segunda-feira, julho 28

O 'tiki' ainda 'tranka'

O Dragão quer acordar e, claramente por isso, o mote da festa azul e branca que serviu para apresentar o plantel aos adeptos foi esse mesmo. Julen Lopetegui é o escolhido e, até este domingo, conseguiu criar a 'ilusión' num Tribunal que, antes da bola rolar, estava demasiado optimista enquanto assistia a uma coreografia estilo oriental que também contou com a presença do novo timoneiro do FC Porto. Mas, no entanto, o jogo encarregou-se de trazer ao de cima um 'cheiro a novo' que os (perto de) 46.000 que encheram o Estádio do Dragão não conseguiram suportar. E se a primeira-parte - que iniciou com algumas caras que não se afiguram no 'onze-ideal' - ainda teve desculpa, a segunda chegou mesmo a enervar um público que esperava pressão, trocas de bola fluídas e, claro, golos. Mas... nada disso. O 'tiki-taka' de Julen ainda tem 'trankas' e emperrou claramente na saída-de-bola (constante - o FC Porto nunca bateu um pontapé-de-baliza para o 'ar'), nas tímidas laterais e num meio-campo sem recuperação de bola, acabando por ver Fabiano a salvar a equipa de um resultado bem mais negativo.



Porém, costuma dizer-se, para todos os males há remédio, e, desde logo e também por isso, argumentos não faltarão para quem não quiser entrar já a pés juntos ao novo dragão. Desde logo, a falta de tempo será um deles. É que pedir um mini-Barça que trucide 'Saint-Étiennes' é fácil, mas trazê-lo à realidade pode empancar na falta de lucidez que os portistas entregaram ao jogo e na falta de entrosamento num momento defensivo que... ainda não existe. Fossem eles os 'antigos' (Ricardo, Quaresma, Maicon, Reyes, Danilo, Alex Sandro e Herrera, jogaram na primeira-parte, sendo que a defesa se manteve até ao fim) ou os 'novos' (Tello, Adrián, Brahimi e Casemiro jogaram na segunda), pouco se viram no meio de um adversário bem organizado e aguerrido mas que não tem o potencial do FC Porto. Daí pedir-se mais a um 'colectivo' que consegue juntar, por exemplo, Óliver e Quintero ou Tello e Brahimi. Interessante será reparar que o técnico espanhol quer que o prodígio colombiano parta de uma ala, encerrando assim a discussão sobre quem será o patrão no 'miolo'. Óliver será o homem, num desafio que não se lhe adivinha fácil.

Mas enquanto se debatem as contingências temporais e físicas, o FC Porto-St. Étienne deu já para ver que os laterais portistas não terão muita liberdade e que na saída-de-bola não passarão do meio-campo. Mais ainda, nunca o trinco portista (fosse ele Rúben Neves ou Casemiro) foi buscar a bola aos centrais. Já os alas (fossem eles Quaresma e Ricardo, ou Tello e Quintero) raramente terão a liberdade para sair da linha em busca de jogo no centro do terreno. Uma escolha algo 'vulgar' e que ainda poderá sofrer evolução mas que, para já, condicionou Danilo e Alex Sandro à pressão adversária, assim como encurtou as linhas de passe a meio do campo. Sami (jogou os primeiros 45' na posição 9) foi, assim, uma 'ilha' e Adrián López (jogou toda a segunda metade) nunca conseguiu formar, pelo menos, uma península. Mas também aqui, é certo, se invocará o tempo. Resta saber se ele servirá para os adeptos portistas pedirem uma torre maior para Lopetegui (o espanhol grava os treinos em vídeo com o auxílio da altura) ou se esta chega bem. É que a 'meia-altura' no Estádio do Dragão, deu bem para ver que os seus 4x3x3 e 3x4x3 apesar de bons teoricamente ainda precisam de imensa afinação. Use-se então à vontade o 'lugar-comum' que reza que as pré-épocas servem mesmo para isso...

FC Porto-St. Étienne, 0-0

14 comentários:

Gonçalo disse...

no próximo fds temos mais e espero ver mais equipa e uma ideia de jogo mais consolidada. uma coisa é certa, não me lembro de ver um treinador com tanta liberdade e autonomia desde Mourinho. é preciso continuar a preparar esta equipa longe dos adeptos porque no dragão não há paciencia e é preciso dar tempo a treinador e jogadores. o ruben neves é muito muito muito interessante. espero que o saibam aproveitar.

Marco Morais disse...

Gostei do discurso do Lopetegui, Gonçalo. Aliás este treinador cai-me fácil no goto por ser corajoso. No entanto, para a proposta, o Porto precisa também de mais soluções tácticas do que as que mostrou. Tentei focar o post nisso mas, obviamente, os novos jogos trarão mais novidades.

É que por agora o tempo pode ser desculpa para tudo e assim sendo nada de conclusivo se dirá. No entanto eu estou atento e não assobiei nem uma vez (nem o vou fazer), nem achei o ambiente do Dragão nefasto para a equipa. É claro que se aquilo se repetir, vai ser impossível controlar a malta.

