terça-feira, março 5

Falta de pressão deu liderança à beira-mar plantada

Nunca uma deslocação a Alvalade levava na bagagem uma superioridade moral tão evidente. Mas a ida ao reduto mais complicado para os dragões não teve 'rosas' e nem o mau momento leonino deixou de confirmar Alvalade como pesadelo para o dragão. Faltou intensidade para sublinhar uma superioridade que de nada serviu. Houve domínio mas a explanação da ideia em campo ficou sem pernas, num jogo onde um Sporting atabalhoado no ataque até acabou por estar mais perto da vitória.

Que tudo tem um 'Lado B', não é novidade. A receita dada aos entusiastas do jogo de posse, ainda que por eles defendida até à morte com recurso a todas as estatísticas e à tal superioridade moral que o plano confere, não resulta sempre. O jogo de domingo, frente ao Sporting em Alvalade, é exemplo disso mesmo. Se não se controlarem as transições do adversário - que surgem invariavelmente pela falta de tacto no último passe - os riscos são de tal maneira elevados, que qualquer equipa pode criar mossa.

O Sporting, fustigado por um momento imperdoável, soube equilibrar a contenda fazendo uso da estratégia à qual já tinham recorrido, com sucesso, Paulo Bento e Ricardo Sá Pinto. Jesualdo voltou a carregar na tecla da organização defensiva forçando e procurando o erro do FC Porto para criar perigo. E de tal maneira assim foi, que estivesse esse modelo mais trabalhado e o campeão nacional teria voltado para a Invicta sem um ponto sequer. Isto porque para uma defesa tão subida, para tanta gente em manobra ofensiva, a intensidade na pressão evita os males do tal jogo de posse. Se ela for inexistente qualquer 'boa' ocupação de espaços e passe para a frente por parte da equipa adversária se torna um suplício.

O jogo de Jesualdo é legítimo, que não se tenha dúvidas disso. A médio e longo prazo será de menos para as tão famosas exigências do leão, mas até lá precisa-se de resultados positivos e esses, como se sabe, surgem a partir da defesa. Nada a apontar à equipa do Sporting, que precisava de uma estratégia que a fizesse sair do espírito derrotista em que se encontra. Não lhe saiu o brinde mas a fava ficou guardada para quem 'pressionou com os olhos'. A falta de Moutinho e Mangala não podem explicar tudo em relação à facilidade das saídas leoninas para o ataque. Já Jackson não pode ser o único elemento perigoso no tridente ofensivo. A Izmailov falta-lhe 'um para um'  e James, neste momento, não consegue fintar sequer... uma árvore. Varela faz uma diagonal por jogo e aparece cada vez mais longe da zona de finalização. Assim a responsabilidade faz peso nos ombros de um colombiano que é muito bom mas não substitui toda uma frente de ataque e todo um processo ofensivo.

Com missão facilitada ficou o Benfica que pode ter feito das tormentas... boa esperança. Em tão longínqua luta a dois não se pode negar a importância emocional que têm estes dois pontos de vantagem. Em Aveiro a equipa não falhou, apesar da surpresa no futebol positivo do Beira-Mar. Mais uma vez a estatística aparece a fazer das suas com Costinha a reclamar atenção para a evolução no jogo da sua equipa. Foi um colectivo que tentou ser adulto, positivo e que ainda fez sonhar o antigo 'trinco' do FC Porto. O volume de jogo foi bom mas embateu nas tentativas de finalização dos seus avançados que revelaram imensa falta de jeito para o mais importante. Incólume a isso passou um Benfica que é um justo líder até ao momento, até por ter feito em Alvalade aquilo que o FC Porto quis mas não conseguiu.

9 comentários:

Tasqueiro Emigrante disse...

"Incólume a isso passou um Benfica que é um justo líder até ao momento, até por ter feito em Alvalade aquilo que o FC Porto quis mas não conseguiu."


Faltou um Rojo a dar-nos um autogolo mas fora isso acho que nada está perdido para o Porto.
Basta ganhar os jogos todos.

Marco Morais disse...

