sexta-feira, fevereiro 19

Vemo-nos no Dragão?

Tivesse o Porto perdido em Dortmund, por 2-0, em qualquer ano que não o de 2016 e o assunto pareceria estar arrumado. Mas entre o presente deste 19 de fevereiro, e o passado, não muito distante, que envolveu uma espécie de embate com o maior dos colossos germânicos - que terminou da pior forma para os portistas - há realmente algo que suaviza a derrota naquela que foi a 1.ª parte da eliminatória. Suaviza, dizia, porque há expectativas que se criam. E essas, em muito boa parte, vão arranjar força para se manter vivas na vitória portista frente ao Bayern Munique (3-1), aquela que dá uma réstia de esperança de que os gigantes desta Europa podem tombar no Dragão por diferenças de dois golos. E como casos desses são raríssimos mas possíveis, foi ver o FC Porto - qual Maccabi Haifa quando vem à Invicta - não a viver, mas a sobreviver, não a agir, mas a reagir, para segurar uma... desvantagem que lhe permitisse sonhar.


A contingência, essa maluca, colocou Peseiro a mexer em todos os sectores e levou os dragões a terem medo da própria sombra. O horripilante - para o adversário - Westfallenstadion tem esse condão, assim como tem um Dortmund poderoso no posicionamento defensivo, na agressividade e, por consequência, na dividida. A somar a isso, a excessiva circulação de bola germânica iria sempre empurrar para trás uma equipa com Layún a central, com Varela mais central do que lateral e com Marega mais lateral do que ala. Depois, a insuficiência defensiva de Rúben Neves levou também com um tampão (Sérgio Oliveira), para que num registo semelhante ao dos últimos 20 minutos na Luz (equipa recolhida nos últimos 40 metros) os azuis e brancos pudessem ver em 1.ª mão a tal circulação por fora do Dortmund e resistir às raras movimentações interiores do conjunto de Tuchel.

Mas, ironia do destino, o FC Porto de organização defensiva não iria sobreviver à primeira bola parada do Borussia, partindo assim, para o resto de um interminável jogo, não só em desvantagem como a pensar, quer no desastre de Munique, quer em manter a diferença o mais reduzida possível. Assim, o dragão atarantado teve mesmo de arranjar outro dia para sonhar, porque ontem, no Signal Iduna Park, a realidade não o deixava ganhar as primeiras, nem as segundas bolas, não o deixava pressionar alto, nem dividir o jogo, como não o deixou (pela maior parte do jogo) passar a barreira dos... três passes seguidos.


Contudo, o menor dos males acabou por ser conseguido. Com tanta alteração (em maior número do que aquelas que seriam forçadas) acabou por ser algo surpreendente que os portistas estabilizassem em organização defensiva. Se quanto ao ataque estamos conversados até ao justo 2-0 (71'), o sistema defensivo do FC Porto acabou por provar que o Borussia tem o seu quê de lopeteguiano. É que para um impressionante domínio da percentagem de posse-de-bola - algo extremamente útil quando se consegue uma vantagem aos aos 6' - o ataque dos germânicos é extremamente previsível (exceptuando o segundo golo tem uma só oportunidade de bola corrida). Só assim se explica que Kagawa - homem destacado para jogar entre-linhas - só tenha aparecido a espaços - um pouco como o tal jogo-interior (ou falta dele) que Tuchel não pede como norma.

O favor do colega alemão a Peseiro acabou por deixar antever que o FC Porto podia, e deveria, ter feito mais. Claro que o perigo de subir e destapar uma autobahn para Aubameyang (a tal previsível solução na transição) era enorme, e talvez esse mesmo perigo assente no medo (sempre presente), e não na confiança, tenha ajudado a relembrar o velho problema portista quando defronta um colosso. Um problema bem português aliás, aquele de não conseguir arranjar tranquilidade para, com bola, ser fiel ao seu futebol. Com tanta tremideira sempre que se faziam coisas normais - como atrasar para um 'central' (quando se fala nos centrais deste Porto temos de lhes arranjar aspas) - era impossível de imaginar que as (coisas) difíceis (segurar o máximo de tempo possível a bola no meio-campo ofensivo e ir arranjando brechas para tentar um golo milionário) seriam realmente feitas. Sem surpresa assim não foi - tirando uma ou duas excepções já depois do golo de Reus (com Suk, por exemplo, a ter o golo nos pés).

