quinta-feira, julho 1

Com desprezo pela bola um baño dela se levou

De todas as identidades, e facetas, disponíveis, Queiroz encontrou, para a nossa selecção, a pior de todas. Contudo com a lista de desculpas intermináveis que guardou no bolso, até parece bem fácil a vida de seleccionador.


Já por demais aqui enumerei algumas das desculpas a que fomos sujeitos na preparação para o Mundial e sua fase-final. Desde o meu último post elas continuaram, confirmando a má abordagem para esta competição. Contra a Costa do Marfim era importante não perder e não perdemos. Objectivo, na mente queiroziana, conseguido, mas que denotou desde logo ao que íamos: evitar jogar futebol a (quase) todo o custo. A cautelosa entrada abrandou, e para muitos acabou mesmo, no jogo contra a Coreia do Norte. 7-0, ataque, bola e jogadores ganhos faziam antever que afinal Portugal não vinha envergonhar quem gosta de futebol. Mas à terceira continuou-se a branquear e a enganar o povo com a habitual e esfarrapada desculpa. Brasil é a maior potência e não perdendo garantia-se o apuramento, logo abordou-se o jogo com a tal cautela e duas a três jogadas seriam suficientes para, mais uma vez, enganar o povo.

Jogando para não jogar, jogando para o ponto, argumentando que a defesa era, cada vez mais, de betão, a sorte castigou e calhou-nos o pior adversário possível. Nada que assustasse Queiroz, pois a desculpa já estava preparada e na sua mente sairíamos sempre em grande. O adversário era, novamente, dos melhores e a estratégia foi, mais uma vez, tudo aquilo que Portugal não deve ser: submisso. A analogia ao Barça x Inter vem à baila, mas quem a traz esquece-se que a equipa de José Mourinho esteve reduzida a dez elementos mais de uma hora. Não sei se Queiroz achou que nós não tínhamos onze jogadores disponíveis, mas jogar daquela maneira com uma desprezo absoluto pela bola é horrendo. Porque não "copiar", mas sim, o Inter x Barça? esse sim uma lição de como se deve jogar contra o "Barcelona A".

Controlar o espaço com boa organização defensiva é extremamente importante no futebol, não o desminto. Mas é um, repito um, momento do jogo. E os outros quatro? Jogando com uma só competência ficámos à mercê daquilo que nuestros hermanos poderiam fazer. E não é que marcaram? Que surpresa. A bola, a nós, queimava-nos de tão mal que a tratávamos. Teremos assim tão pouca qualidade para jogar para o pé, em segurança, aliviando o nosso meio-campo da melhor circulação de bola feita por selecções? O que me irrita é que isso até foi feito... uma ou duas vezes em 90 minutos. Mas a desculpa já estava preparada: eles são mais fortes e têm qualidade, coisa que aos olhos do seleccionador nós não temos. Quem diz que "voltaremos com melhor equipa e melhores jogadores" não podia estar à espera de melhor.

Mas, pergunto eu: com uma abordagem daquelas ao jogo que jogador ficaria satisfeito, ao vê-lo passar-lhe ao lado? A insatisfação de Deco e Ronaldo não vem de outra coisa senão daí. Agora, depois das, também elas, bocas de Queiroz até a qualidade destes dois se vê posta em causa. Que culpa tem Ronaldo de receber a maioria das bolas a 60 metros da baliza? Que culpa tem Deco de uma estratégia que prescinde da posse de bola, aquilo em que ele é mais forte? Compreendo a frustração e duvido - embora fosse despropositado - que também eu conseguisse ficar calado.

É, para mim, a maior fatia de culpa. Uma abordagem grega que foi sempre dependente do que os outros poderiam fazer, assente na "falta de qualidade" dos nossos jogadores. Não digo que não caíssemos igual, mas as possibilidades eram infinitamente maiores. Queiroz emprenhou pelos ouvidos e foi dando razão às más línguas do apuramento. Mas essa equipa circulava a bola, assumia o jogo, criava oportunidades mais que suficientes para ganhar. Essa era a equipa que deveria ser afinada defensivamente e representar-nos no Mundial, mas ao invés fomos representados por uma anedota futebolística que se vale dos sete golos marcados e do um sofrido para argumentar com uma boa campanha.

15 comentários:

Pedro Alves Pereira disse...

Concordo a 300%!!!!

Anónimo disse...