Tasqueiro,

O Benfica na segunda parte do derby imprimiu aquilo que o Porto nunca conseguiu. Forçou e conseguiu. Já, no domingo, o Porto jogou para a estatística e para a vitória moral que não dá pontos.

Obviamente nada está perdido.

Tasqueiro Emigrante disse...

Marco,

o benfica só começou a jogar a partir do momento em que o Bolo de Arroz foi expulso.

até aí o Sporting tinha sido a melhor equipa em campo.

zorg disse...

Acho que este porto é muito competente na forma como defende colectivamente e asfixia o adversário, permitindo-lhe ganhar a bola rapidamente.

Julgo que o calcanhar de Aquiles é a falta de criatividade colectiva em termos ofensivos. Já contra o Málaga tinha sido assim: muita bola, muita vontade mas muito poucas, ou nenhumas oportunidades de golo.

Muitas vezes esse problema é resolvido pela qualidade de Jackson, que de facto não precisa de muito para inventar um golo (veja-se o segundo golo contra o Rio Ave), mas quando isto não acontece, parece haver alguma falta de imaginação.

Marco Morais disse...

Tasqueiro,

Nós nem com mais um jogámos. E ninguém tem mais pena que eu.

Zorg,

Concordo absolutamente. Se houver linha defensiva do adversário subida (como o Benfica utiliza) o Porto é capaz de criar imenso perigo. Se não houver, falta 'um para um'. O tal rasgo individual que está a faltar a Izma e ao James.

A tal competência de não deixar sair o adversário faltou em Alvalade. O Porto jogou sem intensidade alguma. Parece-me que fica a dever uma possível vitória a isso.

Anónimo disse...

O empate seria sempre igual à vitória do SCP, do ponto de vista do Benfica. Isto porque 2 pontos serão escassos como o seriam 3, quando os encarnados forem ao Dragão.

O Benfica é um líder justíssimo mas , como referes, ainda falta muito jogo e ninguém pode festejar seja o que for.

Mr. Shankly disse...

Acho que a justiça da liderança do Benfica é muito relativa. Se fosse o Porto à frente também seria justo, ou se fossem empatados. Não vejo que uma das equipas tenha sido melhor que a outra até ao momento.

Está tudo em aberto, vamos ver quem aguenta melhor o stress e o desgaste, e já agora o peso de um FCP-SLB à penúltima jornada que provavelmente será decisivo. O peso deste jogo vai começar a fazer-se sentir uns 3 ou 4 jogos antes.

zorg disse...

A diferença pontual não significa nada neste momento.

Há um factor importante que pode revelar-se decisivo: até agora, o Benfica tem tido uma carga de jogos substancialmente superior à do Porto, desde que o ano começou. A situação vai começar agora a equilibrar e julgo que o desgaste que até agora se tem feito sentir essencialmnte no Benfica, começará também a fazer-se sentir no Porto.

Eu continuo a achar que, sendo as duas equipas muito equilibradas, há uma ligeira vantagem teórica do Benfica em termos de profundidade do plantel. Espero que se confirme essa vantagem e que esse factor seja decisivo no campeonato.

Marco Morais disse...

De facto as duas equipas registam uma performance muito idêntica. Referi que o Benfica é um justo líder porque na realidade vai mesmo dois pontos à frente. Obviamente que se o Porto fosse dois pontos a frente também ele era um justo líder. O que é facto é que é o Benfica que vai na frente. La Palice não o diria melhor.

Que é demasiado cedo para anunciar um campeão, também é verdade. No ano passado, em confronto directo, o Porto passou para a frente e nunca mais de lá saiu. Tratava-se de um confronto directo e isso pesou imenso.

Não que esta vantagem possa não pesar. Aliás, para bem do FC Porto é bom que pese sob pena de não se pensar que certos resultados estão assegurados e que caem do céu. Alvalade foi o aviso que o chip da Liga dos Campeões não é assim tão diferente do campeonato.

Que na LC sejam precisos 90' de extrema intensidade é uma coisa. Que no campeonato não seja preciso intensidade é outra. Como o Porto vai gerir isso? Não sei. O que sei é que vai ser esta questão a decidir o campeonato, porque não me parece que, desta vez, o Benfica o ofereça. E se o Porto não tiver pernas para ele...