O FC Porto trouxe, assim, da Alemanha o já referido menor dos males. Sendo que o 1-0 não era possível por razões de justiça universal (a defesa portista não tinha assim tanta organização e o ataque do Dortmund não é assim tão parco em soluções como alguns podem querer entender destes dois últimos textos), o 2-0 abre uma janela de esperança para aqueles que acham que este Borussia não é o papão que todos pintam por aí. Mais ainda, jogando fora será difícil que o FC Porto não condicione a sua forma de jogar, metendo a nu algumas das suas deficiências. Um forcing que, porém, terá sempre o fantasma do golo fora para transcender. Assim, por mais que as tais deficiências do Dortmund sejam expostas, torna-se difícil falar neste parágrafo na hipótese de uma vitória clara e sem espinhas frente a um dos mais poderosos conjuntos alemães. É que para essa acontecer tem de se (realmente) acreditar nela, antes de se reproduzir a ideia em campo. E essa crença vai ser a maior dificuldade de Peseiro e dos seus jogadores, para uma 2.ª mão que, olhando para os rostos de confiança germânicos, se prevê bastante interessante. 

Dortmund-Porto, 2-0 (Piszczek 6' e Reus 71')

21 comentários:

Anónimo disse...

Muito difícil virar o resultado sem sofrer qualquer golo.

Mas é perfeitamente possível o FCP marcar um golo na primeira parte. Pelo menos capacidade para vencer, tem.

Olhando para a equipa do FCP continuo com aquela sensação do "mas quem é esta gente?"

O futebol português tornou se num entreposto e a competitividade faz-se apenas entre os grandes e Braga, é apenas nos últimos dois anos o Sporting conseguiu ficar praticamente no mesmo nível.

O resto de facto é muito fraco. Quando se chega a um nível mais apertado as dificuldades são imensas.

Obviamente que a constante desvalorização das competições não ajuda mas quando temos como modelo máximo um treinador que insiste em desprezar estes jogos europeus, está tudo dito.

É contra estas equipas que se exige mais, porque são estas equipas que obrigam a mais.

No seu melhor, as três equipas portuguesas podem passar. Assim, é difícil passar mais do que uma.

Peyroteo disse...

Muito sinceramente, dentro do praticamente impossível, acredito mais num 2-1 do Sporting na Alemanha do que o Porto reverter está eliminatória. Porto e Sporting falharam com as duas melhores equipas da prova. Não há milagres...

LDP disse...

Mas enquanto o porto não pôde jogar com os titulares, o sporting não quis jogar com os titulares.

Não sei onde é que o Leverkusen é mais forte do que o Nápoles, o Tottenham ou o United. Mas deve ser uma forma de psicologia invertida tão na moda no Lumiar ultimamente.

J. disse...

Vamos lá ver, falar do segundo ou terceiro classificado alemão e depois dizer no confronto directo com equipas portuguesesas, que estas não tem o nivel e que em Portugal não há competitividade....
Só para que conste, não estamos a falar do quinto classificado do campeonato turco ou do sexto classificado da Liga Russa.

O normal é que aconteca o que aconteceu ontem. Claro que não são imbativeis, num dia bom, tanto SPorting e Porto podem passar estas equipas, mas isso não significa que se encare estas eliminatorias como estando perfeitamente ao nosso alcance.

Marco Morais disse...

Luís,

O nosso futebol é, e sempre foi, um futebol de borrados. Houve algumas excepções, graças a Deus, mas tem sido isto na Europa.

