terça-feira, outubro 30

A vantagem como soporífero

É absolutamente engraçado quando a falta de constância é uma constante. Engraçado para os trocadilhos, para os leitores e escritores, mas não para quem sofre do mal referido. Já vai longe a análise ao FC Porto desde que Vítor Pereira lhe tomou o leme. É costume atribuir-se ao treinador a responsabilidade pelo comportamento da equipa. É um costume certo, esse, mas que não encontra grande paralelo no futebol dos dragões. É que os bons momentos de futebol oscilam com um adormecimento invulgar. A pressão oscila com a contenção e no meio de tudo não se percebe bem qual é a palavra de ordem. Quando confrontado, o técnico espinhense ou não sabe, ou se irrita ou dá a responsabilidade aos jogadores mais experientes enquanto que a tira aos jogadores mais novos (James, Atsu). Já eu, só queria perceber porque é o Porto só joga futebol quando o resultado não lhe convém.

Os dragões foram, neste último domingo, a um campo apelidado de 'maldito' encontrar uma equipa orientada por um dos novos treinadores da moda. Marco Silva é novo, tem facilidade de discurso e não fala de árbitros nem antes nem depois do jogo, o que chamou de sobremaneira a atenção da comunicação social. Não conhecendo o Estoril, olhei o jogo com o interesse adicional de seguir o 'modelo' de jogo do seu treinador. Pensei que sendo ele da 'nova geração' talvez as ideias seriam também novas, e sendo este um jogo contra um grande, que melhor oportunidade para elas serem testadas?

Antes do jogo, Marco Silva havia chamado a minha atenção pelo elogio frequente na imprensa e pela 'flash' depois do jogo com o Sporting. A frase 'não comento arbitragens' é boa e é um método a seguir. Oceano, por exemplo, também o usa e por isso tem um ponto em comum com o jovem timoneiro dos canarinhos. Outra coisa em comum entre os dois é o facto de passarem o jogo a 'barafustar' com o árbitro, o que revela pelo menos uma pontinha (isto para ser simpático) de hipocrisia. Essa foi obviamente a primeira coisa que reparei no treinador do Estoril.

Mas isto, por si só, nunca seria motivo de texto, nem parágrafo, algum. A hipocrisia é tão recorrente no futebol que já nem se repara nela. O que realmente me entristece é olhar para o jogo do Estoril contra o Porto e não ver uma única (!) jogada com pés e cabeça. Vi, sim, todos os jogadores atrás da linha da bola a defenderem como guerreiros. Uma 'ocupação de espaços' também ela muita querida da nossa imprensa, mas que em mim não provoca efeito algum de satisfação. Qual é a lógica de se dizer que a equipa ocupa bem os espaços quando defende com todos os homens? Estão lá todos! Que espaço há para não ocupar? Depois quando se ganha a bola que hipótese há de encontrar alguém para definir rumo à jogada?

Marco Silva, de novo não traz nada. É, quando muito, um treinador da 'velha guarda', ou então um treinador da moda... vintage.

Já o FC Porto fez o que lhe competia. Foi talvez dos jogos, em campos reduzidos contra equipas fechadas, que melhor vi fazer aos dragões de Vítor Pereira. Nessas condições a 'mosca tsé tsé' picou sempre aos dragões, mas desta vez os jogadores entraram a todo o gás na Amoreira. Os campeões nacionais não contavam era com o golo madrugador do Estoril, numa das únicas descidas dos canarinhos. Teria de ser num livre, ou num canto, pois jogadas dignas desse nome não contei uma ao Estoril-Praia. A desvantagem é algo normal em futebol e a este Porto até lhe dá jeito. Não deixa dormir e mantém os jogadores focados no objectivo. O golo madrugador do Estoril deu jeito a um Porto que no decorrer de todo o jogo teve boas situações para marcar. Os dragões viraram o jogo a meia-hora do final quebrando a resistência de uma equipa que teve o tempo todo dependente de duas jogadas mais acertadas dos azuis e brancos. Depois... depois, a sonolência. Por parte do FC Porto já se sabe o que contar com as vantagens. Contenção, mais contenção, toque para o lado, mais toque para o lado: frete total. Para animar a contenda, Vítor Pereira puxa ainda de um central para se bater contra um Estoril que nem dois passes seguidos conseguia fazer.

Já é recorrente. Tudo bem feito em desvantagem, tudo mal feito em vantagem. Pegue-se, por exemplo, no jogo contra o Dínamo Kiev. Vantagem, empate, vantagem, empate, vantagem. A  falta de constância é uma constante deste Porto. Até nas declarações do seu técnico, até nas suas ideias para dentro do campo. Ao jogador experiente nada diz porque ele sabe tudo, ao jogador jovem tudo corrige porque ele (imagino eu) não sabe nada. A equipa pressiona em desvantagem, mas contém com vantagem. Em desvantagem, a equipa circula no campo todo, mas, quando na frente do marcador, toca para o lado com imensa displicência. De onde vem isto? Se vem de Vítor Pereira nem ele parece saber, mas que é ele o responsável, disso, não tenhamos dúvidas.

