terça-feira, abril 12

Voando sobre um ninho de abutres

Está mais que visto que tudo o FC Porto precisa é aquilo que tem tido. Quanto mais não seja para se perceber que o caminho tem de ser outro. Sim, às vezes precisamos de subir uma montanha só para percebermos que não precisávamos, para nada, de a subir. Depois daquilo, pensamos, vai correr tudo às direitas - afinal de contas esfalfei-me para a subir e Deus não tem outro remédio se não dar-me aquilo que eu quero. José Peseiro, por sinal, pensa, mais ou menos, assim. Tudo nos acontece, desabafa a cada derrota. E lá ficam os portistas à espera que esse tudo deixe de acontecer.

Claro que pelo meio a culpa é do árbitro. E tanto que o FC Porto precisava de ficar igual aos rivais, no discurso após as constantes derrotas que o seu karma lhes oferecia para mudarem de rumo. Se o árbitro, pois bem, marcasse um penálti aqui, ou ali, talvez o FC Porto tivesse discernimento e capacidade para controlar um jogo que seja... sem sofrer qualquer golo. Talvez. Mas enquanto isso, e enquanto os árbitros não querem as couves, talvez, também, fosse bom ao FC Porto arranjar maneira de tornar as balizas dos adversários maiores, enquanto encolhe a sua. É que isto de entrar a saber que, de qualquer maneira e feitio, se vai sofrer, não augura nada de bom para esta pré-época.

Uma pré-época que, recorde-se, foi iniciada (e oferecida de bandeja) pelo candidato Pinto da Costa. Pinto da Costa, sabemos, candidata-se contra Pinto da Costa - o mesmo que achou por bem prescindir de um bicampeão para reclamar louros para a sua estrutura. AVB e VP nada tiveram que ver com um sucesso inteiramente merecido por parte de quem foi buscar os Hulks, os James e os Falcoes. Estava na cara que, como se lhe viu, e ouviu, dizer: Com Hulk e James qualquer um é treinador. Por isso é que precisamos, agora, de Lopetegui. 

E o pobre do Julen - que só teve o mal de não ser assim tão bom para ganhar a Liga ao serviço de um FC Porto com matéria-prima para tal - tem que levar até com a culpa da sua escolha. Afinal de contas, o basco, numa altura qualquer da sua entrevista de emprego, deve ter garantido a Jorge Nuno que ele seria o homem certo para o lugar. Não há que pensar mais, interiorizou PC. Seguindo-se um ano e meio em que os adeptos portistas até já não levavam a mal que as (constantes) notícias que dão conta que JJ, mais mês menos mês, estará na Invicta a demonstrar a sua sagaz superioridade assim como a condição inevitável - que é tê-lo - para se ser campeão em Portugal. Um dia riem-se de ele ter ajoelhado, outro dia - à falta de melhor - já não se importavam de o ter no banco. O que uns quantos títulos não fazem.

Fazem isso e mais. Para nada importam contas e comissões, salários e abutres. Até suspeições, bem fundadas, de corrupção passaram ao lado. O que importava era ganhar e a banda seguia a tocar. Estava visto que o amor incondicional era o mesmo que levou a que depois da entrevista de Pinto da Costa - vista como essencial na inversão de rumo - bastasse uma derrota de pré-época para que caísse, de novo, o Bolhão, a Trindade, Cedofeita, a Lapa e os Clérigos. Afinal, mas ninguém percebeu que a época já acabou?

Deixem, assim, José Peseiro trabalhar em paz. Talvez, em paz, o coruchense tenha tempo para aproximar os jogadores e, ao menos, se vejam três passes seguidos ao pé da área dos adversários enquanto alguém se lembra de a meter lá para dentro. Já sabemos que as coisas dos títulos o têm assustado e que o único que ganhou até foi levando de vencido o FC Porto. Esperam agora os adeptos que ele se lembre que está do outro lado e que não seja acusado de infiltrado como foram Artur Jorge ou Marco Silva. Até nisso ainda vamos ver os portistas imitarem os seus rivais - enquanto os adeptos de Sporting e Benfica se vão deslocando em bom número para apoiarem a sua equipa na recta final. Um caos que ao novo Joker de Suicide Squad lhe agradaria imenso. Afinal de contas, estabilidade é coisa de meninos. E numa Liga, cada vez mais decidida a três, a (des)união do FC Porto dará os seus frutos. Contudo só se poderá fazer reset lá para maio. Depois se verá a tão louvada habilidade presidencial para escolher treinadores. É que se JJ não ganhou com um Porto forte, e o Sporting não ganhou com um Benfica, ou com um FC Porto, forte(s), também o FC Porto não ganha com um Sporting e um Benfica fortes. E estando Guardiola fora do baralho, vai ser muito difícil que alguém possa empatar, sequer, como Mourinho no seu primeiro jogo oficial de 2002/2003. Aí a vassoura do Baía já daria jeito (porque agora é cedo, não é?).

4 comentários:

Peyroteo disse...

Ainda não percebi porque razão Pinto da Costa arriscou tanto ao escolher o seleccionador Julen depois de Paulo Fonseca. Terá pensado: "epá, tive muito sucesso com os treinadores arrogantes (Mourinho, AVB), este espanhol ainda é mais... Vamos ganhar tudo"
Se com o plantel da epoca passada nao ganharam nada, só com muito boa vontade se poderia achar que ganhariam nesta. Em suma, duas épocas perdidas e recomeçar que depende agora da capacidade de Pinto da Costa se reinventar. Noutros tempos, ninguém duvidaria. Agora, poucos acreditam. É o mais surpreendente disto tudo: uma onda de contestação à PdC que nunca pensei testemunhar.

Marco Morais disse...

O amor pelos agentes desportivos é sempre condicional. Depende de vitórias. PC não é excepção.

Ace-XXI disse...

Concordo Marco, lembro bem que já em 2000 PDC sofreu contestação pela falta de resultados mas depois tudo mudou com Mourinho. Não acredito que ele aguente mais uma época sem títulos.

Em relação a esta época vai ser um longo definhar até ao final, a final da taça será o primeiro jogo da,próxima época para os jogadores.

Marco Morais disse...

Eu compreendi o discurso de PC, mas o Porto sofre para blindar, como antigamente, o balneário. A incapacidade para retirar qualquer coisa deste hiato está a ser gritante. Já Rui Vitória, de quem toda a gente desconfiava, esteve em situação parecida, e o Benfica, sem ninguém estar à espera, deu a volta por cima. Isto revela muita coisa, e a superação e transcendência na adversidade é uma delas. Nem SAD, nem treinador, nem jogadores... nem adeptos.