Peyroteo,

Não vi o jogo do Sporting, nem conheço este Leverkusen. Mas não me admiraria que o Sporting marcasse, pelo menos, o golo fora no BayArena.

Aproveitando para responder também ao LDP, reforço não compreender a estratégia de Jesus. Já o exacerbar no valor dos adversários, isso ele fez sempre.

Acho que tinha tudo a ganhar ao apostar nos melhores onzes para a Europa. Talvez arranjasse forma de não sofrer tanto com os Boavistas da nossa Liga. Talvez.

Concluindo, o Porto terá de fazer um jogo perfeito. E como nem a equipa, nem o modelo, são perfeitos, a tarefa é praticamente impossível. Ainda assim, terá de lavar a imagem e deixar a melhor ideia de si em campo - até porque me parece que este Dortmund é mais 'fácil' de anular do que os do Klopp.

Mr. Shankly disse...

O Bayer é fortíssimo. Mas nós já sabemos disto há algum tempo. Alguns perceberam ontem. Era giro ver o que se disse o ano passado.

Como disse JJ, tudo é possível: "Eu já ganhei em Leverkusen".
Mas ontem foi "O Ruben Semedo perdeu".

Pedro disse...

É tudo uma questão de mentalidade. Nem 8 nem 80. O Bayer, este e o do ano passado, estão perfeitamente ao alcance do SLB. Por outro lado jogar com eles não é o mesmo que jogar com Aroucas.

Na terça o SLB estava a jogar contra o Zénit e malta atrás de mim a exigir que o SLB fosse para cima dos russos como se estivesse a jogar contra um Nacional qualquer na Luz.

Continuo a defender que há, claramente, 3/4 clubes que de facto estão num patamar MUITO ACIMA dos demais: Real, Barça, Bayern e, talvez, este PSG. O City pelo plantel que tem devia estar neste grupo mas não está.

Os restantes, o custo absurdo dos seus planteis não representa a real diferença de qualidade entre planteis. Sim, podem ser mais fortes do que nós, não temos obrigação de os vencer mas temos a obrigação de os olhar olhos nos olhos, sem medos.

Ace-XXI disse...

Não consegui ver o jogo do Porto mas pelo resumo e tendo em consideração o 11 até nem parecem ter estado muito mal.

O SCP ontem não perdeu por culpa das poupanças mas porque o bayer fez 1 jogo fantástico, é verdade que com Adrien e slimani tinhamos mais hipóteses mas mesmo assim seria muito difícil.

Anónimo disse...

Peyroteo, se o Sporting defrontou uma das duas melhores equipas, menos sentido faz não ter apostado mais neste jogo. Poderia poupar mais nas próximas jornadas, visto que os adversários seriam mais fracos.

Contra os fracos, jogam os melhores; contra os melhores, jogam os piores. Faz sentido.

Mas o pior nem sequer é meter 2 ou 3 ou 4 no banco. O pior é a preparação mental que o homem faz antes dos jogos, desvalorizando a competição, prevendo o falhanço. Os jogadores sentem tudo isso. E a exigência baixa. E o clube não passa da cepa torta.

Claro que tendo JJ uma perspectiva individualista da coisa (está-se cagando para o Clube, obviamente), não quer construir absolutamente nada. O legado dele poderia ser incomparavelmente maior. Mas o homem pensa pequeno, pronto.

Keegan disse...

