quinta-feira, julho 10

Quando a fé troçou do Brasil

A derrocada da canarinha foi mesmo quem 'ganhou' o campeonato do Mundo. Não há volta a dar-lhe. Domingo a Espanha vai encontrar um sucessor oficial, mas esta Copa teve um vencedor antecipado no resultado mais improvável da história. Mas enquanto a maioria do país futebolístico, que tanto torceu como depois 'xingou', vai carpindo as mágoas de tão triste sina, a outra parcela vai acordando. Despertando lentamente da dualidade que é assentar os seus sonhos em castelos de areia, num futebol que não funciona mais. A arrogância, amigos, a arrogância tem o seu fim quando a vergonha chega, e, às vezes, não há melhor remédio para se acordar para a realidade. É que 'ser' só 'porque sim' não chega. E o tempo dos heróis individuais já lá vai...

Mas, dizíamos, o resultado mais desfavorável para o Brasil é aquele que mais favorável lhe pode vir a ser. Confusos?! É que acordar para a dualidade que Belo Horizonte viveu na terça-feira é o primeiro passo para se sair do erro. Vejamos: princípio do jogo: canta-se o hino como se o país fosse um só. Ao intervalo: a unidade já desvaneceu há muito, bastando para isso a adversidade. Ao fim, bem... ao fim, já um dos jogadores era insultado, numa das demonstrações mais baixas que o futebol tem memória, já o técnico era vaiado e já o futebol, o jogo, o desporto não prestava. Bastou uma desvantagem de dois golos criar uma de cinco para ser a onda que levou a casa assente na areia. E que é isso de querer ser campeão do Mundo sem manter o plano na adversidade?

Hoje diz-se, à boca cheia, que o Brasil não podia ser campeão do Mundo. Mas a verdade é que podia. Isto se fosse capaz de se transcender, de se manter vivo na adversidade. De ir buscar ideia onde só houve vazio. Para isso o plano tinha de ser o mais importante, teria de ser encarnado pelos jogadores ao ponto de um resultado negativo gerado por uma sucessão de erros não provocar a dúvida. Mas onde estava a alma, a fé, quando a razão germânica cilindrou o escrete? É que a fé, ao contrário do que se apregoa, não é mais que sabedoria. Quando sabemos que vai acontecer, é porque temos fortes indícios de que assim vai ser, ou seja, sabemos COMO fazê-lo. Quando não sabemos, a negação é grande e ficamos à deriva  preferindo acreditar no milagre. Mas o Brasil, meus caros, o Brasil não procura sabedoria e só tem falsa fé. Até Jesus (o Cristo) dizia que para se ser curado é preciso acreditar na Verdade sendo que os seus milagres só foram espantosos para quem não acreditava. E o Brasil já acredita agora que tem de mudar? Que tem de saber mais sobre o jogo? Que tem de beber da ideia nova? É que não há lugar melhor para a transcendência nascer do que na adversidade. Aproveita país irmão, o futebol precisa de ti!

10 comentários:

Iniesta de Mundet disse...

Estive a ver a excelente entrevista a Paul Bretner, feita no ano passado e a determinada altura fala do turning point do futebol Alemão, ou seja quando é que na Alemanha perceberam que se tinham de modernizar e deixar de olhar para o seu umbigo. Segundo ele foi o péssimo Euro 2004 (apesar dos sinais já virem de trás). Pode ser que este 7-1 seja o turning point do futebol brasileiro (ou não, visto que a cultura pragmática alemã está a anos luz da brasileira).

Deixo o link:
https://www.youtube.com/watch?v=H1Sp12LdUh8

Anónimo disse...

O Brasil foi sempre uma equipa de individualidades e penso até que muito pouca gente (minimamente atenta) acreditava que pudesse levar o ceptro.

A derrota só espantou pelo resultado.

Que seja então esse ponto de viragem para que possamos voltar a ver um Brasil fantasista, criativo e forte no colectivo.

Marco Morais disse...

Já vi a entrevista, Iniesta. É excelente e, de resto, aplica-se também a Portugal.

Acho que no post faltou elucidar a semelhança com o caso português. Só o 'país irmão' não deve chegar. Mas fica aqui a ressalva.

Luís, a questão foi sempre saber até que ponto um real colectivo apareceria. A Alemanha deixou imensas dúvidas e, para mim, só começou a jogar bem quando Mustafi se lesionou e quando Löw abandonou a ideia de juntar Götze e Özil na frente.

