu com 'o maior clube do mundo', os 500 mil associados' (depois corrigidos para 300 mil, ainda longe de serem alcançados), e o dislate 'melhor plantel dos últimos 10 anos', que provavelmente ficará para a história como a anedota do ano. A cabeça de Luís Filipe Vieira está em jogo e se a agonia se prolonga demasiado corre o risco de ser corrido a pontapé. Desnecessariamente.

PS - Para a consciência do Pinóquio e outros adeptos semelhantes: nada disto é incompatível com um futebol dominado por esquemas ilícitos de fruta, café com leite, 'quinhentinhos' e viagens ao Brasil.

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