quinta-feira, maio 8

Eriksson: versão III

Agora que, apesar de um comunicado do Benfica assegurar que Rui Costa é apenas jogador, já sabemos que se deslocou a Inglaterra para, juntamente com Luís Filipe Vieira e Paulo Gonçalves, conversar com Sven Goran Eriksson, vou relembrar, de forma sucinta, as duas primeiras passagens do melhor treinador que vi orientar o Benfica.

Eriksson chegou em 1982, numa fase de grande turbulência. O presidente do clube, Fernando Martins, era muito contestado, havendo várias demissões nos órgãos sociais. A segunda época com Lajos Baroti tinha corrido mal e, depois de prometer Menotti (campeão do mundo com a Argentina em 1978), Fernando Martins apareceu com um "miúdo" de trinta e poucos anos, com um chapéu da Macieira. Gerou-se enorme insatisfação, com toda a gente a desconfiar da escolha daquele desconhecido. Já se sabe como foi: 1982/83 foi uma temporada quase perfeita, com claro triunfo no campeonato nacional, conquista da Taça de Portugal (1-0, numa final, frente ao FC Porto, disputada nas Antas, no início da época seguinte) e derrota na final da Taça UEFA, diante do Anderlecht. O Benfica tinha uma equipa fabulosa (Bento, Veloso, Bastos Lopes, Humberto Coelho, Álvaro, Carlos Manuel, Shéu, Alves, Chalana, Nené, Filipovic, Diamantino, Stromberg), mas ninguém foi parco em elogios ao novo treinador. Em 1983/84, novo título, eliminação na Taça em Alvalade e frente ao Liverpool na Taça dos Campeões. Nova época muito positiva. A experiência com um nórdico desconhecido correu tão bem que houve quem quisesse repeti-la em 1987, numa versão dinamarquesa (Ebbe Skovdahl). Infelizmente, com resultados desastrosos.


Depois de uma estada de cinco anos em Itália, Eriksson regressou. Na primeira temporada (1989/90), apesar de ter chegado a jogar um futebol espantoso, que lhe permitiu disputar a final da Taça dos Campeões Europeus, o Benfica não conseguiu ser campeão. Era a época em que funcionavam, na sua plenitude, as manobras menos lícitas do FC Porto. No entanto, em 1990/91, o Benfica voltou a ser campeão, depois de ganhar 2-0 nas Antas (o jogo dos dois golos de César Brito). Na Europa, as coisas correram pior, com uma precoce eliminação frente à Roma. Finalmente, em 1991/92, vê-se a braços com uma equipa cheia de miúdos. Depois de lhe prometerem a dupla de 'centrais' Ricardo Gomes/Geraldão, teve de jogar com Rui Bento/Paulo Madeira. Aproveitou para lançar Rui Costa e manter a aposta em Paulo Sousa. Apesar de alguns feitos de registo (3-1 ao Arsenal, em Londres, por exemplo) e de ter dado luta ao FC Porto na luta pelo título, o Benfica acaba por ceder, depois de uma derrota na Luz (2-3), num jogo com uma vergonhosa arbitragem de Fortunato Azevedo. Também na Taça as coisas não foram famosas, com eliminação em casa, nas meias-finais, diante do Boavista, onde jogava João Pinto. Eriksson sofreu a contestação habitual de quem perde e havia mesmo quem afirmasse que já não era a mesma pessoa que cá tinha estado uns anos antes.

Passaram 16 anos desde a sua (segunda partida). Eriksson granjeou entretanto um enorme prestígio, sendo tido como um dos grandes treinadores de futebol. Que Eriksson teremos agora, caso se confirme a sua contratação? É este o treinador que mais interessaria ao Benfica? Tem a vantagem de ser querido entre os benfiquistas, mas, como vimos com Camacho, isso não é sinónimo de sucesso. Terá uma margem de erro que não teria um treinador português, o que também não deixa de ser bom. Mas terá a mesma vontade de ganhar que tinha em 1982 ou limitar-se-á, aos 60 anos, a vir gozar uma espécie de pré-reforma dourada? Acredito que Eriksson queira ganhar, mas não deixo de ter algumas reservas. Espero que infundadas. Uma coisa terão de ter os benfiquistas: alguma paciência. E isso não é nada fácil...

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