11 comentários:

Anónimo disse...

Bom post, Marco.

VP já percebeu uma coisa: com a equipa que tem, e em especial com James e Jackson (muito bom), ganha 90% dos jogos nacionais.

Por isso, procura mais a contenção de que falas, em vantagem, claro. Não vai fazer contenção em desvantagem.

O objectivo de VP não passa, para já, pelo campeonato, mas sim pela LC. É aí que ele quer a equipa a vencer, e isso tem acontecido.

Uma vitória fora (mesmo contra equipa fraca), e duas vitórias em casa, contra uma equipa de MILHÕES e outra boa.

Nesta fase da época podes mesmo contar com um FCP mais comedido (mas eficaz). Em Dezembro, voltamos a falar.

Marco Morais disse...

A mim preocupa-me, Luís.

Não vejo aquela garra, aquele controle aquela... identidade. E depois aborreço-me porque oiço o nosso treinador falar disso como se ele soubesse o que é.

Tem a maior das sortes, pois os jogadores e a sua vontade própria fazem com que ele ganhe com uma ideia de futebol que nem é bem uma ideia.

A este, vou gostar de ver noutro clube. O discurso inútil e utópico irrita-me profundamente. 'Estamos talhados para coisas muito grandes'.

A jogar assim? Não deve viver neste Mundo. Pensa que tudo lhe vai cair por obra e graça do Espírito Santo.

Agora repara tu, se o Porto antes de dar 5 ao Benfica fazia o mesmo. Repara se o Porto antes de dar 5 ao Spartak fazia o mesmo. Ou então antes de dar 5 ao Villareal. O que me irrita, é que este Porto também tem jogadores para isso. Mas a mensagem... essa, é de conforto, porque 'somos talhados para coisas grandes'. Tá bem =)

Anónimo disse...

Eu percebo a tua desconfiança. Tenho lá um parecido.

O plantel "obriga-o" a vencer 90% dos jogos, por aí custa-nos o mérito.

Eu vejo poucos jogos do FCP mas, ou tenho azar, ou raramente me calham estes jogos de que falas.

Normalmente vejo, precisamente, essa identidade, essa garra.

Não vejo um grande futebol mas vejo um futebol razoável.

Estou mesmo muito curioso sobre a carreira europeia de VP, este ano. Para já, temos o pragmatismo, os 9 pontos e o dinheiro (e algum bom futebol, em especial contra os franceses).

Marco Morais disse...

Isso tem a ver com o meu grau de exigência. Toda esta 'perseguição' ao VP vem de um ponto.

O Porto deve-se afirmar a nível europeu. Não deve contentar-se com os tais 90% dos jogos. Não deve basear-se no campeonato pouco competitivo que temos.

Mas para dar esse salto qualitativo é preciso um futebol que não surja a espaços. Este Porto pode perfeitamente comparar-se ao de Jesualdo. Mas nunca ganhará um jogo europeu como o de AVB fazia.

Percebo quem se sinta satisfeito, porque este Porto está ao nível exigido. Ganha, está em primeiro e na Europa aproveitou o calendário. Cumpriu. Ir aos oitavos não me surpreende. Eu tenho o defeito de querer mais ou, pelo menos, de querer futebol para isso.

Todas as críticas que lhe faço vão nesse sentido.

Peyroteo disse...

Mas achas que o Porto pode chegar longe na Europa (passar dos Quartos-de-final), ou melhor, tem plantel para isso, principalmente a nível defensivo?

Tasqueiro Emigrante disse...

Danilo,Maicon,Otamendi,Alex

Penso que existem equipas mais fracas a nivel defensivo.

Carlos disse...

Peyroteo,
Só depende do sorteio.
Poder, pode...

Peyroteo disse...

Pois, só com um sorteio muito favorável é que se pode esperar uma equipa portuguesa nas meias finais da Champions.

Marco Morais disse...

Acho, sinceramente, acho. Se bem que poder passar, passar ou não, é totalmente relativo. O que eu peço não é isso. E o que eu peço, o Porto não tem dado. Quero que jogue para passar. Que crie expectativas nos adeptos e atemorize os adversários. Depois se se passa se não, terá que se ver. É a Champions, amigo, nunca se sabe. =)

Paulo Ferreira, RCarvalho, JCosta, Nuno Valente. Que dirias deles antes de ganharem algo?

Peyroteo disse...

Pois, mas isso era com o Mourinho :)

Marco Morais disse...

E vês-me a 'cascar' em alguém que não seja o treinador?

Nem todos são Mourinhos, é verdade. Mas se nem todos são Mourinhos, também lhes fica mal pensar que o são. =)