quarta-feira, julho 2

Nunca te metas com o diabo, Tim!

É certo e sabido. Se vamos para uma luta com o diabo, ou vamos bem protegidos ou então o desastre pode estar à espreita. E neste Bélgica-Estados Unidos só não esteve porque... bem, porque Tim Howard apareceu de cruz em punho e a recitar 'the power of christ compels you' a cada bola que os diabos vermelhos enviavam à sua baliza. De facto, o demónio é uma coisa chata. Começa a picar, a picar, a picar, utilizando tudo o que tem que vá de encontro às fraquezas adversárias. E por tudo o que tem, entenda-se que até danças flamencas podem ser usadas. Esta Bélgica, de facto, foi a personificação de Satanás para uns Estados Unidos que escolheram o pior 'momento do jogo' para passar mais tempo (organização defensiva). Com Witsel, Fellaini; De Bruyne, Hazard, Mertens e o surpreendente Origi, bem protegidos por um quarteto seguro e um guardião de topo, restava à equipa de Klinsmann conseguir, ao menos, proteger o seu melhor elemento das vampirizações constantes do 4x3x3 belga. Mas, sem se saber bem como, Howard levou o seu 'one man show' até ao prolongamento do mais espectacular jogo do Brasil'14 até esta altura.


Mas para se contar a história do frenético 'extra-time' que envolveu belgas e americanos, terá de ser chamada à memória a evolução destes diabos vermelhos ao longo do torneio. É que até Fellaini entrar, no primeiro jogo frente à Argélia, a Bélgica não foi mais do que um conveniente 'hype' para todo e qualquer 'hipster' do futebol. Um futebol previsível e que se tornava chato pela preocupação defensiva no 'miolo' de Wilmots. Mas assim que a pedra saiu da engrenagem (leia-se Dembélé, mas podia ser qualquer outro com aquelas características), a rotina voltou e foi-se consolidando até se chegar ao espectáculo que pudemos ver na passada terça-feira no Arena Fonte Nova (ou através da SportTV, que é a nave espacial de Freitas Lobo). O diabo perdeu o medo à táctica, ao clima, à história, e lançou-se para 38(!!) remates (27 na direcção da baliza de Howard) e 19 cantos, sinais de uma supremacia criada, também mas não só, pelo poder de decisão de Divock Origi - o excelente avançado de 19 anos do Lille.

Com ele a bola não foge e as jogadas acabam desenhadas pela inteligência. Claro que falar aqui de Hazard, De Bruyne ou Mertens será desnecessário, até porque o principal problema de Wilmots ainda reside no meio-campo. Isto porque Axel Witsel é, de certeza, o médio que lhe oferecerá melhores soluções em zonas adiantadas do terreno. Fellaini desbloqueou o sistema, mas com o antigo médio encarnado como pivot-único a Bélgica perde o seu potencial máximo nas chegadas à área. Mas bem, com tantos e tão bons... que venha o diabo e escolha! Porém, enquanto tudo isto se passava, do outro lado Howard tentava exorcizar o demónio, Bradley tentava esclarecer os 'states' e Dempsey ficava tão isolado como o Hawaii de Washington. Ainda assim, o regime alemão que Klinsmann instaurou no 'Team USA' conseguiu ser venenoso ao ponto de, também, criar situações aflitivas para Courtois, sendo que essas só assumiram decisivo protagonismo já quando Howard caiu finalmente em tentação (93'). Aí estava já esgotada a etapa regular e o prolongamento mostrava mais do mesmo. Mas, desta feita, a leitura perfeita de Marc Wilmots na inclusão de Lukaku fez ceder o que restava do 'force field' de Klinsmann, originando os dois golos belgas que teriam o condão de despertar os americanos da ilusão profunda que é ser atacado por um Lúcifer futebolístico. Era agora o diabo quem era perseguido, levando a pensar quem assistiu a tão intenso jogo (e ao golo de Julian Green) que, afinal, isto do mal, do diabo e das vítimas (e, até, da humidade), não existe em futebol. É mesmo tudo à conta de um Bem Supremo.

Bélgica-EUA, 2-1 (De Bruyne 93' e Lukaku 105'; Julian Green 107')

12 comentários:

Sérgio disse...

Fantástico texto ... o Luís tinha razão :).

Peyroteo disse...

Que jogão! Team Carapinha venceu Team USA com justiça mas aquela 2ª parte do prolongamento quase fez esquecer a superioridade dos belgas no resto do jogo.
A Bélgica vai limpar a Argentina!

Hugo disse...

Cronica ao nivel do jogo. A Belgica ganha a Argentina com um golo do Defour aos 120m

Virgílio disse...

Mt Boa crónica. Parabéns. Ou o Peyroteo faz uma semelhante, ou vou torcer para que o Maro triunfe no Mundial do Sector! :P

Marco Morais disse...

Hahaha! Obrigado, malta! =)

Anónimo disse...

Excelente Marco! Como sempre!

Muito merecido o elogio ao Origi. Devido à influência directa do Lukaku no resultado, acabou por ser um pouco esquecido, até mesmo menosprezado, mas quem viu o jogo todo não pode ignorar o tremendo potencial do puto! 19 anos! Será mesmo que ainda é jogador do Lille?

Lançando já os quartos, pois não tenho tido tempo de vir ao tasco:

Brasil-Colômbia - Os mais pressionados contra os mais moralizados. Aposto na vitória dos primeiros pois desconfio da capacidade defensiva da Colômbia contra jogadores velozes como Hulk e Neymar. Mas se o génio de James e Cuadrado voltar a aparecer...

França-Alemanha - Aposto nos francos, com muitas reservas, obviamente.

Holanda-Costa Rica - Depois de ver um jogo em que a Grécia foi a melhor equipa, mesmo 11 contra 11, não posso acreditar noutra coisa que não na vitória dos holandeses. E Robben merece. Joga muito.

Bélgica-Argentina - Bélgica! Por muitas razões, mas sobretudo porque adoraria ver um escaldante Holanda-Bélgica nas meias-finais. A defesa argentina tem estado bastante fraca, sobretudo Zabaleta e Fernandez. Acho que as rápidas transições belgas vão decidir o jogo. Mas, tal como a Colômbia, se o génio de Messi e Di Maria aparecer...

SL

Marco Morais disse...

Obrigado, Adolfo!

Vão ser sem dúvida uns excelentes quartos. E olha, não me importo de perder as apostas e ver concretizados os teus desejos. Gostava de um Bélgica-Colômbia na Final. Vão jogar contra a história, essas duas.

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

Até pode ter tido influencia para a liberdade dos avançados mas ontem o felaini pareceu-me muito apagado, tal como o witsel que nem sabia que agora era médio defensivo. deve ser das pentelheiras.

Marco Morais disse...

O dilema é esse, Tasqueiro. Witsel tem de jogar mais solto, com mais presença no ataque. É que o gajo quase nunca decide mal. Mas depois quem joga atrás dele? o Defour?!

O Fellaini, mesmo com a sua intermitência, dá jeito. Tem presença e chegada à área. Não tem é tanto critério como o Witsel.

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

Pois o defour tb não é médio defensivo, aliás nem sei o que ele é, acho que nunca ninguém soube...

J. disse...

O Defour é mau jogador e pronto.
Naquele lugar da Bélgica só vejo Dembele que está no banco e pouco joga.
Realmente, olha-se para o banco da Bélgica e estão ali muitos jogadores de alto nivel: Chadli, Januzaj, Dembele, Lukaku, Mignolet, Mirallas e ainda falta ai o Benteke.

Anónimo disse...

Pontapé de bicicleta, e golo. Excelente, Marco.