Aquando do sorteio, e em conversa com amigos meus do SCP e FCP, emiti opinião que o Bayer seria pior para o SCP do que o Dortmund para o FCP. Tenho visto jogos dos dois e apesar do Dortmund ter, a nível individual, melhores jogadores acho o coletivo do Bayer mais forte. Têm o mesmo treinador, com processos mais assimilados e metem mais pressão e intensidade no jogo. As equipas portuguesas não têm "pedal" para eles. O SLB jogou o ano passado e se o segundo jogo na Luz não teve história, o SLB já estava praticamente arredado e o JJ com o discurso do campeonato, o jogo em Leverkussen perdemos 3-1 e fomos completamente massacrados, não tanto do ponto de vista das oportunidades mas, à semelhança do jogo de ontem, do inviabilizar do jogo do adversário.
O FCP com tantas debilidades para construir o onze perde mas acho que a eliminatória não está perdida, difícil mas não perdida. Já o SCP está eliminado, tanto no jogo jogado como nas opções que JJ fará tendo em perspectiva o jogo de Guimarães.

J. disse...

Por acaso, estar em primeiro com 3 pontos de vantagem sobre o segundo a 11 jornadas do fim, dever ser certamente pensar pequeno e não construir absolutamente nada no clube.
Faria mais sentido, apostar na Liga Europa agora, onde temos muitas mais probabilidades de vencer.
Isso sim é que era não se estar a "cagar" para o clube e ser altamente responsavel.
Enfim...

Pedro disse...

O problema é que se deixas de estar em primeiro e cortas a meta em segundou ou terceiro e depois olhas e pensas "foi para isto que abdiquei de tudo o resto?"

LDP disse...

Pedro, estás enganado. Eles não abdicam de nada porque têm um plantel fortíssimo e de qualidades infinitamente superiores ao do Benfica.

Eles só abdicariam de qualquer coisa se andassem a jogar sem Luisão, Lisandro, Sálvio, Fejsa, Semedo e meio Gaitán.

Peyroteo disse...

Tirando o salvio nenhum teria lugar no plantel do Sporting. Meio gaitan não conta. Só se fossem dois terços :)

Vamos lá ter calma porque as eliminatórias estão a meio. Supostamente o Sporting ficou fora da europa depois da derrota na Albânia mas ainda lá está. É muito difícil mas não impossível...

J. disse...


Desse grupo de jogadores, o Salvio de dois anos atrás era titular de caras, mas talvez não o fosse agora.Há que ver como recuperou da lesão.
No seu lugar, está a jogar o João Mário e o Gelson como segunda opção. Estamos bem nessa posição.

E agora que temos para ai 4 centrais lesionados, talvez o Lisandro fosse titular tb. O resto não obviamente.




Peyroteo disse...

Lixo futebolístico :)

Mr. Shankly disse...

"E agora que temos para ai 4 centrais lesionados, talvez o Lisandro fosse titular tb. O resto não obviamente."
Muito bom.

"Contra os fracos, jogam os melhores; contra os melhores, jogam os piores. Faz sentido."
Penso que foi precisamente contra o Bayer (fora) que Jesus poupou jogadores porque a seguir íamos receber o Arouca.

Eu percebo o JJ: o Sporting não tem rabo para as duas cadeiras, na minha opinião. Mas gostava de saber a opinião do Pey-"que plantel!"-roteo.

Pedro disse...

O Pey-"o Schaars é melhor que o Witsel"-roteo neste momento concorda com tudo o que JJ diz. Se o catedrático disser que o SLB é melhor que o scp ele concorda. Enquanto forem líderes ele diz amén a tudo. :)

Já o conhecemos.

Peyroteo disse...

Mas o JJ poupou dois jogadores, nem percebo o que querem dizer com isso. Mas já disse aqui, ter uma grande plantel não quer dizer que se tirem onze e se coloque outros onze.
O Sporting tem plantel suficiente para ir longe na liga europa. Com ou sem poupanças.
Pedro "o meu ídolo é o vale e Azevedo"

Peyroteo disse...

Não se esqueçam que o Sporting normalmente defronta, em Portugal, mais do que onze jogadores. E alguns adversários às vezes jogam com 22. E temo que isso possa voltar a acontecer muito em breve, na cidade que odeia o IKEA. As notícias são preocupantes... Ou seja, é preciso dar 200% no campeonato

Mr. Shankly disse...

Já cá faltava. Estava a ficar preocupado.