FIL

Bom post, apenas acrescento que é a própria convocatória que nos alertou desde logo para a estratégia ultra-defensiva que aí vinha. Quando depois da saída de Nani (já de si queirosiana), opta por Rúben Amorim (?!?), a coisa ficou clara como água, isto quando já se percebia antes a necessidade de opções de construção e desiquilibrio do meio-campo para a frente (agora agravadas pela saída nebulosa de um extremo talentoso e em grande forma). Até podíamos ir por ali fora e ser os campeões do contra-ataque, mas até para isso tem que se ter matéria-prima, não alguns dos jogadores a que Queiróz deu o lugar no 11 e que dificilmente caberiam sequer na convocatória de uma Selecção Nacional.

jvl disse...

Bom post com o qual estou completamente de acordo.

Abdicar da bola e colocar um trinco sem qualquer ritmo e prescindir de 2 laterais direitos de raiz para colocar um central, só lembraria mesmo ao CQ.

Jorge Borges disse...

Não percebo. Critica-se o queirós por ter abdicado da bola. Não me parece que tenha sido bem isso que aconteceu.

No Barcelona-Inter, a postura dos italianos foi o quê? Mestria táctica do Mourinho! Será que Portugal abdicou assim tanto do jogo como o Inter?

A diferença de valores de Portugal para Espanha é bem maior que do barça para o Inter.
E mesmo assim o Mourinho abdica, não só da bola, como de jogar, e é tratado como heroí.

Francamente não percebo.

Pedro disse...

Mourinho vence, triunfa, tem um curriculo q fala por si, venceu por todo o lado por onde passou. O q custa a perceber?

Mourinho joga ao ataque e arrasa, joga à defesa e ganha á melhor equipa do mundo..tem credibilidade para por os jogadores a fazer o pino se assim o desejar pois ele vence. E isso é o q importa no final.

Comparar Mourinho com Queiroz é q custa a perceber.
:)

Gein disse...

Não percebo de onde vem este recorrente exemplo do Inter de Mourinho jogar fechado lá atrás. Fizeram-no na segunda mão, sim, onde jogaram a maior parte do jogo com menos um. Portugal jogou com menos... vários, mas a culpa não foi do árbitro.
Quando o Inter precisou de ir para cima do Barcelona, foi. Quando Portugal precisou, não foi capaz. Nem pareceu ter sido uma possibilidade pensada.

J. disse...

Tens razão até ao ponto que estamos apenas a falar das 3 melhores selecções dos respectivos continentes.
Não foi um México, Irão, Angola, Coreia do Sul, Polónia ou USA.
Se não consegues distinguir a diferença entre jogar contra estas equipas ou contra a Espanha, Costa de Marfim ou Brasil acho então que é um exercio de memória selectiva.
Apostou-se por uma estratégia. Que podes concordar ou não, mas que façe aos resultados não posso dizer que foi má de todo.

Outro exercicio de memoria selectiva, aparte da Grécia de 2004 que era defensiva é isso de comparar Portugal com o Inter do Camp nou só com base num dado estatistico que é a posse de bola.
Ao intervalo do jogo tinhamos tantas oportunidades de golo que os espanhois. E ate ao golo deles (irregular, mas isso tb nao interessa lembrar) ainda tivemos uma mais.
O inter nunca chegou á baliza do Barça.

jamsilva disse...

Os espanhóis só começaram a jogar à bola como deve de ser depois de marcar. Sabem pq? porque tivemos de avançar algo mais e obviamente apareceram os espaços.. nessa altura não marcaram mais graças ao acerto de Eduardo.

Se tivéssemos tentado algo mais desde o inicio penso que tinhamos perdido por mais, e nesta altura o Queirós estava a ser ainda mais insultado.

Nunca estamos contentes com o q temos e queremos sempre o do outro. Se se ataca é pq o que interessa é defender se defende é pq se tem que atacar.

Eu por mim continuo a dizer que estamos algo abaixo dos melhores e logo a abordagem aos "grandes jogos" tem que ser mais cuidadosa.
Apoiei e continuo a apoiar do Queirós. A sua saída, do meu ponto de vista, só faz sentido se for "promovido" a secretario técnico de todas as selecções.

Entretanto vejo que estão a ser tomadas medidas interessantes. O novo capitão da equipa é o BAlves. Tb podia ser o Simao, mas finalmente acabaram as vénias aos patrocinadores e aos senhores do marketing...