Como disse, sobram-me as ideias nas saídas de bola ou nas transições defensivas - até agora vulgares para aquilo que a equipa promete. Mas até aí se pode dizer que Lopetegui não se quer já mostrar tendo em conta o playoff e as possíveis observações adversárias. Como vês neste momento há desculpa para tudo, daí eu não estar nem optimista, nem pessimista.

Abraço!

zorg disse...

Se uma coisa eu aprendi com o reinado de Quique Flores no Benfica, é que o diabo está na operacionalização.

O Lopetegui parece-me um tipo com uma ideia de jogo interessante, agora é preciso perceber se a ocnsegue colocar no campo e se tem jogadores para isso.

zorg disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J. disse...

Sim, mas o Porto começa a ter um pequeno problema de abundância...
do meio campo para a frente então.

E ainda vem o Angel, o Marcano, o Andrés e o treinador diz q não vao ficar por aqui.

Não acham que este Porto está a correr o risco de se descaracterizar?

Marco Morais disse...

Descaracterizar como? trocar argentinos, ou brasileiros, por espanhóis?!

Zorg, o Quique Flores? Que raio de ideia era a dele?! ;)

Gonçalo disse...

Marco, eu também estou optimista e estou preparado para esperar mais uns jogos antes de começar a malhar no homem. gosto dos conceitos e da ideia de jogo e a personagem também colhe simpatia. no entanto, já não falta quase nada para começar a doer e continuamos com o plantel desequilibrado e não vejo a coisa a melhorar. esta semana vai ser fundamental e os jogos com os bifes vão deixar antever uma ideia mais clara do que vai ser esta nova versão do porto.

zorg disse...

Marco, no discurso não andava muito longe do Lopetegui. O problema foi depois o conseguir colocar o discurso em práctica.

Mas não me entendas mal, eu acho que numa equipa onde há tantas mudanças em relação ao ano passado, é natural que as coisas demorem algum tempo a engrenar. O Lopetegui tem um discurso com ideias e o porto fez algumas contratações interessantes (e outras, nem por isso). Parece-me é que também se criou um entusiasmo em relação a este Porto que me parece um pouco precipitado e que pode jogar contra o próprio Porto, se as coisas não começarem logo a ser entusiasmastes desde o primeiro minuto.

Marco Morais disse...

Eu compreendi Zorg ;) a parte da descaracterização era para o João. Foi um fim de ciclo, considero normal. Assim como é normal os treinadores apostarem em mercados da sua confiança. Mourinho fá-lo, Benítez também o fez no Liverpool e Guardiola não anda longe de o fazer - assim ele pudesse ter Busi, Iniesta, Messi... ficou com o Thiago e fala-se no Valdés.

Já em relação ao Quique... bem-falante mas pouco mais. ideias futebolísticas poucas. Lopetegui é diferente, diz que acredita na pressão-alta, no toque e na circulação mas depois vais ao estádio e apanhas com uma saída-de-bola do século XX e com passes básicos falhados em catadupa. Defende ao homem as bolas paradas também. É de desconfiar, ou então está a guardar-se para o playoff ;)

No entanto posso dizer que na primeira-parte houve 5 minutos em que o Porto demonstrou que pode ser um quebra-cabeças para o adversário. Bola de um lado ao outro, toda a equipa no meio-campo adversário, passou por todos os jogadores a uma velocidade que deixou os franceses apardalados. Gostei! É disso que Lopetegui fala, mas não teve seguimento.

Venham os próximos jogos.

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

Ainda é muito cedo é preciso deixar a poeira assentar e depois logo se vê, mas uma coisa é certa, o espanhol já ficou a saber que o tribunal do dragão não perdoa e não vai aceitar as m*rdas que aconteceram o ano passado.

J. disse...

A descaracterização vai de encontro a um plantel que em 2 anos vai ser praticamente todo novo.
E acho que Mourinho, Guardiola ou Benitez náo fizeram nada parecido aquilo que Lopetegui vai fazer este ano com o Porto.

Marco Morais disse...

Danilo, Alex Sandro, Maicon, Reyes, Quaresma, Herrera, Jackson (para já), Fabiano, Carlos Eduardo... tudo gente que pode lutar para entrar no onze.

Lembras-te da primeira época de Mourinho no Chelsea? E até no Porto...

Não vou por aí, não acho grave. Tem é de haver qualidade - e não me estou a referir aos jogadores...

J. disse...

O Mourinho trouxe 15 jogadores na primeira época no Chelsea? ou até no Porto?
Não me parece...

Marco Morais disse...

Continuo a não querer hiperbolizar a importância da renovação do plantel. Não vai ser por aí.

Faz a comparação com o Sporting de há dois anos, com o do LJ e este. Foi renovado e fez melhor, porque houve mais competência. É só isso que se pede. Haja vitórias e nenhum balneário se divide. Mas para elas acontecerem...