Lahm não serve para trinco! digo isto até sem respeito algum porque quem pensa que Guardiola é o principal responsável pelo bom futebol da Alemanha. Com Busquets no Bayern ele não tinha perdido a Champions. Vão ver quantas recuperações de bola fez Lahm a trinco, para ficarem com uma ideia.

Khedira faz um jogo soberbo e o meio-campo ficou de classe mundial com ele, Schweini e Kroos. Acho que nem o próprio Khedira sabia que podia jogar tanto...

A partir daqui a derrota do Brasil, como será, provavelmente, a da Argentina era uma questão de apanharem com a Alemanha. Mas uma Final é uma Final e a Argentina está bem melhor. Contingências...

Marco Morais disse...

* por quem pensa que Guardiola é...

J. disse...

Excelente post a entrar tb em heresia. :- E estou totalmente de acordo.
Aliás, até é um pouco surpreendente que este Brasil não dê mais futebolisticamente falando.
Tens 200 milhões de habitantes que vivem futebol com uma devoção impar neste mundo mundial.
No ano passado, estava eu num ônibus na Bahia a fazer o troço Itapuã-Salvador e ao olhar para o passeio maritimo vi pelo menos 20 campos de bola. Todos eles cheios de gente. Não vi por lá o Talisca, mas pensei cá para mim, é impossivel que um país assim não tenha pela menos 20 fenomenos a sair cada ano.

Marco Morais disse...

Obrigado, Jota. O problema, penso, é a arrogância de quem pensa não precisar de saber mais sobre o jogo. Já aconteceu com a Inglaterra, com a Alemanha e agora com o Brasil.

Quando alguém perceber como juntar aquele talento todo a uma organização de topo, meu Deus! E a resposta tem de andar algo afastada do que se faz na Europa. São condições únicas, mentalidades únicas e talento único. Seria fantástico encontrar um cérebro, ou vários, que concebessem uma ideia de jogo para o escrete. E tem de ser alguém de lá, que perceba as necessidades, as fraquezas para manter a identidade longe de os adversários a poderem explorar.

Terá de ter bola, muita bola, isso é certo!

J. disse...

Depois tb há outras questões que importam esclarecer.
Qtos treinadores de futebol o brasil exportou nos ultimos anos?
Qtos fenómenos da bola o Brasil exportou para os mercados da Ucrania ou Russia?
Qtos fenomenos brasileiros acabaram a carreira aos 30 sem que saibamos mto bem pq? Kaka, Robinho, Ronaldinho, Adriano,...

Marco Morais disse...

Essas e outras respostas no próximo post do J. Não percam!

Tasqueiro Ultra-Copos disse...

Só espero que os alemães cilindrem os argentinos para que abram os olhos como os brasileiros. Desculpem-me lá mas que futebol de bosta que andam a praticar neste mundial, parecem a grécia do euro 2004. Detesto a alemanha mas têm claramente a melhor equipa desta competição e nem sequer praticam um futebol feio. Quem não consegue ver isso ou o admite só pode querer estar a levar o óbvio para outras questões mais pessoais.

LDP disse...

J, Kaká esteve lesionado cronicamente quase 3 anos. Nesta época que passou foi o melhor do Milan. Num péssimo Milan, é verdade...mas sem ele teriam descido de divisão. No escrete faltava Kaká neste Mundial como peso pesado no balneário. Vencedor, humilde, experiente...

Robinho jogou bom futebol durante 1 ou 2 anos...há 6 épocas atrás. É um insulto comparar Robinho com Kaká ou Ronaldinho...talvez com o Denilson, o do Bétis.

Ronaldinho? Um génio preguiçoso, nada mais. Deixou de jogar a alto nível porque não estava para se chatear com os treinos á chuva.

Adriano também deixou de jogar porque quis. Putas e vinho verde. Em Itália, durante anos, faltava a um treino em véspera de jogo e ainda assim davam-lhe a titularidade..."pode ser que sinta que precisamos dele e se comporte como um atleta", alegavam...semanas depois faltava a novo treino (ou ia treinar ainda bêbado e sem dormir) e não era convocado..."Se calhar, se lhe dermos um castigo percebe que errou..."...depois continuava a faltar a treinos consecutivamente...várias épocas em várias equipas...Foi ele que desistiu do futebol...e nem nunca foi um fenómeno por aí além.

Pronto, agora já sabes porquê:)