Pedro disse...

jamsilva, a grande crítica ao Queiroz foi a forma como mexeu na equipa. Não tenho qqr problema em assumir a superioridade da Espanha e jogar como jogámos, não sou daqueles q acha q temos uma grande equipa capaz de lutar olhos nos olhos com os grandes. O problema foi q mais uma vez Queiroz mostrou q não sabe mexer na equipa, tem uma leitura táctica horrível e é incapaz de motivar um grupo de trabalho. Todas as subs q fez foram más, erradas e atrofiaram o jogo da equipa. Todas. E a incapacidade de reacção é sintoma claro de falta de empatia e liderança.

Continuar a apoiar algo assim é que me faz confusão. O homem já provou que é incompetente.

pedro m disse...

Mas ó J., não te faz aflição termos menos reacção á desvantagem no marcador que o Chile a jogar com 10 contra a Espanha?
Não te faz aflição que nem nos ultimos 10 min contra o Brasil não haja a minima tentativa de arriscar mais um bocadinho, quando a Costa do Marfim tava 3-0 e tinha de ganhar 40-0?

jvl disse...

Jorge Borges,

"E mesmo assim o Mourinho abdica, não só da bola, como de jogar, e é tratado como heroí."

Por mim não, tendo-o criticado na altura.

Pedro Almeida disse...

A Holanda acabou de mostrar como se deve jogar contra o Brasil.
Pelos vistos consegue-se ganhar sem ser preciso jogar sempre com 10 homens atrás da linha da bola.
Mas o Queiróz é que percebe da coisa...

LC disse...

Pedro,

"Mourinho vence, triunfa, tem um curriculo q fala por si, venceu por todo o lado por onde passou. O q custa a perceber?"

Tu é que estás a comparar.

No que li o que se compara é o esquema táctico e é igualzinho, a diferença está nisto: Sneijder ou Lampard/Essien contra Tiago e Tiago ou Meireles bem como Drogba ou Milito contra Hugo Almeida, a diferença foi só e apenas esta.

Queiros não é um grande treinador, não ponho isso em causa porque é o que acho, mas se não querem lá o Queiros não esperem por bons resultados nos proximos 20 anos, Saiu Queiros e a planificacao das selecçoes (são varias e não só a senior) foi zero, agora estamos com a geração dos que nunca ganharam nada ou porque nao se apuravam ou porque se apuravam e era uma desgraca.

Já falei nisto aqui muitas vezes, desde que a geração Dani, Beto, Nuno Gomes, Quim etc etc ficou em 2º lugar de um Mundial nunca mais uma selecção de sub21 sub20 ou sub19 teve bons resultados, teve uma de sub16 com Vieirinha e no ano anterior a de quaresma, foi o fim da formação.

LC disse...

Pedro, só critico as 2 ultimas substituicoes, a 1ª é compreensivel para quem ve e tenta entender uma opcao.
Tentou dar mais velocidade para sair em contra ataque visto que foi assim que criamos 2 ou 3 lances mais perigosos, tentou o Ronaldo a ponta de lança na tentativa de ganhar a bola em velocodade, não funcionou, paciência... já critico por nao ter reacção à substituição que a espanha fez, que fixou um homem na area o que impediu os centrai de dobrarem os laterais com as tentativas de Villa, Iniesta e Torres.

Quando analisamos situacoes de um jogo convem perceber quem e como está a equipa do outro lado do campo.

Portugal não tem futebol para a espanha, nao tem quem saiba construir e tem um meio campo mediocre, nao entendo como querem colocar Pepe, Tiago, Meireles e Mendes a um nivel que nunca foi nem será acima da mediania, tal como o de Deco no presente que é abaixo da mediania.

Anónimo disse...

Não há tactica, estratégia ou modelo que resita à cabeça do Queirós e à sua incapacidade de entrar na cabeça dos jogadores. Qualquer - ou quase qualquer um - pode aprender a treinar tácticas, técnicas, modelos, esquemas de treino, periodizações, etc e o diabo a quatro que vem nos livros. A diferença entre um treinador «normal» e um grande treinador está na cabecinha. E isso, essa capacidade de gestão de recursos humanos, de conquista, o Queirós nunca teve, nunca terá, e demonstro sempre que foi treinador principal. Com adultos - com personalidades cheias e complexas - não dá, simplesmente. Se querem ter uma escolinha de jogadores, em vez de uma selecção ambiciosa, e potencialmente ganhadora, fiquem como estão, e parecem querer - Luis Freitas Branco incluído. Mas se querem voltar à decada passada mudem de modelo. O Queirós passa para Secretário Técnico, ou coisa que o valha, e pensa-se (não digo que se arranja porque eles não andão aí ao virar da esquina) um treinador/selecionador a sério.
Estou contigo Marco.
Alexandre