quarta-feira, julho 1

O adeus a um tetra-Lucho

O adeus do comandante do tetra foi confirmado ontem pelo FCP à CMVM. Um negócio de 18 milhões que pode ascender aos 24, dependendo dos resultados desportivos do Marselha. Bom negócio, mau negócio, tudo dependendo das perspectivas. haverá sempre boas e más, mas como sempre o clube resistirá à venda dos seus melhores jogadores e saberá encontrar alternativas à altura.

Mais importante do que o negócio em si é, para mim, recordar um jogador que coincidiu com a melhoria dos resultados desportivos depois de um ano para esquecer.

Chegou recomendado por Victor Fernandez que nunca chegou a orientá-lo. Desde essa altura que os portistas deitavam o olho ao Clarin e aos jogos do River para saber se El Comandante tinha estofo. A primeira vez que o vi jogar chegou para perceber do que se tratava. O horário tardio de um Argentina x Brasil obrigava-me a convencer o dono do bar que frequentava (o Luís deve conhecer, hehe) a deixar-me ver o jogo. Lucho apareceu, elegante, sempre certo no passe e com uma condição fisica que impressionava. Jogou quase sempre encostado à direita e esteve nos três golos da Argentina. "Temos jogador" digo eu ao fim do jogo, mas o homem já dormia com a cabeça encostada a um pilar e não me ouviu. Não faria mal nenhum pois teve mais de quatro anos para lhe reconhecer capacidades.

Lucho pegou de estaca no meio campo de Co Adriaanse, vestindo a camisola 8 que simbolizava para o holandês o médio box-to-box que deambulava ora por entre o ataque, ora por entre a defesa. A elegância e inteligência de movimentos, os pés de veludo, o passe geométrico e as repentinas chegadas à área para facturar deliciaram, desde logo os portistas. Havia novo ídolo no Dragão. Tão ídolo, que só os adversários estranharam quando Co Adriaanse lhe entregou a braçadeira de capitão.

As boas exibições valeram a Lucho a continuidade na selecção argentina. Tema polémico, o vírus FIFA, exigia a Lucho uma condição fisica impressionante e o ritmo de box-to-box foi-se desvanescendo. Ainda com Jesualdo, o argentino jogou nessa posição várias partidas (Assunção, Lucho, Anderson) mas com a lesão do astro brasileiro, El Comandante foi obrigado a ser "um jogador de campo inteiro" (Jesualdo), agora era 10, o patrão dos movimentos ofensivos portistas.

Sempre em ritmo mais lento, Lucho foi exímio (talvez dos melhores do mundo nesse capítulo) no último passe. Era fantástica a geometria que envolvia nas jogadas e a forma como as decidia, que é para mim o capítulo mais importante num jogador.

Deixa saudades, pela sua forma de jogar, por ter sido (por mérito próprio) um símbolo deste novo tetra-Porto, mas não é insubstituível. Talvez a sua saída se reflicta na prestação dos dragões na Champions, mas no campeonato não me parece que se altere algo muito significativo. Será conveniente substitui-lo bem, mas os portistas terão que ser pacientes pois Luchos não andam por aí aos molhos e conhecendo Jesualdo espero que, no principio, ele entregue este lugar a um dos que já se encontra de dragão ao peito. Tomás Costa segue na linha da frente, mas será obrigatória, até pela ilusão nos adeptos, uma contratação de qualidade.

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